sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2011 ? - aproveitem bem esta noite... que a partir de amanhã vai doer ainda mais!

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Entre o vómito e a diarreia - qual o mais repugnante ?!...

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Quando a gente pensa que este governo, este primeiro-ministro e este ministro-das-finanças já não podem descer mais baixo em matéria de promoção e protecção aos seus "boys"...  eis que eles ainda conseguem fazer mais um esforço para nos surpreender!  E conseguem.  Sempre! 
Vem isto a propósito da notícia que ontem caíu que nem uma autêntica bomba e que envergonharia o mais sabujo dos governantes de um qualquer país centro-africano.  Esta gente perdeu já todo e qualquer resquício de bom senso e de vergonha e, numa crescente diarreia dos actos que pratica, só consegue suscitar o vómito de quantos assistem a tão vergonhosa desfaçatez! 

«Chefias da Segurança Social foram promovidas com retroactivos a Janeiro»

«Em vésperas da entrada em vigor das medidas de austeridade e dos cortes de salários na Função Pública, o Governo promoveu todas as chefias de institutos públicos ligados à Segurança Social. A promoção tem efeitos retroactivos ao início deste ano e já levantou as primeiras críticas: os TSD, Trabalhadores Sociais Democratas, acusam José Sócrates de seguir o exemplo de Carlos César.
Mas os ministérios de Teixeira dos Santos e de Helena André recusam as críticas e garantem mesmo que, apesar das promoções, os dirigentes dos institutos até vão ganhar menos. O Ministério do Trabalho diz, por exemplo, que o director de departamento do Instituto de Informática vai ganhar menos 23.500 euros por ano.
 
As promoções de chefias e directores são autorizadas nos quatro institutos da segurança social (informática, gestão financeira, gestão de fundos e o próprio instituto que processa as pensões os subsídios de desemprego).
O Governo justifica que em 2007 e 2008 estes organismos tiveram mais atribuições e agora será, lê-se no Diário da República desta quinta-feira, a ocasião propícia "para se proceder à qualificação e grau dos seus dirigentes e à adaptação da estrutura".

No suplemento da portaria, no artigo 4, lê-se: "As nomeações produzem-se efeitos a 1 de janeiro de 2010". As portarias foram assinadas dois dias antes do Natal, pelo Ministro das Finanças e pelo secretário de Estado da Segurança Social.

A portaria seguinte diz que os directores da segurança social passam a ser equiparados, para efeitos remuneratórios, a directores superiores de 1º grau, ou seja, directores gerais. E, como estes sobem, todos os outros que estão abaixo também sobem, inclusive coordenadores de serviços, chefe de sector, chefe de equipa.

O pretexto é sempre o mesmo nas quatro portarias: há que adaptar a estrutura, promover chefes e pagar melhores salários. O ministro das Finanças assina sempre por baixo. É o mesmo ministro que vai cortar salários na Função Pública em 2011.

 O certo é que o Diário da República não deixa dúvidas sobre promoções das chefias da Segurança Social e aumentos salariais, em plena véspera de passagem de ano e da aplicação das medidas de austeridade.»

(Notícia sic-sapo/on-line, de 30/12/2010)
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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Os políticos e as reformas - nem há moralidade nem comem todos!

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Era uma vez um país de reformados

O presidente estava reformado, o primeiro-ministro reformado estava. Muitos dos ministros encontravam-se em igual condição e assim também os presidentes das autonomias, vários deputados, os presidentes das câmaras, líderes e ex-líderes de partidos políticos, e gestores de muitas empresas (até públicas). A eles se juntavam na reforma, professores e funcionários de pequeno porte.
Porém, todos eles, na plenitude das suas capacidades intelectuais e em boa forma física, continuavam no activo. Com isso, argumentavam, contribuíam para o desenvolvimento da Pátria, a quem ofertavam o melhor da sua experiência e saber.

