segunda-feira, 22 de abril de 2013

Reinhart & Rogoff - A viciação dos dados que levou à falsa e criminosa teoria da austeridade!

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A Depressão do Excel

Pode um erro numa folha de cálculo ter destruído quase por completo a economia do Ocidente?

Nesta era da informação, os erros matemáticos podem levar ao desastre.    A sonda "Mars Orbiter" da NASA desintegrou-se no espaço porque os engenheiros se esqueceram de fazer a conversão em unidades métricas;    o plano da Baleia de Londres do JPMorgan Chase deu errado em parte porque quem fez esses modelos dividiu por uma soma em vez de dividir por uma média.    De modo que, foi um erro de codificação no Excel que destruiu as economias do mundo ocidental?  

Esta é a história até agora:    no início de 2010, dois economistas de Harvard, Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, divulgaram um artigo, Growth in a time of debt  (Crescimento em época de endividamento), que pretendia identificar um limiar crítico, um ponto de viragem para a dívida pública.    Assim que a dívida for superior a 90% do produto interno bruto, segundo eles, o crescimento económico cairá a pique.

Reinhart e Rogoff tinham credibilidade graças a um livro anterior admirado em todo o mundo sobre a história das crises financeiras, e o momento escolhido foi o perfeito.    O artigo foi publicado logo após a Grécia ter entrado em crise e apelava directamente ao desejo de muitos políticos de passar do estímulo à austeridade.    Em consequência, o artigo tornou-se imediatamente  famoso.   Seguramente era, e é, a análise económica mais influente nos últimos anos.

O facto é que Reinhart e Rogoff  alcançaram rapidamente um status quase sagrado entre os autoproclamados guardiões da responsabilidade fiscal;   a afirmação sobre o ponto de viragem foi considerada não como uma hipótese controversa, mas como um facto inquestionável.    Por exemplo, um editorial do The Washington Post de princípios deste ano advertia contra una possível descida da margem face ao déficit, porque estamos “perigosamente próximos da marca dos 90% que os economistas consideram uma ameaça para o crescimento económico sustentável”.    Corrijamos a expressão:   “os economistas não, “alguns economistas”, e nem sequer já “alguns economistas", a realidade é que são já muitos os economistas, igualmente com boas credenciais,  os que contradizem energicamente.


A elevada dívida do Japão é uma consequência da crise, não a sua causa

A verdade é que o texto de Reinhart e Rogoff enfrentou críticas consideráveis desde o início e a controvérsia aumentou ao longo do tempo.    Acabado de ser publicado o artigo, muitos economistas observaram que uma correlação negativa entre a dívida e o comportamento económico não significa necessariamente que a dívida elevada  é a causa do crescimento lento.    Poderia muito bem ser o oposto, e que o baixo desempenho económico levaria à dívida elevada.    Na verdade, este é obviamente o caso do Japão, que se endividou imenso depois que o seu crescimento se afundou no início dos anos noventa.

Com o tempo, surgiu um outro problema:    outros investigadores, utilizando dados de dívida e de crescimento aparentemente comparáveis, não foram capazes de replicar os resultados de Reinhart e Rogoff.    O habitual era eles encontrarem uma certa correlação entre a dívida elevada e o crescimento lento  (mas nada que se assemelhasse a um ponto de viragem nos 90%, ou mesmo em qualquer nível concreto de dívida).

Finalmente, Reinhart e Rogoff permitiram que uns investigadores da Universidade de Massachusetts analizassem a folha de cálculo original,  e o mistério dos resultados irreproduzíveis foi esclarecido.    Em primeiro lugar, haviam sido omitidos alguns dados;   em segundo lugar, empregaram procedimentos estatísticos pouco habituais e muito questionáveis;   e, finalmente, sim, cometeram um erro de codificação no Excel.    Se corrigirmos esses erros e requisitos anormais, obtemos o que outros investigadores descobriram:    uma certa correlação entre o elevado endividamento e crescimento lento, mas sem nada que indique qual deles causa o quê, mas sem qualquer vestígio desse limiar dos 90%.

Em resposta a isto, Reinhart e Rogoff admitiram o erro de codificação, mas defenderam as suas demais decisões, assegurando que nunca afirmaram que a dívida provoca necessariamente um crescimento mais lento.    Isso é um tanto hipócrita, porque deram a entender repetidamente essa idéia, ainda que evitassem formulá-la expressamente.    Mas, em qualquer caso, o que realmente importa não é o que eles quizeram dizer, mas a maneira como o seu trabalho tem sido interpretado:    os entusiastas da austeridade anunciaram, com grande alarde, que esse suposto ponto de inflexão de 90% era um facto provado e uma razão para cortar drasticamente na despesa pública, mesmo com um desemprego elevadíssimo.


Este fiasco deve ser colocado no contexto mais amplo da obsessão com a austeridade

Por isso, devemos situar o fiasco de Reinhart e Rogoff no contexto mais amplo da obsessão pela austeridade:    o evidente desejo intenso dos legisladores, políticos e especialistas de todo o mundo ocidental para dar a volta aos desempregados e, em contrapartida, usar a crise económica como desculpa para cortar drásticamente nos programas sociais.

O que releva da teoria de Reinhart e Rogoff é a medida em que nos foi vendida a austeridade sob falsos pretextos.    Durante três anos, a viragem para a austeridade foi-nos apresentada, não como uma opção mas como uma necessidade.    As investigações económicas, insistem os defensores da austeridade, têm mostrado que coisas terríveis acontecem quando a dívida supera os 90% do PIB.    Mas as investigações económicas não têm demonstrado tal coisa;    um par de economistas fizeram essa afirmação, enquanto que muitos outros discordam.    Os responsáveis políticos abandonaram os desempregados e tomaram o caminho da austeridade porque quiseram, não porque tivessem que fazê-lo.

Servirá de algo o facto de se ter feito cair Reinhart e Rogoff do seu pedestal?    Eu gostaria de pensar que sim.   Mas prevejo que os suspeitos do costume irão simplesmente encontrar alguma outra análise económica questionável para canonizar,  e a depressão não terminará nunca.

(Paul Krugman - professor de Economia e Nobel de 2008 - El País, em 21/Abr/2013) (Tradução deste blogue)



terça-feira, 16 de abril de 2013

Wolfgang Schäuble – A sombra demoníaca por detrás da crise europeia!

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Schäuble – A crise é necessária para a união política

Há muito tempo que me pergunto por que Merkel e Schäuble se defendem tão veementemente contra os Eurobonds e também contra o resgate em massa dos títulos de países falidos através do BCE, quando praticamente todos os países da Zona Euro, e principalmente a França, exigem isso.    Os mercados também clamam por isso e querem ver uma solução imediata.

Ao contrário disso, ambos rejeitam estas exigências como se o momento para tal acção imediata não exigisse tal medida e eles repetem sempre a necessidade de medidas de contenção de gastos dos países do sul da Europa.

Primeiro, pensei que o Bundesregierung  (governo federal alemão)  não queria pagar juros altos que estariam  associados à introdução dos Eurobonds, ou que um programa de resgate do BCE levaria a uma enorme inflação, o que eles também mencionaram como justificativa para a sua posição negativa.    Após recentes declarações, tornou-se-me claro o que os dois querem:   - Merkel e Schäuble não querem de forma alguma solucionar a crise europeia;   eles não vêem o caos como problema, mas sim como necessidade.   Imaginem uma coisa destas:
Declaração de Schäuble:    “Nós podemos alcançar uma união política apenas através de uma crise”.     Isto declarou  ele, de facto, ao New York Times.

Quer dizer em bom alemão, o Bundesregierung quer levar toda Zona Euro para a merda e produzir desta forma uma crise, até que todos os países-membros abram mão espontaneamente da sua soberania e gritem por uma união político-fiscal.    É justamente isso que querem alcançar Merkel e Schäuble, e justamente isso eles irão propor no encontro dos líderes europeus no próximo dia 9 de dezembro (passado).    Eles querem obrigar a uma mudança do Tratado Europeu para poder erguer um governo central financeiro para a Zona Euro.

