sábado, 25 de junho de 2011

O jardim das delícias grego! E também o português...

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[Os quatro arbustos plantados à entrada do hospital Evagelismos, em Atenas]


A Grécia levou os "direitos adquiridos" até à demência

Nas TVs portuguesas, a situação na Grécia é contada através da seguinte narrativa:   eis um pobre povo periférico que está a sofrer as agruras de uma crise internacional, eis um povo do sul da Europa a sofrer às mãos da pérfida Merkel.   Ora, já é tempo de sair desta superficialidade.   Já é tempo de perceber que os gregos têm muitas culpas no cartório.   Já é tempo de escavar a sério na situação grega.   E, assim que começamos essa investigação, a conclusão é invariavelmente a mesma:   os gregos não foram sérios, não estão a ser sérios.   Os gregos levaram a lógica dos "direitos adquiridos" até à demência, até à falta de vergonha.

Os exemplos desta falta de seriedade são imensos.   Em 1930, um lago na Grécia secou, mas, o Estado Social grego acha que tem de existir um Instituto para a Protecção do Lago Kopais - o nome do tal lago que secou em 1930, mas que em 2011 ainda tem dezenas de funcionários dedicados à sua conservação.   Calculo que estes funcionários devem estar a rua a gritar "abaixo o fascismo".

Mas há mais.   Sabiam que na Grécia as filhas solteiras dos funcionários públicos têm direito a uma pensão vitalícia após a morte do mãe/pai-funcionário-público?   Não é genial?   Na Grécia, os direitos adquiridos adquirem-se por, vá, osmose familiar.   Na Grécia, X e Y recebem 1000 euros mensais - para toda a vida - só pelo facto de serem filhas de funcionários públicos falecidos.   Há 40 mil mulheres neste registo.   E, depois de um ano de caos, o governo grego ainda não acabou com isto completamente.   Calculo que estas meninas devem ir para a rua fazer manifs.   Coitadinhas.

Querem mais?   Num hospital público, existe um jardim com quatro (4) arbustos.   Ora, para cuidar desses arbustos o hospital contratou quarenta e cinco (45) jardineiros.   Num acto de gestão mui social (para com o fornecedor), os hospitais gregos compram pace-makers quatrocentas vezes (400) mais caros do que aqueles que são adquiridos no SNS britânico.   E, depois, claro, existem seiscentas (600) profissões que podem pedir a reforma aos 50 (mulheres) e aos 55 (homens).   Porquê?   Porque são profissões de alto desgaste.   Dentro deste rol de malta que trabalha como mineiros, encontramos cabeleireiras e apresentadores de TV.   Sim, faz todo o sentido:   cortar cabelo é o mesmo que estar nas minas da Panasqueira.

(Henrique Raposo, In Expresso - 21/6/2011)


E nós por cá, e à semelhança dos gregos, ainda temos os 14.000 jardins portugueses - os 14.000 organismos do Estado - dos quais apenas pouco mais de 100 são úteis e têm razão de existir, enquanto todo o resto não passa de "jardins" onde são plantadas as clientelas políticas do PS/PSD, e que cobrem de "belos prados de gordas vacas" todo o País de norte a sul, desde o governo central às suas filiais autárquicas.  
Todos eles bem recheados de "mamões" que nos últimos 20 anos nada mais têm feito do que mamar nas tetas da política e nada de útil têm produzido, e cuja única preocupação é correr desvairados para os comícios do partido e para as urnas das eleições sempre que pressentem em perigo a permanência do "querido líder" no lugar que lhes fornece a tão desejada mama!


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terça-feira, 21 de junho de 2011

Quando a ambição tolda a visão... e o raciocínio!

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!...   A ambição levou-o a querer dar o passo maior do que a perna, e ficou só!   E não só ficou só, como acabou por criar constrangimentos a quem o acolheu na corrida pela sua desmedida ambição.   E afinal...   por que carga de água haverá este homem de achar que só o primeiro ou o segundo cargo mais elevado da nação lhe serve?   Por que razão haverá este homem de achar que apenas os cargos de Presidente da República ou (no mínimo) de Presidente da Assembleia da República assentam que nem uma luva à sua ambiciosa pessoa?   Demasiados olhos para tão pouca barriga.   E agora ficou só! 

