quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A condição de «Funcionário Público»

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Carta de um funcionário público ao Ministro das Finanças

Exmo. Sr. Ministro,

Vou alterar a minha condição de funcionário público, passando à qualidade de empresa em nome individual (como os taxistas), ou de uma firma do tipo "Jumentos & Consultores Associados Lda." e, em vez de vencimento, passo a receber contra factura, emitida no fim de cada mês. Ganha o ministro, ganho eu… e o país que se lixe!

Ora vejamos: -ganha o ministro das Finanças porque:
-Fica com um funcionário público a menos.
-Poupa no que teria que pagar a uma empresa externa para avaliar o meu desempenho profissional.
-Ganha um trabalhador mais produtivo, porque a iniciativa privada é, por definição, mais produtiva que o funcionalismo público.
-Fica com menos um trabalhador, potencial grevista e reivindicador que, por muito que trabalhe, será sempre considerado um mandrião.



E ganho eu porque:
-Deixo de pagar na totalidade todos os impostos a que um funcionário público está obrigado, e bem, diga-se, pois passo a considerar o salário mínimo para efeitos fiscais e de segurança social.
-Vou comprar fraldas, champôs, papel higiénico, fairy, skip e uma infinidade de outros produtos à Makro, que me emite uma factura com a designação genérica de 'artigos de limpeza', pelo que contam como custos para a empresa.
- Deixo de ter subsídio de almoço, mas todas as refeições passam a ser consideradas despesa da firma.
- Já posso arranjar uma residência em Espanha para comprar carro a metade do preço, ou compro um BMW em leasing em nome da firma e lanço as facturas do combustível e de manutenção na contabilidade da empresa.
- Promovo a senhora das limpezas lá de casa a auxiliar de limpeza da firma.
-E se, no fim, ainda tiver que pagar impostos, não pago, porque três anos depois o Senhor Ministro adopta um perdão fiscal. Nessa ocasião vou ao banco onde tinha depositada a quantia destinada a impostos, fico com os juros e dou o resto à DGCI.



Mas ainda ganho mais:
-Em vez de pagar contribuições para a CNP, faço aplicações financeiras e obtenho benefícios fiscais, se é que ainda tenho IRS para pagar.
-Se tiver filhos na universidade, eles terão isenção de propinas e direito à bolsa máxima (equivalente ao salário mínimo) e, se morar longe da universidade, ainda podem beneficiar de um subsídio adicional para alojamento; com essas quantias compro-lhes um carro que, tal como o outro, será adquirido em nome da firma, assim como manutenções e combustíveis.
-Se tiver um divórcio litigioso, as prestações familiares a que o tribunal me condenar já não serão deduzidas directamente na fonte; recebo o ordenado por inteiro e só pago se me apetecer!...

Como se pode ver, só teria a ganhar e já podia dizer em público o nome da minha profissão sem parecer uma palavra obscena. Afinal, em Portugal ter prejuízo é uma bênção de Deus!

Atentamente
A. Bivar de Sousa

(recebida por e-mail)

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1 comentário:

Anónimo disse...

Nos tempos que correm, julgo que muitos empresários gostariam de ser funcionários públicos, mesmo com as perdas atuais no vencimento.