Schäuble disse ainda ao New York Times:    "O que almejamos com a União Fiscal é um breve passo para a moeda.   A longo prazo necessitamos de uma União Política".

Ahhhh...  este é o seu objetivo:   - a dissolução de cada país europeu num Super-Estado governado a partir de Bruxelas.     
Merkel já disse também que a Alemanha estaria disposta a abrir mão da sua soberania para que Bruxelas possa ditar a política económica e financeira para a Zona Euro.
O que o Bundesregierung exige dos países falidos  (maciça contenção de despesas e a conhecida disciplina orçamental)  leva logicamente à agudização da crise.    Com isso não apenas é reduzido o salário disponível do cidadão e a economia é enfraquecida, mas a conjuntura de toda a União Europeia cai de joelhos.    A arrecadação de impostos diminui e aí, então, os países não podem pagar as suas dívidas.    Ou Merkel e Schäuble são completamente incompetentes caso não entendam estas consequências, ou eles têm a intenção deliberada de alcançar este objectivo.    Eu aposto na segunda opção.

Merkel e Schäuble comportam-se como se tivessem todo o tempo do mundo, enquanto os investidores, em pânico, recusam a compra de títulos e exigem uma intervenção imediata.    Até os chineses e japoneses saíram agora da Zona Euro porque tudo lhes parece muito incerto, como mostram os últimos dados.  
Os juros dos títulos públicos estão extremamente altos e os países PIIGS não podem mais refinanciar as suas dívidas correntes.    Merkel e Schäuble impedem, entretanto, a intervenção maciça do BCE como última salvação e querem intencionalmente o crash como o seu “objetivo principal”.

Qual é sua motivação?    Merkel e Schäuble são impulsionados por uma missão que fora implantada pelo seu mentor espiritual, Helmut Kohl.     Schäuble participou activamente como negociador do governo ocidental na reunificação de ambos os estados alemães e vê este sucesso como um ponto alto da sua carreira.    Agora ele pretende algo ainda maior:   - unir toda a Europa em uma União.    Ele vê-se como parte da grande História, como arquitecto da nova Europa;    esta é sua ambição, e ele quer ainda ultrapassar Kohl.    E Merkel também quer isso.

Eu já digo há muito tempo que Wolfgang Schäuble é um louco completo, o homem é realmente perigoso.    Ele introduziu o estado policial e controlador como ministro do interior.  
Ele sempre foi impulsionado por uma ambição doentia - com 30 anos quis passar de deputado para chanceler.    Destino e escândalos retiraram-lhe as chances.    A 12 de Outubro de 1990 ele foi alvejado, e desloca-se desde então em cadeira de rodas.    No ano 2000, um escândalo de suborno em torno das contas partidárias fez com que renunciasse do cargo de presidente do partido CDU, e Angela Merkel foi colocada à frente do seu nariz.     Neste contexto, foi ele mesmo que a indicou, dois anos antes, como secretária geral do partido.

Schäuble é um psicopata que leva neste momento a Europa ao caos, apenas para poder realizar a sua visão de uma Europa unida politicamente, na qual ele trabalha nos bastidores há mais de 30 anos.    Ele quer entrar para os livros de história com esta proeza.    Por isso ele é para mim um louco, pois só alguém assim pode querer conscientemente a destruição, e com isso poder construir a “Haus Europa”.    Ele quer utilizar para isso a aparente força da Alemanha e a fragilidade dos outros países.

Isso explica a sua recente e arrogante declaração sobre os britânicos - "eles iriam logo abdicar da libra e teriam que aderir ao Euro".     Ou ainda o seu esclarecimento no 12º Congresso Europeu dos Bancos - a União Fiscal virá nos próximos 24 meses, basta apenas alterar o protocolo 14 do Tratado de Lisboa - "a soberania do países europeus é apenas uma relíquia do passado", e então, com toda naturalidade, ele afirmou: “… nós na Alemanha nunca mais fomos completamente soberanos em momento algum desde o 8 de maio de 1945!”

Olá...   de uma “teoria da conspiração” aconteceu um fato conspiratório.    Onde está a comunicação social?     Eu, ingénuo, parto sempre da premissa que a imprensa tem a tarefa de informar a população, mas o seu trabalho é embrutecê-la e mantê-la alienada.    Os alemães nem devem saber do que Schäuble confirmou - eles vivem desde a guerra num país não soberano  (nunca foi ratificado um tratado de paz desde a II G.Guerra...).

Uma coisa estes loucos dizem quando correm atrás dos seus objectivos:   - eles falam de facto a verdade sobre o que aconteceu no passado e o que almejam para o futuro.    Talvez os políticos britânicos não estejam assim tão errados quando alertam para um Super-Estado dominado pela Alemanha, como apresentei no meu artigo  “Irlanda – Alemanha é nosso novo mestre!”  

É mais do que chegada a hora de os democratas alemães mostrarem o cartão vermelho para Merkel e Schäuble, pois, caso contrário, a Europa vai mergulhar no caos e novamente numa ditadura fascista.
(Alles Schall und Rauch, 21/11/2011)

(Publicado AQUI) (Sublinhados, imagens e adaptação para português de Portugal por este blogue)


segunda-feira, 15 de abril de 2013

Dívida da II G.Guerra da Alemanha à Grécia - sobe de tom o diálogo entre os dois países...

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Grécia  vs  Alemanha
O próximo duelo joga-se nos tribunais internacionais

(...a HISTÓRIA)


Depois da Grécia apurar que a Alemanha lhe deve mais de 162 mil milhões de euros em reparações de guerra, o tom do diálogo começa a subir entre os dois países que já ponderam recorrer aos tribunais internacionais para resolver a disputa.


Mais de 560 mil mortos, 70 mil judeus enviados para campos de concentração, 50% das infra-estruturas destruídas e 75% da indústria em ruínas foram o resultado de três anos de ocupação nazi na Grécia.    Agora, 69 anos depois da saída das tropas de Hitler do país e na mesma semana em que consegue desbloquear a próxima tranche do empréstimo da troika, a Grécia mostra-se disposta a ir até às últimas consequências para que lhe sejam reavidos mais de 162 mil milhões de euros em reparações de guerra que nunca foram pagas na totalidade pela Alemanha - com juros de mora.    Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças alemão, já acusou os gregos de irresponsabilidade por trazerem esse assunto de volta à discussão pública, mas Dimitris Avramopoulos, ministro dos Negócios Estrangeiros grego, avisou que Atenas não vai esquecer o passado e que serão, em última instância, os tribunais internacionais a decidir.

Depois do jornal diário grego “To Vima” ter difundido que a Comissão nomeada pelo governo grego, em Novembro do ano passado, para avaliar o montante de reparações de guerra em dívida pela Alemanha, tinha apurado que o valor devido à Grécia era de cerca de 162 mil milhões de euros, as críticas germânicas não se fizeram esperar.    Schäuble desvalorizou o assunto considerando as conclusões do relatório do governo “irresponsáveis”.    “Em vez de iludir as pessoas na Grécia, seria melhor mostrar-lhes o caminho para as reformas que precisam fazer”, disse o ministro alemão.

A resposta da Grécia, onde o relatório ainda é secreto, conhecendo-se apenas o valor monetário apurado por um conjunto de analistas, não tardou.    O ministro dos Negócios Estrangeiros que está a estudar o relatório e a melhor maneira de o utilizar, disse que as reformas para melhorar a situação financeira do país estão a ser levadas a cabo, e que as reparações da II Guerra Mundial são um assunto à parte.    “Não há qualquer relação entre os dois assuntos. Uma coisa são as reformas financeiras que a Grécia está a fazer neste momento e outra são as reparações de guerra. Este é um assunto pelo qual os sucessivos governos gregos se batem há muitos anos e caberá aos tribunais internacionais decidirem se o caso está ou não encerrado”, disse Avramopoulos.

advogado em causa própria 

Desde o início da crise, em 2010, muitas associações, cidadãos a título individual e políticos têm recuperado o tema da falta de pagamento por parte da Alemanha das reparações de guerra acordadas após o final da II Guerra Mundial, não só em resposta ao comando germânico das políticas de austeridade que têm sido impostas mas também como uma possível solução para a falta de financiamento que a Grécia atravessa.    A petição online para a Alemanha “honrar as suas obrigações para com a Grécia”, pagando os empréstimos e as reparações pelas “atrocidades cometidas durante a guerra” já conta com mais de 190 mil assinaturas.