O resultado estava à vista, e só ele o não viu.   Deficiência de visão.   Poderia (e deveria) ter desistido antes - não o fez.   Poderia ter desistido (ao menos) depois da primeira votação - também o não fez.   A ambição toldou-lhe a visão e o raciocínio, e ele teve que saborear até ao âmago das entranhas o sabor amargo da derrota e da rejeição, para descer lá das "alturas" e estatelar-se cá em baixo, bem rasteirinho, sozinho e pensativo, numa cadeira do Parlamento.   Naquela cadeira onde terá de se sentar, agora enquadrado numa estrutura partidária.   Daquelas que sempre tanto renegou e combateu.  

E agora, Fernando?...

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sábado, 18 de junho de 2011

Trichet e Ackermann - como dois banqueiros conduzem a Europa à ruína

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Como dois banqueiros conduzem a Europa à ruína

(Por Jérôme E. Roos;   texto publicado originalmente em ROAR)


Durante um ano, o Deutsche Bank e o Banco Central Europeu fizeram-nos acreditar que o que se passa na Grécia seria desastroso para a Europa. Estavam a mentir com quantos dentes têm na boca.

Em Frankfurt, dois dos homens mais poderosos da Europa sentam-se, virtualmente, um de cada lado da rua, nos arranha-céus sede de duas das mais importantes instituições no continente.   Ninguém elegeu estes homens para que governem sobre nós.   Ninguém votou nas suas instituições para que ditassem a nossa política económica.   No entanto é o que fazem.

Apresentamos Jean-Claude Trichet e Josef Ackermann.   O primeiro é o líder do Banco Central Europeu, está de saída, e foi recentemente considerado pela Newsweek uma das cinco pessoas mais importantes do mundo.   O segundo é o líder do maior banco privado da zona euro, o Deutsche Bank, e foi recentemente considerado pelo New York Times "o banqueiro mais poderoso da Europa".   Nenhum deles foi eleito para liderar a economia.   No entanto, juntos é o que fazem.

De facto, ambos têm sido decisivos na definição da resposta a dar pela União Europeia à grave crise da dívida que contínua a assombrar a zona euro.   Como noticiou o Times numa poderosa análise, o senhor Ackermann "encontra-se no centro do círculo mais concêntrico do poder, mais do que qualquer outro banqueiro do continente".   De facto, ele aconselha regularmente políticos e decisores políticos sobre os assuntos económicos mais candentes do momento:   a latente crise da dívida grega;   a crescente tensão entre economias europeias fortes, como a Alemanha, e as mais fracas como a Irlanda e Portugal;   e o futuro da Europa como união económica e monetária e esse grande e expressivo empreendimento, o euro.

Ao mesmo tempo, nota o NYT, Ackermann é também "possivelmente o mais perigoso" banqueiro na Europa.   Afinal, "não é segredo onde estão as alianças financeiras do senhor Ackermann:   nos bancos".   Por exemplo, Ackermann "tem insistido que seria um grave erro proporcionar algum alívio à dívida Grega".

Qual seria o problema da reestruturação da dívida da Grécia?   A Argentina e o Equador demonstraram amplamente na última década que a reestruturação da dívida soberana pode, na verdade, libertar o país das medidas de austeridade e inibidoras do crescimento impostas por líderes estrangeiros, permitindo uma mais rápida recuperação, enquanto as necessidades e preocupações internas são acauteladas.

Mas, claro, temos de nos recordar que o senhor Ackermann não é um observador neutral.   Existe uma agenda por detrás do seu discurso apocalíptico.   O Times nota apropriadamente que "os bancos europeus, incluindo alemães como o Deutsche Bank, detêm muitos milhões de euros nas obrigações financeiras do governo grego e os bancos perderiam bastante se essas dívidas fossem reestruturadas".
No entanto, como conseguiu Ackermann convencer Merkel, Trichet e outros líderes da UE que a reestruturação da dívida grega levaria a uma situação como a da Leman Brothers?   “A solução da Europa para a Grécia é, essencialmente”, segundo o senhor Ackermann, “mais dinheiro de resgate e mais austeridade”, uma estratégia que alguns analistas admitem que permita apenas ganhar tempo sem oferecer nenhuma esperança de recuperação.

Assim, cego pela sua própria ganância e indisponibilidade para assumir responsabilidades pelos empréstimos irresponsáveis concedidos pelo seu banco e que se relacionam com a criação da crise, Ackermann apenas agrava a crise.   Alerta de modo alarmante para a probabilidade do aumento das consequências desastrosas e a Europa está paralisada.   Os nosso dirigentes compraram a mentira.   Porquê?

