domingo, 28 de março de 2010

Como é difícil a vida de massagista!...

Pensando bem... também não gostava nada de ter uma profissão destas. Muito repetitiva. E depois, sempre com as mãos untadas, né...

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Sempre os mesmos a pagar a factura!

Quando comecei a trabalhar, a pátria precisava de ser salva dos desvarios do PREC e por isso pagámos mais impostos. Depois, nos anos 80, houve um choque petrolífero, salvo erro, e tivemos de voltar a salvar a pátria. Veio o FMI, ficámos sem um mês de salário e pagámos mais impostos. Mais tarde, nos anos 90, houve mais uns problemas e lá voltámos a pagar mais, para a pátria não se afundar. Por alturas do Governo de Guterres fui declarado ‘rico’ e perdi benefícios fiscais que eram, até então, universais, como o abono de família. Nessa altura, escrevi uma crónica a dizer que estava a ficar pobre de ser ‘rico’… Depois, veio o Governo de Durão Barroso, com a drª Manuela Ferreira Leite, e lembraram-se de algo novo para salvar a pátria: aumentar os impostos! Seguiu-se o engº Sócrates, também depois de uma bem-sucedida campanha (como a do dr. Barroso) a dizer que não aumentaria os impostos. Mas, compungido e triste e, claro, para salvar a pátria, aumentou-os! Depois de uma grande vitória que os ministros todos comemoraram, por conseguirem reequilibrar o défice do Estado, o engº Sócrates vê-se obrigado a salvar a pátria e eu volto a ser requisitado para abrir mão de mais benefícios (reforma, prestações sociais, etc.), e – de uma forma inovadora – pagando mais impostos.


Enquanto a pátria era salva, taxando ‘ricos’ como eu (e muitos outros, inclusive verdadeiros pobres), os governantes decidiram gastar dinheiro. Por exemplo, dar aos jovens subsídios de renda… por serem jovens; ou rendimento mínimo a uma pessoa, pelo facto de ela existir (ainda que seja proprietária de imóveis); ou obrigar uma escola pública a aguentar meliantes; ou a ajudar agricultores que se recusam a fazer seguros, quando há mau tempo; ou a pedir pareceres para o Estado, pagos a peso de ouro, a consultores, em vez de os pedir aos serviços; ou a dar benefícios a empresas que depois se mudam para a Bulgária; ou a fazer propaganda e marketing do Governo; ou a permitir que a Justiça seja catastrófica; ou a duplicar serviços do Estado em fundações e institutos onde os dirigentes (boys) ganham mais do que alguma vez pensaram.


E nós lá vamos salvar o Estado, pagando mais. Embora todos percebamos que salvar o Estado é acabar com o desperdício, o despesismo, a inutilidade que grassa no Estado. Numa palavra, cortar despesa e não – como mais uma vez é feito – aumentar as receitas à nossa custa.


Neste aspecto, Sócrates fez o caminho mais simples. Fez exactamente o contrário do que disse, mas também a isso já nos habituámos. Exigiu-nos que pagássemos o défice que ele, e outros antes dele, nunca tiveram a coragem de resolver.


(Henrique Monteiro, in Expresso de 13 de Março de 2010)
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Não há Bela sem "senão"... e que "senão"!

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O silêncio do vazio ou... o vazio da ex-ministra!

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Esta é mesmo para aplaudir!

O Elogio a Manuela Ferreira Leite


Eu sei que vieram ao cheiro do título, mas lamento desiludir-vos: ele faz parte da escrita espetáculo, e foi só um pretexto para vos obrigar a engolir o que hoje me apetece :-)

Não sou do PSD, aliás, neste preciso momento já não sou de coisa nenhuma, exceto do prazer de estar na praia, quando chove na Europa, mas isso são outras lides, e, não sendo do PSD, ia propor-vos um pequeno exercício de inteligência, que seria substituir, no título, o nome de Ferreira Leite pelo nome de qualquer líder político, excetuado o do escroque José Sócrates.

Façam isso, e verão como o que escreverei a seguir manterá todo o seu sentido.

A eleição de Passos Coelho, hoje, para a direção do PSD, representa uma irónica resposta a um dos grandes temas deste espaço, que foi a crítica cerrada a uma Classe Política que tinha eliminado a chamada "Geração Intermédia", estando reduzida a duas camadas, a dos Jovens Turcos e a dos Velhos Abutres. Quer Rangel, quer Passos Coelho, representariam, sempre, a entrada em cena desta fatia etária dos guilhotinados do Sistema, e muita coisa se anuncia, embora a minha Cassandra não esteja hoje para aí virada.


 Vou, antes, falar da Idade de Ouro, porque eu adoro, e só adoro, Idades de Ouro.

Entre a eleição do Sócrates Relativo, após o Sócrates sórdido e Absolutista, e o dia de hoje, vivemos um dos períodos mais ricos e serenos da Democracia Portuguesa.