Uma das vozes mais activas nesta reivindicação é Notis Marias, deputado eleito pelos Gregos Independentes e professor de Assuntos Europeus na Universidade de Creta.    Ao i, o deputado grego explicou que, na sua opinião, o país “deve recorrer a todos os meios diplomáticos e legais, incluindo tribunais internacionais e outras organizações para reaver o dinheiro”.    Uma alegação que segundo o professor de Direito Internacional do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), Francisco Pereira Coutinho, pode ter viabilidade junto do Tribunal Internacional de Justiça.    “É fundamentalmente um problema político, mas se a Alemanha não pagar, poderemos eventualmente ter um novo processo no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), agora iniciado pela Grécia, em que se discutirá se este pode apreciar factos que sejam anteriores à sua constituição e se a Grécia tem ou não direito a indemnização” explicou o académico ao i.

No ano passado, o TIJ declarou que a Alemanha não poderia ser responsabilizada em tribunais nacionais dos requerentes por falta de pagamento de reparações de guerra a título individual, depois do Supremo Tribunal Italiano ter decidido que a Alemanha tinha de compensar um italiano deportado em 1944.    Após esta deliberação, um conjunto de cidadãos gregos, parentes das vítimas do massacre de Distomo - onde mais de 200 pessoas foram fuziladas pelas forças nazis - recorreu também aos tribunais italianos em busca da concretização da pena decretada pelos tribunais gregos, uma indemnização de quase 30 milhões de euros, que nunca foi executada.    Para efectivar a sentença, o juiz italiano ordenou o confisco de bens alemães em solo italiano.    A decisão do TIJ foi a de considerar que estas práticas violavam a imunidade jurisdicional alemã.

Dívidas que pagam o futuro 

Mais do que um direito, muitos gregos acreditam que a Grécia da segunda metade do séc. XX e a do início do séc. XXI teria sido muito diferente caso a Alemanha tivesse pago as reparações devidas ao país.    “Se a Alemanha tivesse pago, a Grécia teria tido a hipótese de reconstruir a sua economia e tornar-se um Estado mais competitivo no pós-Guerra”, disse ao i o deputado Notis Marias.

No fim de 1940, durante a ascensão pungente das Forças do Eixo, Mussolini está com dificuldades em invadir a Grécia, um país que aparentemente lhe traria uma vitória fácil e aumentaria o seu prestígio junto do seu aliado, Adolf Hitler.    Durante seis meses as forças italianas tentaram, em vão, invadir o território helénico, sendo repetidamente repelidos pelas forças gregas.    Em Março de 1941, um dos contra-ataques gregos, que fez os italianos baterem em retirada, foi considerada a primeira vitória terrestre dos Aliados na Segunda Guerra Mundial.

Com o crescente embaraço italiano, Hitler veio em auxílio dos italianos e atacou as linhas mais indefesas gregas e, em menos de um mês, as tropas nazis marcharam sobre Atenas.    Foram três anos de domínio tripartido - Alemanha, Itália e Bulgária - que levaram à Grande Fome, no Inverno de 1941, onde morreram mais de 300 mil pessoas, só nos arredores de Atenas.    É aí que ocorrem os empréstimos forçados ao Terceiro Reich que enfraqueceram a moeda nacional  (o dracma) e levaram a uma grande inflação, e aos massacres que dizimaram populações inteiras de vilas e aldeias.    Segundo Marias, as forças nazis “devastaram as infra-estruturas existentes na altura, danificando a economia grega”.

Atenas foi libertada em Outubro de 1944 pelas forças soviéticas, mas seguiu-se uma guerra civil entre as várias forças envolvidas na resistência durante o período de ocupação.    Nas Conferências de Paris, em 1946, que marcaram oficialmente o fim da Segunda Guerra Mundial, a União Soviética arrecadou grande parte dos fundos das reparações alemãs por ter sido o país com maior número de vítimas mortais, mas também pelos danos infligidos no território russo.     Aí ficou também assente que a Grécia receberia 4,5% das reparações materiais exigidas à Alemanha e 2,7% de outras indemnizações.    Estes pagamentos acabaram por chegar através da maquinaria pesada de fabrico alemão, utilizada para renovar a indústria do país e o pagamento de compensações monetárias a vítimas individuais dos crimes de guerra nazis.    A Itália também pagou reparações de guerra à Grécia.

No entanto, uma das maiores reivindicações continua a ser o empréstimo forçado equivalente a mais de 10 mil milhões de euros  (476 milhões de marcos do Terceiro Reich)  desviado durante a guerra para financiar as tropas nazis e que nunca foi contabilizado nas reparações, o que com juros de quase 70 anos, somará uma grande parte dos 162 mil milhões apurados no relatório do governo.

Pagar ou não pagar 

Sete anos depois das Conferências de Paris e temendo as mesmas consequências do pagamento da dívida alemã no pós-Primeira Guerra Mundial, que levaram à ascensão ao poder do partido Nazi em 1933, os credores da Alemanha - já República Federal da Alemanha - reuniram-se e amenizaram as condições de pagamento da dívida externa  (também da I Guerra Mundial) e das reparações devidas aos vários países afectados pelo conflito.

Nos Acordos da dívida alemã, que tiveram lugar em Londres, ficou decidido que os pagamentos externos da Alemanha não excederiam os 5% das exportações e que uma parte da dívida seria paga após um tratado de paz entre as duas Alemanhas, o que veio a acontecer com a reunificação do país em 1990.    Este acordo, juntamente com os fundos proveninentes do plano Marshall, fez com que a República Federal da Alemanha se reerguesse em tempo recorde.

Para além da União Soviética, os grandes destinatários das compensações alemãs foram os sobreviventes judeus e as famílias das vítimas dos judeus mortos em campos de concentração.    Na década de 90, mais de 100 mil pessoas em todo o mundo  (especialmente em Israel e nos Estados Unidos)  recebiam pensões do Estado alemão como reparações de guerra, directas ou indirectas.
No entanto, a Grécia alega que a Alemanha não acabou de pagar o que lhe devia, apesar de ter ratificado, juntamente com outros países, os Acordos da dívida em 1953.

Argumento de peso 

A Grécia nega que o relatório sobre as dívidas alemãs, pedido em Novembro do ano passado pelo Ministério das Finanças a quatro investigadores, e que compilou informação patente em quase 200 mil documentos, vá servir de arma negocial com a troika, alegando que uma coisa é a actual situação financeira do país e outra são as reparações de guerra.    “A troika e as ajudas financeiras não têm nada a ver com esta reclamação. Este assunto é estritamente bilateral e terá de ser resolvido entre a Grécia e a Alemanha”, assegurou Notis Marias ao i.
Seja como for, o primeiro-ministro Antonis Samaras, conta agora com um argumento de 162 mil milhões de euros para sensibilizar a Alemanha para a situação grega.

(Por Catarina Falcão, Jornal "I", em 15/Abr/2013)

Leia também:
Alemanha acabou de pagar a dívida da I Guerra Mundial em 2010 



"Alemanha tem que decidir se quer sair do euro", diz George Soros!

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Trigésimo homem mais rico do mundo critica a gestão alemã da crise das dívidas soberanas e diz que é a altura do país decidir se quer ou não sair do euro.