Uma das razões para o sucesso de Ackermann é o facto de ter tido, durante a crise, o apoio dos seus vizinhos do Banco Central Europeu.   Desde que a Grécia se afundou no abismo dos mercados de capital globais no início do ano passado, Jean-Claude Trichet, o presidente do BCE, bajulou cuidadosamente os interesses dos maiores bancos europeus qualificando a reestruturação como "demasiado arriscada".

Não por acaso, o senhor Ackermann parece desfrutar de boas relações com Jean-Claude Trichet.   Quando a senhora Merkel sugeriu que os credores privados assegurem uma parte do fardo, Ackermann opôs-se ao governo alemão e colocou-se ao lado do seu amigo, o senhor Trichet, argumentando que contra reestruturação da dívida grega porque forçaria os investidores - e os bancos - a “partilhar as dores da Grécia”.

Hoje, a maioria dos especialistas em economia - quer da esquerda quer da direita - chegaram à conclusão que a Grécia é insolvente.   Simplesmente não pode, realisticamente, reembolsar a sua dívida esmagadora enquanto a economia continuar a contrair-se em resultado das medidas de austeridade prescritas por Ackermann e Trichet.

Até o governo alemão e o presidente da zona euro, Jean-Claude Juncker, falam agora na chamada "reestruturação suave" da dívida grega.   Mas o BCE recusa-se a financiá-la.   Se esta atitude de teimosia era previsível por parte do interessado Deutsche Bank, pelo contrário, é surpreendente num suposto agente "neutro" como o BCE.

Então porque continua o BCE a opor-se à única e real solução para a crise da dívida grega?   Porque é que continua a empurrar a Grécia, e com ela toda a zona euro, para o abismo?   É apenas porque Trichet e Ackermann e companhia são amigos próximos?   Ou passa-se mais alguma coisa?

Claro que se passa.   Trichet cometeu o seu maior erro no ano passado quando decidiu ficar ao lado do seu amigo Ackermann ao opor-se o início da reestruturação da dívida.   Em vez de permanecer na sua objectividade neutral enquanto líder do BCE, Trichet envolveu-se directamente na crise da dívida grega:   começou por comprar grande quantidade de obrigações gregas através de mercados secundários só para permitir que a Grécia ficasse à tona e assim evitar que bancos e investidores europeus tivessem de fazer corte de cabelo.

Como resultado, já não são só os bancos privados europeus mas é também o seu Banco Central que estão afundados até ao pescoço na crise grega.   Por outras palavras, a reestruturação grega já não prejudicaria apenas os bancos privados;   forçaria Trichet a assumir grandes prejuízos na folha de balanços do BCE a escassos meses de passar a pasta a Mario Draghi.

É altura de os dirigentes europeus acordarem para a dolorosa realidade que tem sido ignorada durante todo este tempo.   A Europa não enfrenta uma crise da dívida soberana, como Ackermann e Trichet nos querem fazer crer.   Na realidade, a Europa enfrenta uma crise financeira no seu sector bancário. Não apenas a Grécia, Portugal e a Irlanda, mas a maioria dos grandes bancos europeus estão insolventes.

Pior ainda, o facto de os líderes europeus, para enfrentar a crise da dívida grega, terem permitido um resgate no ano passado agravou os problemas.   O BCE está em risco de se tornar, por agora, a maior "vítima" da crise financeira global.   Com uma exposição de mais de 440 mil milhões de euros nos países periféricos, perdas patrimoniais de 4.25% podiam conduzir o BCE à insolvência.

De acordo com uma reportagem de “Open Europe”, pesadas perdas para o BCE já não são um risco remoto.   Mesmo com mais resgates da UE e do FMI é pouco provável que a Grécia saia da crise nos próximos anos, o que também deitaria abaixo os bancos do país.   Calcula-se que as perdas resultantes para o BCE estejam entre 44 500 milhões de euros e 65 800 milhões de euros, o que equivale a activos entre 2,35 e 3,47 por cento, isto é, por pouco não acaba com o capital base do BCE.

A única forma de esconder da população esta terrível realidade tem sido continuar os resgates aos países periféricos e impor medidas de austeridade draconianas.

Durante a crise, os muito apregoados mitos sobre a preguiça da Grécia e os comportamentos laxistas nos países do Sul apenas serviram como pretexto para distrair os contribuintes alemães da verdade incontornável de que são eles que estão a resgatar os seus próprios bancos.   A raiva dos populistas do norte tem sido dirigida directamente contra os trabalhadores em luta no sul enquanto quem beneficia são os banqueiros.

