Foi importante ser ministro, se foi...
A discussão fica interessante quando percebemos o logro das energias renováveis.
Clara Ferreira Alves, in EXPRESSO
À saída do número cosmopolita que foi a conferência do nosso Primeiro na Universidade de Columbia, NY, sobre renováveis e variáveis, o ex-ministro Manuel Pinho, à saída da primeira fila, deu uma mini-entrevista à Lusa; (...) Dá-nos conta de como "foi importante ser ministro cinco anos mas agora estou a adorar a minha vida em Nova Iorque". E continua por aí: o gabinete na Universidade de Columbia, onde é professor visitante, ou "visiting professor" em inglês técnico, tem uma ótima vista do oitavo andar sobre a zona norte de Manhattan.
(…)
Juro que acreditei que o ex-ministro tinha mesmo sido convidado dada a sua proverbial esperteza em renováveis. E de renováveis também não percebo nada, pago-as, com o resto dos parolos, na fatura da EDP. De resto, toda a gente acha que são muito boas para a saúde e o ambiente. O pior é que, curiosa de uns tantos comentários, fui pesquisar na net, e pesquisando fui parar a uns blogues onde a discussão sobre renováveis e o seu custo me pareceu cientificamente descrita por gente que percebia do assunto; e onde fiquei a saber como é que o ex-ministro foi parar a NY. A EDP pagou.
No "Jornal de Negócios online", uma notícia assinada por Helena Garrido deu-nos conta disso a 13 de agosto de 2010. A EDP fez uma doação de montante desconhecido à SIPA (School of International and Public Affairs) de Columbia, e criou um mestrado, um semestre em NY, uma cidade adorável, e um semestre no ISCTE em Lisboa, menos adorável, mas encantadora para estrangeiros e com vinho a menos de 20 dólares, já que falamos nisso.
Longe de mim comparar o meu desconhecimento do tema das renováveis com o know-how de Pinho nesta súbita especialidade sua, mas fiquei a saber, ao cabo de horas de pesquisa, que a fatura desta nova forma de energia nos custa agora 700 milhões de euros. A ERSE, Entidade Reguladora Serviços Energéticos, descobriu uma coisa chamado défice tarifário, mais de 2000 milhões de euros, que tem de ser abatido em 2010 em 129 milhões de euros (notícia da TSF online). Neste défice tarifário, que ninguém sabe o que é exatamente, incluem-se os "custos das renováveis". E como vamos pagar o défice? Mais um euro nas nossas faturas em 2010; multiplicado por milhões é adorável. O preço do petróleo diminuiu e continuamos a pagar a eletricidade cara. O consumo também diminuiu, adivinhem porquê: não há dinheiro dos parolos para pagar a fatura.
A discussão fica interessante quando percebemos o logro das renováveis. Não como conceito mas modo de aplicação em Portugal. Descobri que a EDP Renováveis vende à EDP com lucro fabuloso e a EDP vende ao consumidor com mais lucro. Descobri que essa energia custa três a seis cêntimos a ser produzida e nós pagamos 17 cêntimos. Descobri que a EDP ultrapassou o máximo razoável de potência eólica instalada e que a exportação rendeu menos do que o custo; e descobri que o sr. primeiro-ministro, outro especialista de renováveis, instalou em S. Bento uma T. Urban, turbina eólica do INETI, que desde novembro de 2007 teria produzido 8 KW por hora, o que daria para alimentar uma lâmpada de poupança. Verdade ou mentira? A discussão é científica e mereceria ser investigada. Para sabermos quem são e o que são a chamada "máfia do vento" (promotores das eólicas, governantes, autarcas que recebem uma comissão) como lhes chama um bloguer com formação na área e que é a favor das eólicas.
Vou argumentar à Durão Barroso (não haverá aeroporto enquanto houver uma criança com fome): enquanto houver um velho que morra de frio no inverno, não deveria haver mestrados em NY nem Sócrates em inglês técnico. Temos de ter hábitos frugais. E cortar no vinho.
(Texto publicado na revista Única de 2 de outubro de 2010. Nota: Imagens e texto negrito colocados por mim)
2 comentários:
Uma turbina eólica que em 3 anos forneceu energia suficiente para uma lâmpada de poupança?!
E as tramóias da EDP...
Nós não temos diamantes nem petróleo mas estes gajos todos encontraram, de facto, uma mina e uma jazida.
Este texto da Clara está excelente. E com as tuas fotos fica muito bem ilustrado.
:))****
E ainda ela não falou do administrador da ERSE - aquela coisa que ninguém sabe para que serve, além de dar mais um mega-lugar a um mega-boy, a "regular" mais de 230.000 euros/ano (fora os aconchegos do carro e motorista e do cartão dourado...).
Ainda vou falar disto um dia destes...
:))**
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