O multimilionário e investidor George Soros, numa entrevista publicada hoje pelo jornal "El País", tece duras críticas ao papel da Alemanha na gestão das crises europeias e defende a necessidade de se recuperar o espírito de cooperação e solidariedade entre os países-membros da União.
"A Alemanha deve decidir se quer refazer a Europa da forma em que originalmente estava destinada a ser, que pressupõe aceitar as responsabilidades necessárias para avançar nessa direcção, ou deve considerar sair do euro e deixar o resto dos países que acreditam nos eurobonds e podem combater a crise", diz George Soros ao "El País".  

Segundo o investidor, que está na 30ª posição do ranking dos bilionários da revista "Forbes",  só é possível parar a espiral recessiva na União Europeia alterando as políticas.    "A política actual leva a uma dinâmica que consiste em sofrer uma crise atrás da outra, porque só quando o quadro se torna muito feio os países credores liderados  pela Alemanha estendem apoio aos devedores",  acrescenta Soros, sublinhando que essa política não funciona porque peca por ser demasiado tardia.

Saída não significaria fim do euro 

Questionado sobre se a saída da Alemanha da zona euro significaria o fim da moeda única, George Soros diz claramente que não, apontando para o papel importante do Banco Central Europeu.     Na visão do investidor, os  países devedores teriam necessariamente de seguir uma política comum para manter o euro, caso contrário pagariam um "preço terrível."
George Soros diz também acreditar que se a Alemanha saísse do euro, os países devedores de transformariam em economias competitivas e as suas dívidas diminuiriam fortemente face à desvalorização da moeda única.     O principal prejudicado seria o próprio país, defende.
"O preço do ajuste recairia sobre a Alemanha, que teria que lidar com dificuldades, porque de repente os seus mercados seriam inundados por importações do resto da Europa", explica Soros.

Alemanha deve aceitar eurobonds

O investidor húngaro-americano volta ainda a defender a necessidade de converter a dívida existente em eurobonds para se sair da crise, frisando que cabe à Alemanha mudar de direção e aceitar os eurobonds o mais breve possível, a fim de evitar que a situação se deteriore ainda mais. 
Neste sentido, George Soros defende a necessidade de se recuperar o espírito de "cooperação" na União Europeia, entre países credores e devedores, salvaguardando o futuro.
"A crise do euro transformou a União Europeia numa associação voluntária entre Estados iguais numa relação entre credor e devedor.     E em situação de crise, os credores ditam o fim da relação, que leva a que os devedores fiquem sempre numa pior situação.     E isso condena a União Europeia a um futuro muito sombrio",  remata.

Alemanha tem de virar 180º

O multimilionário disse ao jornal "El País" que a chanceler Ângela Merkel "tem de fazer marcha atrás".     Se o não fizer, o "cenário mais possível" é um regresso da Europa "aos nacionalismos extremistas" de "uns países contra os outros".

A Alemanha comete "um erro básico" e optou por um caminho distinto do que os Estados Unidos fizeram após a 2ª Guerra Mundial.     "A ideia da Alemanha de que se pode reduzir a dívida contraindo a economia é não perceber como funciona a economia", afirma George Soros na entrevista.    "A Alemanha tem de virar 180º a sua atitude, tem de fazer marcha atrás"  face a uma crise múltipla na zona euro - crise das dívidas soberanas, crise bancária, divergências de competitividade entre países membros e também crise política.

Se o não fizer, o multimilionário teme o pior na União Europeia, o que o torna "muito, muito pessimista" sobre o futuro.     Nesse "cenário mais possível", Soros prevê que "as dinâmicas políticas levem ao auge governos nacionalistas extremistas em boa parte da Europa, o que é terrível, porque isso provocará reivindicações impossíveis de uns contra os outros e muito ressentimento e hostilidade".     
"Há um sério risco de que aconteça um acidente [financeiro], do tipo do Lehman Brothers", sublinha, caso a estratégia alemã prossiga.

(Fonte:  Expresso Economia aqui e aqui, 15/Abr/2013)



domingo, 14 de abril de 2013

O mundo exige um BCE como fonte de dinheiro da economia para estimular o crescimento

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EUA, Espanha, França, FMI e até George Soros apelaram esta semana à Europa para abrandar a austeridade e usar o BCE como fonte de dinheiro da economia para estimular o crescimento.    Alemães disseram «nein» e Bruxelas exigiu mais sacrifícios aos Estados-membros.

Depois de se assumir como "o bombeiro" da crise do euro nos últimos três anos, alguns dos principais líderes europeus e mundiais acreditam que é no Banco Central Europeu (BCE) que está a única salvação da moeda única.

De mero guardião da inflação, a instituição de Frankfurt passou a ser um dos órgãos mais poderosos do euro:    já emprestou dinheiro ilimitado à banca salvando o sector da bancarrota, evitou novos resgates com a compra de dívida pública, e uma simples frase do seu presidente, Mario Draghi, em meados do ano passado, foi suficiente para evitar o colapso da Zona Euro, juntamente com o corte dos juros dos países periféricos para metade.

Com três anos de crise, dois de recessão, um desemprego galopante e a falência do modelo da austeridade pela austeridade na região, o apelo agora é para que o BCE siga os restantes bancos centrais mundiais – como os dos EUA, Japão ou Reino Unido – e adopte medidas drásticas.    Ou seja, mudar os estatutos da instituição europeia para que possa imprimir dinheiro, inundando a economia com dinheiro barato, e assim estimular o investimento e o crescimento da economia.

Os apelos para um BCE com um papel mais interventivo e como motor de uma política económica na Zona Euro assente mais no crescimento e com menor dose de austeridade foram, esta semana, sublinhados de forma explícita por vários líderes.    Dentro da Europa, o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, foi o mais directo:    exigiu uma injecção de liquidez do BCE na economia e que Bruxelas use todos «os instrumentos disponíveis».     Já François Hollande, presidente francês, não usou directamente o nome do BCE, mas pediu menos austeridade e novos estímulos à economia.

EUA enviam peso pesado

Mas as pressões para um volte-face na austeridade estão a sentir-se além-fronteiras.    O presidente norte-americano, Barack Obama, enviou ao Velho Continente, também esta semana, o seu secretário de Estado do Tesouro, Jacob J. Lew, para pressionar os líderes europeus a travar a austeridade e usar o BCE para estimular o crescimento na Zona Euro – região que é a principal parceira comercial dos norte-americanos.

Lew esteve em Paris, Berlim, Frankfurt e Bruxelas e tentou demonstrar que os EUA estão a recuperar da crise mais depressa do que a Europa, através de injecções de dinheiro da Reserva Federal norte-americana (FED) e apoios ao consumo privado.     George Soros, o investidor mais famoso do Mundo, foi mais longe:    pediu a saída da Alemanha do euro, o lançamento dos eurobonds e salientou que a austeridade não funciona com todos os países a fazer o mesmo.     Mais discreta, Christine Lagarde, directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), pediu que a Europa se centre no crescimento e emprego, alertando para as tensões sociais nos países resgatados.

Europa dá nega

Os dois principais centros de decisão na Europa, a Alemanha e a Comissão Europeia, reagiram, porém, com um rotundo e directo não a estes apelos.     O ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, respondeu aos EUA dizendo que não haverá mexidas no BCE e que a austeridade e o crescimento se fazem ao mesmo tempo.     Já Bruxelas, num documento preparatório para o Eurogrupo de hoje em Dublin, negou qualquer alívio nas restrições orçamentais e pediu mesmo medidas extras de austeridade a França, Itália e Espanha e a sete outros estados-membro.

Segundo os analistas, a ideia de o BCE vir a seguir os passos de um FED ou banco central do Japão são praticamente impossíveis num futuro próximo.     Para o BNP Paribas, o apoio do Banco Central Europeu ao crescimento na Zona Euro deverá ficar-se por uma nova descida de juros para 0% até ao final do ano – mas o Barclays acredita que será só em 2014.     Já o Royal Bank of Scotland (RBS) considera que Frankfurt poderá lançar medidas como o alargamento de colaterais aceites para o financiamento de bancos pelo BCE e dar luz verde a emissões de obrigações conjuntas de pequenas e médias empresas (PME).     Mais do que isso será pouco provável, sobretudo sem o projecto de União Bancária completo, previsto apenas para 2015, pelo menos.