Na verdade, os contribuintes da Europa nunca resgataram a Grécia, Portugal ou a Irlanda.   Resgataram o senhor Ackermann e os seus amigos.   E em breve serão igualmente chamados a resgatar o senhor Trichet.   E, suprema das ironias, a mentira inicial de que a reestruturação da dívida grega traria consequências desastrosas para a Europa foi repetida tantas vezes que se transformou em realidade.   Se tivéssemos agido há um ano e meio para permitir à Grécia uma reestruturação da dívida, a falência financeira teria sido limitada.


Mas agora que o BCE está seriamente exposto, o alarmismo de Ackermann transformou-se numa profecia auto-cumprida.  
Permitamos então que esta singela verdade seja revelada a todos:   ainda estamos a viver sob uma ditadura do capital financeiro na qual dois banqueiros têm o poder de configurar a nossa realidade.   E até que afrontemos esses banqueiros e nos levantemos para quebrar a sua ligação invisível estaremos a ser firmemente conduzidos à ruína.

(In BEInternacional, 14/6/2011)

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domingo, 12 de junho de 2011

Conímbriga - uma extraordinária recriação virtual

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Para quem já conhece as ruínas da cidade romana de Conímbriga, a 15 Km de Coimbra, e também para aqueles que pensam ir lá um dia, eis uma extraordinária recriação virtual daquela cidade e dos seus mais importantes edifícios, com a reconstrução em 3D da casa de cantaber, casa dos repuxos, casa dos esqueletos, forum, termas, banhos romanos, insula do vaso fálico, para além de uma visão geral de todo o agrupamento urbano.



E também um vídeo sobre a estação arquelógica e as ruínas de Conímbriga, tal como se encontram hoje:




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sexta-feira, 10 de junho de 2011

Portas - o estilo gingão do homem charneira! - ou será... dobradiça?!

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Paulo Portas é um azougado, por vezes infantil e sempre com a desenvoltura própria de quem julga estar permanentemente numa decisiva maratona.   É lido, informado e centralizador.   Porém, notoriamente imaturo e absolutamente imprevisível.   O que acusava em Sócrates cai-lhe em cima por inteiro.   Depois, queira-se ou não, o CDS e as suas ascensões e quedas resultam do vazio da Direita e da circunstância de ser um fenómeno temporal.   Portas foi o modelo Gucci da política modernaça:   camisa esgargalada, boné ou chapéu de feira, consoante as situações.

Neste deboche em que se encontra Portugal, o objectivo de Portas era ser Governo, soprasse o vento de onde fosse.   Como escreveu um preopinante do mesmo estilo:    "ele é um homem charneira."   Eu, ficaria seriamente chateado com o qualificativo.   Ganhasse o PS e lá estaria o Portas a tocar no batente do vencedor.   Como foi o PSD e, sobretudo, Passos Coelho o vencedor, Portas apresentou-se logo ao serviço.   Aquela frase:   "Quem dá mais é que é o patrão", por indecorosa e até sórdida, abriu caminho às piores abjecções.   Um pouco o que acontece agora.

A coligação teve o apoio e a água benta do dr. Cavaco.   Ficou muito satisfeito e até tem acelerado a constituição do novo Executivo.   Tudo isto é muito estranho e muito estafado.   E muito falso.   O dr. Cavaco detesta Passos Coelho, desde o tempo em que este, dirigente da JSD, lhe fez frente e quase o desacreditou publicamente.   O dr. Cavaco, tem um carácter ressentido e não esquece nem perdoa.   Por outro lado, execra Paulo Portas, que, semanalmente, n' "O Independente", o enxovalhava sem dó nem piedade.  

Assistir aos abraços e aos sorrisos desta gente faz vomitar, mesmo aqueles que são sólidos de estômago.
(Batista Bastos, In Negócios Online, 9/6/2011)

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terça-feira, 7 de junho de 2011

Para quando a criminilização dos actos políticos em Portugal?

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Ex-primeiro-ministro islandês julgado por negligência governativa


Um processo judicial contra o ex-primeiro-ministro islandês Geeir Haarde, acusado de negligência grave durante o seu mandato governativo, começa esta terça-feira num tribunal especial.
Em Setembro de 2010, o parlamento islandês decidiu processar por "negligência" o antigo chefe do Governo, que liderava o país na altura em que o sistema financeiro islandês entrou em colapso, em Outubro de 2008.