Dava gosto ouvir debates e noticiários, e ver Comunistas a fazerem elogios a Democratas-Cristãos, e Bloquistas a concordaram plenamente com teorias Liberais. Apenas os unia uma coisa, um profundo desprezo e o sentido nacional da incomodidade de se ter, como Primeiro Ministro, uma figura desacreditada, como o Agente Técnico de Engenharia José Sócrates Pinto de Sousa, ligado a tudo o que era trafulhice, negócio duvidoso, e prateleiras de imoralidade e desfaçatez.

Enquanto Português, dava-me um gozo, e uma serenidade enormes, saber que podia ser simultaneamente de quatro partidos, ao mesmo tempo, sem estar a trair o meu próprio pensamento e sensibilidade.

Vivi num harém político, e, uma noite, ia para a cama com o BE, noutra, com o CDS/PP, noutra, com o PCP, e, finalmente, acabava nos braços encarquilhados de Ferreira Leite, que me encostava aqueles peitos de arenque fumado, me passava o célebre colar de pérolas em redor do pescoço, cruzava as pernas nas minhas, sexo contra sexo, e dizia-me, com aquela sua voz de Antigo Regime, "esta noite és todo meu..."


Era aqui que se apagavam as luzes, e eu voltava à superfície, ou seja, ao teclado deste computador, para tomar o pulso à situação vivida.

Vou resumi-la: sabendo que estava a prazo, o PSD teve à sua cabeça uma mulher, coisa a que já bati a continência várias vezes, e que, sabendo que não iria nunca ser Governo, nos mostrou, pela primeira vez, talvez desde... desde... olha, já não me lembro, como se podia ser Estadista, e aqui fica feito o elogio, que resume este texto.

Quero, nele, agradecer a Manuela Ferreira Leite ter mostrado como a Política pode ter Estadistas, e não badalhocos de Vilar de Maçada, com olhares fixos de mentira profunda. Parabéns, portanto, à ex senhora do PSD.


 A riqueza do período, todavia, não se esgota na figura dela, pois, como disse, na estranha posição de cada um deles, poder ser um líder de Oposição de uma Maioria Absoluta negativa, permitiu que brilhassem tanto, como nunca brilharam assim, pela positiva, Jerónimo de Sousa, Paulo Portas, Ferreira Leite e Francisco Louçã.

Deu-me algum, muito, gozo, depois de anos de obscenidade, ligados ao Cavaquismo, às trapalhadas do Guterres, às cobardias do "Cherne" e às indignidades criminais de Sócrates, viver numa coisa chamada "Parlamentarismo", que nós só víamos nas distantes emissões da BBC, ou nas séries de ficção idealizadas de certos momentos líricos da Velha Europa e do Novo Mundo.

Foi um período frutoso, que mostrou grandeza e sentido de Estado, como se houvesse, de facto, um País digno, a opor-se, pela voz dos seus representantes eleitos, a um País sórdido, o do nosso dia a dia, representado pelos caciques de Vilar de Maçada, as medíocres Ineses de Medeiros, o Cara de Folar do Francisco Assis, os estertores alcoólicos de Manuel Alegre, as iras da Carrilha, os tiques senis de Cavaco Silva, as vergonhas da Maria, a impunidade de Paulo Pedroso, e o crime sem castigo de Vítor Constâncio, entre outros.


 Foi bom, agradável, bonito, e mostrou que poderíamos ser infinitamente mais felizes, se nunca houvesse Governo.

Não me atrevo a pressagiar o que vem aí. Passos Coelho não tem uma única ideia, e nisso é primo de Sócrates, mas talvez seja disso que a populaça precisa: a Lisboa dos bairros sociais, que bem conheço pela minha empregada, deve estar, a esta hora, a alimentar fantasias sexuais com o novo galã laranja, que, coitado, tremia que nem varas verdes, perante um estranho papel histórico, que lhe coube em sorte.

Suponho que não possa existir pior sensação para um político do que ter "ganho por acaso", que é, mais coisa, menos coisa, o que aconteceu esta noite.

O lado épico da questão pode começar amanhã, e a História está cheia de Alexandres, de Maomés II e de jovens políticos que, num momento imprevisto, viraram o curso das coisas, e nada exclui que Passos Coelho seja um desses, que, por pura inexperiência e voluntarismo, consiga dar um pontapé neste insuportável estado de coisas.


Pela minha parte, cidadão português, vítima do caciquismo do Largo do Rato, farto de ser vexado por lobbies maçónicos, pedófilos, por vigaristas que usaram o dinheiro dos meus impostos para enriquecer, para pagar BPNs e BPPs, por magistrados que puseram os tribunais ao serviço de mafias descaradas, e inimputáveis, qualquer um que venha incendiar a floresta é muito bem vindo.

Isso é, todavia, um texto para o Futuro, e não para esta noite, em que eu vinha, tão só, melancolicamente recordar meio feliz ano de Democracia, Parlamentarismo e Grandes Oradores.

Um deles foi, sem dúvida, Manuela Ferreira Leite.


Minha cara, quero esquecer todos os seus muitos, e foram muitos, disparates do Passado, e agradecer-lhe, nesta noite de despedida, ter-nos mostrado a diferença entre um político de sarjeta, como Sócrates, e um Estadista, como a senhora soube ser.

Obrigado.

(Duo do adeus, no "Arrebenta-SOL" e em "The Braganza Mothers" )
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