Sozinho entre os seus pares

De facto, o BCE é o único banco central das economias desenvolvidas que não usou a injecção directa de dinheiro na economia como forma de travar a recessão.     Frankfurt injectou um bilião de euros na banca, mas as verbas foram sobretudo usadas para recapitalização das instituições financeiras e não para dar crédito à economia, como é necessário.

Por seu lado, os EUA  (país em que os estados federados se ajudam entre si)  já asseguraram que vão dar dinheiro sem limite até a taxa de desemprego descer abaixo de 6,5% – está hoje nos 8%.     Já o Japão quis ir mais longe e anunciou esta semana a maior intervenção do seu banco central de sempre – injectar 54 mil milhões de euros por mês na economia, durante dois anos, num total de um bilião de euros.

A realidade é que a Europa está a perder terreno face aos seus principais concorrentes directos.     A Zona Euro terá em 2013 o segundo ano consecutivo de recessão – inédito na sua história – com mais de metade dos estados-membros estagnados ou em contracção.     O desemprego está num máximo histórico  (12%)  e existe o risco de a região fechar o ano com seis dos seus 17 países resgatados  (Se a Eslovénia cair).     Enquanto isso, EUA, Japão e até o Reino Unido vão continuar a crescer em 2013 e 2014.

 (por Luís Gonçalves In SOL - 13/Abr/2013)



Este governo não se remodela... remenda-se porque é um trapo.

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Tira-nódoas

Este governo não cai porque não é um edifício, sairá com benzina porque é uma nódoa, escreveu Eça.     Aplica-se a este executivo e adapta-se ao momento:    este governo não se remodela porque não é uma casa, remenda-se porque é um trapo.
Uma semana à espera da saída de Relvas para a remodelação e um secretário de Estado passa a Ministro, mais um sinal de um governo exangue, sem atrativos para recrutar.     Já a criação de um ministro-adjunto, na dependência direta do PM, para gerir o QREN mesmo antes das autárquicas, fala por si.
 
Este remendo também revela que, após tanto fracasso, em vez de guinar o rumo, Passos Coelho insiste, despreza a economia, retirando poderes à pasta, enquanto as Finanças se agigantam, roçando o fundamentalismo.    Por fim, o PM confirma o seu deslumbre pelos académicos estrangeirados, mesmo que falhos em experiência política ou do país.
 
Foi assim com Álvaro e Gaspar, ou mesmo Crato, com os resultados que se sabem.    Agora é com Maduro.     Enfim, na altura mais crítica do país em democracia, temos no leme um governo estafado, oportunista, radical e provinciano.     Benzina talvez não chegue.   -  (E eu acrescento:    com um fósforo...   chega!    Tenho a certeza!)
 
(Joana Amaral Dias, In CM - 13/Abr/2013)
 
 
 

Ex-assessor do Governo chama “psicopata” ao ministro das Finanças

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Carlos Vargas considera que Vítor Gaspar é o ministro das Finanças “mais arrogante e mais incompetente desde o reinado de D. Maria II”.
 
 
O antigo assessor do Ministério da Economia, Carlos Vargas, utilizou as redes sociais para fazer  duras críticas ao ministro das Finanças Vítor Gaspar.     “Na verdade trata-se de um psicopata social e não de um ministro das Finanças”, escreveu Carlos Vargas na sua conta pessoal no Twitter (*).
 
(*) Carlos Vargas @carlosavargas   
Cada dia que passa mostra que Vítor Gaspar é o ministro das Finanças mais arrogante
e mais incompetente desde o reinado de D.Maria II.
4:30 PM - 11 Apr 13
 
Numa outra mensagem, o antigo assessor do ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, afirma que “cada dia que passa mostra que Vítor Gaspar é o ministro das Finanças mais arrogante e mais incompetente desde o reinado de D. Maria II”.

sábado, 13 de abril de 2013

Um cenário... apenas um exercício de ficção (bem real) sobre a saída de Portugal do euro!...

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Cuidado!  Muito cuidado com os nacionalistas visionários que advogam a saída do euro! 
 
Uma sexta-feira à noite...
 
Suponhamos que o governo decidiu sair do euro e ressuscitar o escudo.    Mandou por isso imprimir em segredo as notas de escudo e prepara-se para anunciar a novidade, numa sexta à noite, à hora do telejornal, quando os bancos já estão fechados  (ou decreta um feriado bancário durante vários dias).    Nesse fim-de-semana, todos os bancos fazem horas extraordinárias para distribuir as notas por todos os multibancos, para que a nova moeda possa entrar imediatamente em circulação.
 
O que vai acontecer é que toda a gente vai descobrir que se prepara a nova moeda.    Esta operação de lançamento do escudo envolve milhares de pessoas, que transportam e distribuem as notas, e eles vão contar às suas famílias.    E, de qualquer modo, toda a gente assistiu nas semanas anteriores a declarações dos ministros a explicar que isto vai muito mal e precisamos de decisões muito corajosas para salvar a Pátria em perigo.    Em resumo, toda a gente percebeu o que vai acontecer.
 
O que farão então as pessoas?    Não é preciso adivinhar:    vão a correr aos bancos levantar todas as suas contas e guardar as notas de euros.    Se não o fizerem, todas as suas poupanças vão ser transformadas em escudos, a um valor nominal que cairá com a forte desvalorização que, afinal, é o objectivo desta operação.    Os trabalhadores que depositaram salários e poupanças vão ser as primeiras vítimas da nova política.    E por isso vão tentar salvar o que puderem.
 
Ora, os bancos não querem nem podem pagar aos clientes todos os seus depósitos, simplesmente não têm o dinheiro para isso – nem há notas suficientes para cobrir toda a massa monetária líquida que existe em Portugal  (a massa monetária é a soma das notas e moedas em circulação com os depósitos nos bancos, e os bancos não guardam todo esse dinheiro, porque emprestam grande parte dele).    Os bancos vão por isso fechar as portas quando se generalizar o alarme, e o governo vai chamar o exército para guardar os edifícios.    Foi assim na Argentina ou na Rússia, foi assim em todos os casos em que se anunciaram grandes desvalorizações  (e nem se tratava de sair de uma moeda e criar outra, o que nunca aconteceu na história da União Europeia).
 
Os nacionalistas, que propuseram a saída do euro, começam agora a ter a primeira dificuldade.    É que vão defender o exército e os bancos contra a população.    E vão ter de fazer a sua primeira vítima, os depositantes nos bancos.    A conta é fácil:    se a desvalorização for de 50%, as poupanças e depósitos vão perder metade do seu valor.
 
O milagre das exportações

Passou assim o primeiro choque.    Mas vem aí mais, e pior.    O escudo desvalorizou então 50% em relação ao euro.    O governo aposta nessa desvalorização para recuperar a economia e espera que o efeito benéfico seja o seguinte:    as exportações aumentam porque se tornam mais baratas em euros e dólares, enquanto as importações diminuem porque se tornam mais caras em escudos.    Assim, haverá uma deslocação de capital para as indústrias e serviços exportadores e uma redução do consumo e das importações.    Tudo isto melhora substancialmente a balança de pagamentos.    A regra é esta:    se a vida melhorar para Américo Amorim, o dono da maior multinacional industrial portuguesa, ou para outras empresas exportadoras, melhorará também para toda a economia.
 
Parece conveniente, mas é um problema.    É que, com a desvalorização, o preço dos produtos importados aumenta no mesmo dia.    O combustível passou a custar uma vez e meia o seu preço anterior  (e todo o sistema de transportes também), e o mesmo acontece com os alimentos importados ou com os medicamentos, entre tantos bens de primeira necessidade.   Como dois terços do rendimento dos portugueses é para o consumo corrente, imagina-se o efeito imediato destes aumentos de preços no salário.
 