Para julgar Haarde, foi criado um tribunal especial, o Tribunal Superior de Justiça (Landsdomur).   O tribunal deverá confirmar a acusação, esta terça-feira, mas segundo a comunicação social islandesa o início do julgamento só deverá ocorrer depois do verão, uma vez que a instância judicial irá atribuir um prazo ao antigo governante para apresentar objecções.   Haarde demitiu-se em Janeiro de 2009, anunciando sofrer de um cancro.   (JN)


E eis que em Portugal se assiste impotente à saída   (ainda que com um valente pontapé no cú)   do primeiro ministro pela porta grande, com ares de grande senhor, intocável e imune, cheio de importância e de património e nas tintas para a desgraça em que deixou este País, sem que a justiça corra de imediato atrás dele, pedindo-lhe contas pelas vigarices e má gestão praticadas durante estes 6 anos do seu miserável governo!   

Para quando, povo deste País e magistrados do Ministério Público, a criminilização dos actos de governação de políticos incompetentes e irresponsáveis?

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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Legislativas 2011 - Os ecos de uma mudança!

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Os ecos de uma mudança


Os portugueses fartaram-se de José Sócrates, das suas contínuas promessas por cumprir, do défice monstruoso, dos 700 mil desempregados, da pesada herança que deixa ao sucessor no palácio de São Bento.   Esta legislativa, como era de antever, funcionou como um plebiscito ao homem que encabeçava o Governo desde 2005.   O veredicto das urnas foi claro:   o pior resultado do PS dos últimos 20 anos.   Deixando sem margem de manobra o homem que ainda há bem pouco tinha recebido uma votação esmagadora no mais inútil e mais patético dos congressos do seu partido.
(Pedro Correia, In Albergue)

Agora precisamos de sossego.   O sossego que nos falta desde que o escândalo Casa Pia transformou o PS numa instituição acossada, raivosa, sectária, com delírios revanchistas.   Foi esse o partido que pegou em Sócrates e o acompanhou no triunfo, na inconsciência, na pulsão de morte e na ruína do país.   É provável que muitos socialistas despertem hoje estonteados e que sintam, para sua surpresa, um secreto alívio:   como foi possível, perguntarão.    Eis uma boa pergunta.
(Luís M. Jorge, In Delito)

É imperioso que se fale das sondagens do nosso descontentamento.   Não sei como é possível informar o público erradamente.   Com segunda intenção?   Como estratégia política de quem paga a sondagem?   Como controlo político da futura decisão do eleitor?   Muitas razões absurdas haveriam para mencionar.   A verdade, a única verdade que os portugueses constataram e hoje podem contestar é que os resultados das sondagens eram errados ou fabricados.    Facto grave.
(João Severino, In PPTAO)

Uma coisa ficou definitivamente clara nestas eleições:   os partidos que rejeitam a possibilidade de ascender ao poder pela via democrática  deixam de ter lugar no imaginário popular.   A recusa das direcções do PCP e do Bloco de se reunirem com a Troika foi um verdadeiro harakiri para ambos os alienados dirigentes estalinistas, maoistas e trotskistas que ainda restam da ilusão de Abril.
(Antonio Maria, In AM)

Passos vence dizendo coisas complicadas e duras.   Disse que era preciso acabar com feriados e ganhou de forma clara, disse que era preciso mudar a lei laboral e a TSU, e venceu de forma clara, disse que era preciso mexer na CGD e ganhou de forma clara, disse que não podia prometer nada e ganhou de forma clara.   É por isso que a sua vitória representa um governo forte, porque disse o que ia fazer antes das eleições.   Dentro da nossa III República, isto é uma novidade.
(Henrique Raposo, In CRM)

Sócrates minou todas as estruturas do Estado.   Delapidou o amor próprio e a capacidade do funcionalismo público sobrepondo-lhe uma estrutura redundante de assessores bem pagos e nomeados apenas por simpatias políticas.   Fundações, comissões, grupos de estudos, avenças externas.   Tudo isto fez disparar os custos do Estado e reduziu a sua eficácia a quase nada.  Tentou subverter a ordem constitucional e mentiu despudoradamente para obter a única coisa que lhe importa.   O poder.
Hoje ainda haverá gente que acha que ele foi uma vítima da crise e das circunstâncias.   Não concordo.   Ele foi uma vítima dele próprio, da sua sofreguidão pelo poder e consequentemente pelo dinheiro.   Sócrates não foi mais que um "novo rico" da política.   Sem conhecimentos, sem bagagem e sem escrúpulos.   Foi a personagem mais nefasta que podia ter chegado ao poder.
(Groink, In TP)


Por minha parte...   acho que vou ter um dos maiores prazeres que me foi dado viver nos últimos anos:   o acto de esvaziar um arquivo conspurcado -  o imenso gozo de atirar para o LIXO as muitas "toneladas" de fotos do maior inútil, incompetente e mentiroso compulsivo que esta nação já produziu desde os tempos do celebérrimo vigarista   Alves dos Reis.    
Finalmente...   vou poder dar vida nova e cheiro decente ao meu computador, aliviando-o do fedor de tão miserável quanto pestilenta figura que determinou os destinos de uma nação inteira para as próximas décadas, condenando-a à miséria e à perda da soberania!

(imagem picada daqui)
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quinta-feira, 2 de junho de 2011

Uma carta insistente, irritante e desgraçadamente actual... até 2040!

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A fábula do Raposo e do Coelho


Caro dr. Jorge Coelho, como sabe, V. Exa. enviou-me uma carta, com conhecimento para a direção deste jornal.   

Aqui fica a minha resposta.
 
Em 'O Governo e a Mota-Engil' (crónica do sítio do Expresso), eu apontei para um facto que estava no Orçamento do Estado (OE):   a Ascendi, empresa da Mota-Engil, iria receber 587 milhões de euros.   Olhando para este pornográfico número, e seguindo o economista Álvaro Santos Pereira, constatei o óbvio:   no mínimo, esta transferência de 587 milhões seria escandalosa (este valor representa mais de metade da receita que resultará do aumento do IVA).
 
 Eu escrevi este texto às nove da manhã.   À tarde, quando o meu texto já circulava pela Internet, a Ascendi apontou para um "lapso" do OE: afinal, a empresa só tem direito a 150 milhões e não a 587 milhões.   Durante a tarde, o sítio do Expresso fez uma notícia sobre esse lapso, à qual foi anexada o meu texto.   À noite, a SIC falou sobre o assunto.
Ora, perante isto, V. Exa. fez uma carta a pedir que eu me retratasse.   Mas, meu caro amigo, o lapso não é meu.   O lapso é de Teixeira dos Santos e de Sócrates.   A sua carta parece que parte do pressuposto de que os 587 milhões saíram da minha pérfida imaginação.   Meu caro, quando eu escrevi o texto, o 'lapso' era um 'facto' consagrado no OE.   V. Exa. quer explicações?   Peça-as ao ministro das Finanças.   Mas não deixo de registar o seguinte:   V. Exa. quer que um zé-ninguém peça desculpas por um erro cometido pelos dois homens mais poderosos do país.   Isto até parece brincadeirinha.

Depois, V. Exa. não gostou de ler este meu desejo utópico:   "quando é que Jorge Coelho e a Mota-Engil desaparecem do centro da nossa vida política?".   A isto, V. Exa. respondeu com um excelso "servi a Causa Pública durante mais de 20 anos".   Bravo.   Mas eu também sirvo a causa pública.   Além de registar os 'lapsos' de 500 milhões, o meu serviço à causa pública passa por dizer aquilo que penso e sinto.   E, neste momento, estou farto das PPP de betão, estou farto das estradas que ninguém usa, e estou farto das construtoras que fizeram esse mar de betão e alcatrão.   No fundo, eu estou farto do atual modelo económico assente numa espécie de new deal entre políticos e as construtoras.   Porque este modelo fez muito mal a Portugal, meu caro Jorge Coelho.   O modelo económico que enriqueceu a sua empresa é o modelo económico que empobreceu Portugal.

Não, não comece a abanar a cabeça, porque eu não estou a falar em teorias da conspiração.   Não estou a dizer que Sócrates governou com o objetivo de enriquecer as construtoras.   Nunca lhe faria esse favor, meu caro.   Estou apenas a dizer que esse modelo foi uma escolha política desastrosa para o país.   A culpa não é sua, mas sim dos partidos, sobretudo do PS.   Mas, se não se importa, eu tenho o direito a estar farto de ver os construtores no centro da vida coletiva do meu país.  
Foi este excesso de construção que arruinou Portugal, foi este excesso de investimento em bens não-transacionáveis que destruiu o meu futuro próximo.   No dia em que V. Exa. inventar a obra pública exportável, venho aqui retratar-me com uma simples frase:   "eu estava errado, o dr. Jorge Coelho é um visionário e as construtoras civis devem ser o alfa e o ómega da nossa economia".  

Até lá, se não se importa, tenho direito a estar farto deste new deal entre políticos e construtores.

(Henrique Raposo, In Expresso de 30/10/2010)

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