Quanto às exportações, sim, vão aumentar, desde que os compradores no estrangeiro queiram comprar mais em função da redução do preço  (e desde que não haja recessão no estrangeiro, e que os produtos portugueses correspondam a mercados com procura crescente, e que as suas características acompanhem as exigências dos consumidores estrangeiros, etc.).    Talvez aumentem.    Se aumentarem, será em todo o caso devagar:    as receitas das vendas só entram quando se fizerem as vendas, e é preciso esperar o tempo da produção – e é preciso ter dinheiro para investir.    Depois, o que Portugal exporta inclui o custo da matéria-prima e outros produtos que são importados, que são mais de metade do valor das exportações, e que ficaram mais caros.    Por isso, as receitas das exportações aumentam pouco, devagar e mais tarde.
 
A dívida dos bancos duplica a dívida pública

Chega depois o segundo choque.    Metade das famílias portuguesas tem uma longa dívida ao banco, que lhe emprestou dinheiro para comprar a casa.    Emprestou em euros e deve em euros aos bancos estrangeiros, mas vai receber em escudos dos devedores em Portugal.
O banco perdeu assim metade do valor dos seus créditos.    O banco vai por isso à falência.    É por isso que os defensores da saída do euro explicam, honestamente, que será necessário nacionalizar todos os bancos, não tanto para socializar o capital financeiro, mas antes para o salvar.    E salvar um banco pode custar muito caro, como já sabemos pelo caso BPN.    Porque, quando se nacionaliza um banco, fica-se com as suas dívidas, que são dívidas a quem nele depositou e dívidas a quem lhe emprestou dinheiro, normalmente a banca estrangeira.
 
Salvar os bancos tem um custo, e não é pequeno:    a dívida pública portuguesa duplica imediatamente com as dívidas dos bancos, que antes eram privadas e passam a ser públicas porque foram nacionalizadas.
Chegados aqui, já sabemos o que se vai passar:    os nacionalistas vão propor um aumento de impostos para pagar as dívidas da banca ao estrangeiro, isto é, para financiar a banca internacional.
 
Mais impostos
 
Voltemos agora aos problemas que os nacionalistas estão a viver no apoio ao governo que decidiu a saída do euro.    Já têm contra si quem vai pagar mais impostos, viu multiplicar as suas dívidas, paga mais pelos alimentos, transportes e medicamentos, ou perdeu parte das suas poupanças e depósitos.
Com tudo isto, os trabalhadores depressa perceberão que perderam parte do seu salário  (ou da sua pensão), e que o esforço orçamental não diminuiu  (pelo contrário, agravou-se, pois a dívida vai ser paga em euros mas os impostos são recebidos pelo Estado em escudos, e são precisos cada vez mais escudos por cada euro), e a saúde e a educação têm novos cortes.
 
Por outras palavras, os nacionalistas que defendem a saída do euro meteram-se numa alhada.    Os que diziam que queriam impedir a austeridade, acabam a propor um sistema de mais austeridade, toda orientada para o benefício de um sector social, a indústria exportadora, e promovem a queda dos salários e das pensões.    Não resolveram nenhum problema e criaram novas dificuldades.    E perdem o respeito dos trabalhadores, que estão a ser prejudicados.
 
(Por Francisco Louçã (economista), artigo completo em Esquerda.net)
 

 

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Afinal, Portugal é também credor de indemnizações de guerra da Alemanha (!)...

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Alemanha deve 2,3 mil milhões de euros a Portugal por indemnizações da I Guerra Mundial

Não é só a Grécia que tem dinheiro a receber da Alemanha por indemnizações da II Guerra Mundial.    Portugal também é credor da Alemanha por compensações financeiras da I Guerra.
O historiador Filipe Ribeiro de Meneses recorda que o Tratado de Versalhes fixou em cerca de mil milhões de marcos-ouro o valor a pagar pela Alemanha a Portugal.     Porém, "pouco deste dinheiro entrou nos cofres do Estado devido às sucessivas revisões da dívida alemã" adianta o historiador.

Este valor de mil milhões de marcos-ouro corresponderá hoje a cerca de 2,3 mil milhões de euros, o equivalente a 1,8 do PIB português  (números apurados pelo jornalista do Expresso João Silvestre).     Dava para cobrir o valor do chumbo do Tribunal Constitucional às normas constitucionais do OE 2013 e ainda sobravam mil milhões de euros.

Filipe Ribeiro de Meneses relembra que as pretensões de Afonso Costa, representante português em Versalhes, em relação à Alemanha eram de 8 mil e 500 milhões de marcos-ouro, oito vezes mais que o valor obtido, "pois a guerra tinha causado - alegadamente - a morte de 273.547 portugueses da metrópole e colónias, uma cifra que os Aliados rejeitaram por completo".    Afonso Costa ainda recorreu à arbitragem internacional mas a Alemanha acabou por ganhar a batalha legal.

Parece evidente que Portugal apresentou números de vítimas de guerra totalmente fantasiosos  (terão morrido na I Guerra Mundial entre 10 mil e 15 mil portugueses)  mas os valores monetários apurados no Tratado de Versalhes também deverão estar aquém do que Portugal teria direito mas que, como país pouco influente, não teve peso para impor.

Portugal recebeu apenas 0,75 do total das compensações financeiras a serem pagas pela Alemanha, segundo refere Ribeiro de Meneses. Mais um factor que a Alemanha terá que ponderar quando chegar a altura de o nosso país renegociar o actual pacote de resgate financeiro.

(Paulo Gaião, Expresso -

Os alemães são dos mais pobres da Europa... conclui o BCE !!!...

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Esta dá vontade de rir... (será que os senhores do BCE se preocuparam em descobrir as razões que levaram as pessoas a comprar casa?...)

Os alemães são dos povos mais pobres da Europa, ainda mais do que os gregos, espanhóis ou italianos, de acordo com uma conclusão surpreendente de um estudo realizado por várias divisões do Banco Central Europeu.
O Departamento de Pesquisa de Finanças e Consumo do BCE analisou a riqueza das famílias de alguns países chave da zona euro e concluiu que os alemães são um dos povos mais pobres da Europa, ainda mais pobres do que os gregos, espanhóis ou italianos.
De acordo com o estudo, “a composição da riqueza líquida é primeiramente impulsionada por activos reais”, sendo que o principal componente é a posse de imóveis.

Os quatro países identificados onde não se verifica uma elevada taxa de detenção de imóveis, não experimentaram um aumento significativo dos preços das casas, e, nesses Estados a riqueza líquida parece marcadamente mais ligeira, como é o caso da Alemanha, que é considerada “mais pobre” em termos de riqueza líquida do que alguns países sob programas de resgate financeiro.

O estudo analisou a taxa de detenção das famílias no que respeita cinco categorias de activos:    casa própria, outros imóveis, veículos, objectos de valor e negócios próprios.    No final, os alemães são os que apresentaram as menores taxas entre todos os países analisados.    O estudo revela mesmo que a Alemanha tem uma das taxas mais baixas ao nível da posse de residência própria e também uma das mais baixas no que respeita a posse de outros bens imobiliários.
O estudo do BCE revela ainda que Grécia, Chipre e Espanha apresentaram taxas mais elevadas nas cinco categorias de activos sob análise e, assim, um maior nível de riqueza. 

(Fonte:  Notícias ao Minuto, em 10/Abr/2013)


Actualização em 19/Abr/2013:

Em declarações hoje publicadas no diário alemão Bild, Angela Merkel comentou as recentes estatísticas que indicam que as maiores fortunas familiares estão no Sul da Europa, afirmando que os valores "estão distorcidos", porque países como Espanha, Chipre ou Grécia são lugares normalmente preferidos pelas famílias ricas para viver.
Além disso, "nesses países, há mais pessoas que são proprietárias de casas e apartamentos, que funcionam como garantia para a velhice.    Na Alemanha, pelo contrário, existem fortes sistemas de pensões obrigatórios nas empresas.    E as grandes pensões não figuram nessas estatísticas, tal como não figuram os imóveis detidos pelos alemães no estrangeiro", explicou.
"É por isso que as fortunas médias dos alemães parecem ser mais pequenas do que são na realidade", concluiu.


BJ Baldwin - um grande "kit de unhas"... e um belo par de pernas!

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Para descontrair...





quinta-feira, 11 de abril de 2013

Vitor Gaspar - Como não pode desvalorizar a moeda, desvaloriza as pessoas...

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Que se lixe a economia

(…)
Para Gaspar somos uma soma lamentável:    há portugueses por todo o lado.     Demasiados portugueses.    O ministro das Finanças vê-se cercado por um povo que não capta a sua magnífica ciência económica e que só reclama e importa coisas que já não consegue pagar.    É malta não transacionável.     Como não pode desvalorizar a moeda, desvaloriza as pessoas, as instituições e a confiança. (…)
 
Não tinha de ser assim.     O chumbo do Tribunal Constitucional podia ter sido o derradeiro impulso para reformar o Estado, a única saída que nos resta, além da contínua renegociação das condições dos empréstimos com a troika e com outros credores e rendistas. (…)
 
A eleição deste Governo revelou-se um erro trágico.     Paradoxalmente, é a brutalidade da crise que o segura.     Só um louco pode não ter medo da incerteza:    os juros a galope, o pouco crédito que desaparece, os bancos que tremem, o segundo resgate que Passos tanto negou  (e trabalhou para evitar),   mas que agora usa como arma de manipulação maciça.
 
Somos reféns de um primeiro-ministro perdedor e de uma oposição perdida.     Assim estamos hoje, ninguém sabe onde estaremos amanhã.   (André Macedo, DN – 11/Abr/2013)

 
Soltaram o Gaspar...
 
 
O ministro Vítor Gaspar pertence a uma categoria curiosa de criaturas, que qualquer ministério ou grande empresa deve guardar, cuidadosamente, num gabinete de estudos.    Consegue ignorar o mundo ao ponto de criar modelos imaginários extremos, que tendem para delírios conceptuais, desprovidos de quaisquer laços materiais ou emocionais com a realidade objectiva.
 
Num gabinete de estudos, uma pessoa como Gaspar ajuda a estabelecer limites, a afastar hipóteses, a calibrar escalas.    Serve, como os canários nas minas, para avisar da proximidade de gases tóxicos.    Ou, como os daltónicos, que os britânicos usavam na RAF para bombardear alvos, devido à conformidade da sua visão com o preto e branco das fotografias da espionagem aérea.   
 
Qualquer tese será provavelmente mais válida na proporção directa do afastamento em relação aos delírios de Gaspar.    Como todos os produtos perigosos, Gaspar será útil, desde que usado com contenção, em doses não letais.    O grande problema é que, com este governo, Gaspar saiu da zona de segurança e ameaça transformar Portugal num campo de teste para armas de destruição maciça.
 
Restaurar o sistema imunitário que protege o país dos desvarios de Gaspar é uma urgência.    Com Gaspar à solta, o país arrisca-se a ser sacrificado no altar da explosão da Zona Euro.    Essa explosão vem a caminho.    Mas é fundamental que o "ground zero" não se chame Portugal.  (Viriato Soromenho MarquesDN - 11/Abr/2013)


Juncker reforça o risco de se assistir a uma revolta social se a austeridade não abrandar!

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O primeiro-ministro do Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, afirmou que é necessário reduzir a consolidação orçamental nos países em crise.

Jean-Claude Juncker quer acalmar o ritmo de consolidação orçamental que está a ser imposto nos países do euro em dificuldades, nomeadamente a Grécia.    “As pessoas na Grécia já não aguentam mais o actual ritmo de consolidação”, afirmou o primeiro-ministro do Luxemburgo que é também o anterior líder do Eurogrupo (que reúne os ministros das Finanças da Zona Euro).
 
O primeiro-ministro Juncker assegura que “o governo luxemburguês está comprometido a abrandar o ritmo de consolidação nos países em crise”.    “Se tal não acontecer, haverá uma explosão social”, alerta Juncker, num evento hoje realizado no Luxemburgo e citado pela agência Bloomberg.    Esta não é a primeira vez que o político fala sobre este risco.    Em Março, já dizia que não excluía “o risco de se assistir a uma revolta social”.
 
Quem pensa que a questão da guerra e da paz já não se coloca pode estar rotundamente enganado”, afirmou o primeiro-ministro luxemburguês quando deu, no mês passado, uma entrevista ao semanário alemão "Der Spiegel". Juncker falava nas campanhas eleitorais que decorreram na Grécia e em Itália como os momentos onde surgiram esses receios.
 
A ideia de que é necessário abrandar o ritmo de consolidação orçamental não é nova mas também não é consensual.    As autoridades europeias acreditam que é preciso impor um calendário de aposta no crescimento mas defendem que é preciso reduzir o nível de endividamento - o que, dizem, se consegue com medidas do âmbito orçamental mais austeras.    Juncker diz que o ritmo com que tais medidas têm de ser implementadas é que deve ser menos intenso.
 
Esta semana, vozes como George Soros e Paul Krugman vieram criticar, mais uma vez, a austeridade no continente europeu.
 
(Por Diogo CavaleiroNegóciosOnline, 10/Abr/2013) (Imagem e sublinhados deste blogue)


(Actualização 1):
Não só Jean-Claude Juncker mas também Christine Lagarde teme tensões sociais nos países em ajustamento.    A directora do Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou hoje para um aumento das tensões sociais nos países em que os processos de ajustamento sejam percepcionados como “injustos” e afirmou que a crise provocou uma economia global a “três velocidades”.
 
 “A questão não é o processo de ajustamento em si, porque as pessoas entendem que não podem viver acima das suas possibilidades de forma indefinida, mas porque sentem o peso das injustiças do processo de ajustamento”, afirmou a directora do FMI, Chistine Lagarde, durante uma conferência de imprensa em Nova Iorque.

Lagarde recordou que o desemprego continua a ser uma das grandes tarefas pendentes, e afirmou que é preciso não só compartilhar a dor dos processos de ajustamento, mas também os benefícios do crescimento.
Não há uma solução mágica, mas o mais urgente é proteger os mais afectados pela crise, para que o ajustamento seja o mais justo possível”, afirmou a directora do FMI, que defendeu ainda a protecção dos serviços sociais básicos e o combate à evasão fiscal.


(Actualização 2):
E também, além de Juncker e de Lagarde,  vem agora Ashoka Modyex-responsável do FMI,  assumir que a aposta na austeridade não resultou.


Numa altura em que o ministro das Finanças diz que quer seguir o mais perto possível o exemplo irlandês, este responsável do FMI que participou na elaboração do programa de ajustamento da Irlanda assume que a aposta na austeridade não resultou.

Trata-se quase de um "mea culpa".    O chefe da missão do FMI na equipa da 'troika' que se ocupou do caso da Irlanda disse agora que a receita seguida estava errada e não funciona.

Ashoka Mody, que já deixou o FMI, referiu que, quando a crise surgiu, havia três soluções possíveis mas a opção recaiu na austeridade.    Algo que não foi razoável nem produtivo.
Ouvido esta manhã pela televisão pública, o antigo chefe do FMI explicou que confiar apenas na austeridade foi um erro porque os riscos de incucesso eram muitos e, por isso, a Irlanda e Portugal estão a pagar uma fatura pesada.

O responsável sublinhou que a solução passa agora por dar mais tempo aos dois países para pagarem as dividas;    caso contrário, a alternativa é um sofrimento sem fim por parte das populações, uma cultura de dependência nacional e um enorme travão à consolidação da economia europeia.

Quanto ao que aconteceu e ao programa que ajudou a criar, Ashoka Mody assumiu as responsabilidades mas realçou que não está sozinho.    A 'troika' previu para 2012 um crescimento da economia irlandesa na ordem de 1,9%, mas ficou-se pelos 0,9%.    A previsão para este ano, estabelecida em 2,2, foi revista em baixa para 1%.
 
 

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Foi tal o saque que... "os alemães até os cordões dos sapatos roubaram aos gregos"!

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Gregos reclamam pagamento de indemnizações da Alemanha


O primeiro ministro grego tem nas mãos um relatório sobre as indemnizações e empréstimos a que a Grécia tem direito a receber da Alemanha depois da II Guerra Mundial.   
A TSF foi tentar perceber se, 68 anos depois do fim da guerra, estas reclamações ainda fazem sentido.
 
Desde o inicio da crise que são muitas as vozes do país que recordam o que os alemães nunca pagaram ao país, mas agora cabe a Antonis Samaras decidir o que fazer.    Ao todo são cerca de 160 mil milhões de euros que os gregos admitem poder reclamar à Alemanha.

A Grécia foi saqueada e devastada durante a II Guerra Mundial.    Para além do empréstimo obrigatório, tiveram de pagar o custo da presença dos ocupantes no país, viram a produção alimentar e industrial, os objetos artísticos, joias, tesouros arqueológicos e até mobiliário serem enviados para fora do país.    Para Pedro Aires Oliveira, professor de História Contemporânea na Universidade Nova de Lisboa, a fatura foi muito pesada.

O saque foi tal que Mussolini chegou a queixar-se que os alemães até os cordões dos sapatos tinham roubado aos gregos.    Terminada a guerra, as contas começaram a ser feitas.    Em 1953 ficou decidido que a RFA teria de pagar um conjunto de reparações aos países que tinham sofrido a ocupação nazi.    Mas isso acabou por não acontecer
Para evitar um acordo como aquele que pôs fim à I Guerra Mundial, e que acabou por levar à II Grande Guerra, os aliados optaram por outras soluções.    Ficou por pagar o empréstimo forçado que a Grécia concedeu à Alemanha no inicio da ocupação e que tinha um valor de 476 milhões de marcos.

Pedro Aires Oliveira defende, no entanto, que será difícil reescrever a história.    O professor de história contemporânea considera que há um certo revanchismo por parte de alguns políticos gregos que querem responsabilizar a Alemanha por toda a situação que estão a passar.    Mas os alemães também não podem perder de vista um sentido de reparação moral pelos crimes que praticaram.

(Notícia TSF, em 10/Abr/2013)

 

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Poder... podia, mas preferiu anunciar a vingança e continuar a desconhecer a raiz do problema!

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(...)
Dizer que a Europa e o euro morreram em Chipre é especular.    Mas afirmar que os cipriotas, comparados connosco, conseguiram o dobro do tempo para pagar o seu empréstimo e um juro bem mais favorável,  é um facto. 
  
Vejamos os números.    Chipre:   10.000 milhões a 22 anos e a 2,5%.    Portugal:   78.000 milhões a 11 anos de maturidade média e 3,6% de taxa média.    Imaginar o Governo português a lutar por condições idênticas é especular.    Afirmar que o Governo português não percepciona a diferença entre a realidade e a ficção é um facto que se retira do pouco que sobrou de Passos, no último domingo:  -  pose e voz. 
Podia ter reconhecido que, ao decidir medidas de austeridade bem mais penalizadoras que aquelas que foram acordadas com a troika, em Maio de 2011, precipitou a queda da economia, a subida brutal do desemprego e a chegada da recessão?    Podia.    Mas preferiu anunciar mais austeridade. 
Podia ter reconhecido que foi um erro dividir os portugueses entre privados e públicos, velhos e novos, empreendedores e piegas?    Podia.    Mas preferiu anunciar vingança, a novas catanadas de despedimentos e cortes, precipitando o sucesso da desgraça final. 
Podia ter reconhecido que, em vez de carregar de impostos e confiscos os que alimentam o Estado, deveria ter reduzido as rendas dos que se alimentam do Estado, aliás, como acordado com os credores?    Podia.    Mas preferiu continuar a desconhecer a raiz do problema. 
Podia ter reconhecido que foi um erro hostilizar a oposição e os parceiros sociais, destruindo o consenso político e social de 2011?    Podia.    Mas, inspirado em Salazar, preferiu ficar orgulhosamente só. 
Podia ter reconhecido que a sua política europeia, de colagem acrítica aos interesses do Norte e da Alemanha, em detrimento de Portugal, do Sul e da periferia, foi deplorável?    Podia.    Mas preferiu ir a Dublin, de dedo apontado ao Tribunal Constitucional, como sacristão de Schauble, assistir à suprema missa dos interesses dos mercados financeiros, à espera das migalhas que tombem do festim dos juros das dívidas soberanas. 
Podia ter reconhecido o rotundo falhanço da sua estratégia económica e financeira e aproveitado o momento para remodelar ministros e políticas?    Podia.    Mas preferiu contratar um grotesco vendedor de pipocas   (iniciativa do defunto Relvas, via “youtube”)   e dois duros “técnicos especialistas”   (golpe d’asa do seu pequeno Moedas)   para acompanharem a execução do memorando, um de 21, outro de 22 anos, ambos com a relevante experiência de um estágio de três meses, não remunerado.
(Por Santana Castilho, In Público, 10/04/2013)


UM TACHO PARA A VIDA: - a subvenção vitalícia dos políticos em Portugal

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Quem disse que fazer política em Portugal não dava lucro, enganou-se.    Até 2005 os políticos com mais de 12 anos de “serviço” podiam pedir uma reforma…   para a vida!
 
Foi a 10 de Outubro de 2005 que a “mama” acabou.    Foi revogada a Lei 4/85 (com a Lei 52-A/2005)  que indicava que qualquer político podia pedir a subvenção vitalícia e acumular a pensão com outros cargos, por exemplo, em empresas privadas como o BANIF, que foi denunciado ontem e onde entraram muitos antigos políticos.    E qualquer pensão é, já por si, bastante superior ao ordenado mínimo em Portugal.
 
O Expresso apresentou alguns exemplos:    António Bagão Félix recebe €1.000 - foi Ministro da Segurança Social e do Trabalho e Ministro das Finanças, recebendo a pensão mais baixa.    Já uma das subvenções mais altas pertence a Carlos Melancia, que ganha €9.150 e é, neste momento, empresário hoteleiro.
 
Miguel Relvas pode voltar a receber €2.800 por mês
 
Miguel Relvas recebia por ano €14.000 provenientes da sua subvenção vitalícia.    Poderá vir a requerer novamente o pagamento mensal de €2.800, uma vez que teve que o suspender quando regressou à política e que há poucos dias teve a sua carreira acabada em desgraça, tendo esses anos de política sido à custa de uma mentira (ou lapso) na legislatura de 1985-1987.
 
Continua a aumentar o pagamento das subvenções
 
Mesmo depois de ter acabado a “história” das subvenções políticas e de, ao longo dos anos após 2005, mais nenhum político “novo” poder entrar, elas continuaram (e continuam...)  a ser solicitadas tendo em conta que havia ainda mandatos que não teriam acabado.   O site Tretas publicou vários gráficos, que reproduzimos:
 
 
 

 
 
Outros contemplados com reformas vitalícias
 
Em Junho de 2012, o Tugaleaks falou no caso de Eduardo Catroga, que recebe cerca de €9.693 de reforma, é professor catedrático e na altura tinha um alto cargo na EDP.    Já Duarte Lima, envolvido nas malhas do tribunal, recebe cerca de €2.200 e, como se tal não fosse suficiente, anda a vender quadros da sua colecção pessoal para pagar dívidas.
 
Ao todo são pelo menos 397 beneficiários de uma lei extinta, a maioria a trabalhar no sector privado.
 
(Fonte:  Tugaleaks, em 09/04/2013) (Imagem do Expresso, modificada)