Algumas "vozes de burro", das que não chegam ao Céu, clamavam aleivosamente que os ditos recebiam reformas milionárias, acumulavam pensões, e a tudo juntavam (no todo ou em parte) os vencimentos das funções que desempenhavam no momento, fosse no sector público ou no privado. Por isso, diziam os invejosos que a situação era imoral porque enfraquecia a Segurança Social e dava um contributo (embora, modesto) às elevadas taxas de desemprego e de precariedade…

Este podia ser o início de uma história para não deixar adormecer adultos mas dispensemos a ficção. Fiquemo-nos pelo que acontece mesmo em Portugal. Então…

O presidente da República é reformado; o seu principal opositor nas próximas eleições, reformado é. O presidente do Governo Regional da Madeira não dispensa a sua pensão; pelo menos um secretário de Estado está na reforma, tal como fazem ex-ministros e actuais eleitos do poder local, ex-deputados, comentadores políticos, etc.,etc. Faço como o Ministério das Finanças e não cito nomes. Lembro só que há, neste país desencontrado, quem receba muitos milhares de euros mensais de pensão, por ter desempenhado um cargo meia dúzia de anos.

E que, só no primeiro semestre deste 2010, a despesa do Estado com as reformas vitalícias dos políticos terá ascendido a 4,8 milhões de euros. Recordo, também, que o número de desempregados ultrapassa os 700.000 e, dos que ainda têm emprego, há 1.250.000  a trabalhar em situação de precariedade.

Sou contra as reformas por limite de idade. Com o aumento da esperança de vida, com a melhoria das condições de saúde, entendo que a reforma deve ser um direito mas não uma obrigação. Cada um deve poder continuar a trabalhar enquanto tiver condições para o fazer eficazmente.

Mas, correndo o risco de juntar a minha às "vozes de burro", no actual quadro económico e social, entendo ser imoral acumular reformas ou receber um salário, mesmo que não na totalidade, para somar a uma gorda pensão. Não é correcto e é um mau exemplo que vem de cima.

Tal como as coisas estão, em Portugal, feitas as contas, não há moralidade nem comem todos.

(Mário Contumélias, in JN on-line)
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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

EN-SI-TEL - quando o feitiço se vira contra o feiticeiro...

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No que respeita a merda,  quanto mais nela se mexe mais ela fede!...  E não há como ser mais brando na caracterização deste episódio!  Basta colocar na pesquisa do Google o nome da referida empresa para que logo surjam mais de 38.000 resultados, uma grande maioria dos quais referindo as reacções dos inúmeros bloguistas e dos elementos das mais variadas redes sociais ao tratamento dado a uma cliente por parte desta empresa.  São apenas as justas emanações "publicitárias" que a empresa procurou...  e encontrou!


Antes:  mexendo na dita...



Depois:  cheirando a dita...



(Nota: - estes diálogos estão uma "delícia".  Parabéns aos imaginativos criadores!)


Pós Texto: - A Ensitel anunciou hoje (31/12/2010) que retirou a acção judicial que tinha contra uma cibernauta que se queixou da empresa no seu blogue, gerando posteriormente acesas discussões em redes sociais como o Twitter ou o Facebook.

«Nos últimos dias temos ouvido as vossas opiniões. Nunca foi nossa intenção limitar a liberdade de expressão da Maria João Nogueira, mas apenas assegurar a defesa da nossa marca. Mas vemos agora que a nossa atitude não foi a mais adequada e por isso vamos retirar de imediato a acção judicial», refere comunicado divulgado na página Facebook da empresa.

No texto, assinado pelo responsável de vendas e serviço a clientes, Pedro Machado, a empresa assume responsabilidades pelas proporções tomadas pelo caso e garante que melhorará as formas de comunicação com os clientes.
«Pretendemos (...) estar mais atentos ao que os nossos clientes dizem online, de modo a podermos assegurar que a vossa experiência com a Ensitel é o mais positiva possível. Nesse sentido estamos a preparar novas maneiras de poderem comunicar connosco, sempre que tenham um problema numa das nossas lojas ou com um dos nossos produtos», é dito.

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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Este povo não presta!...

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(…)
Esta "raça abjecta", congenitamente incapaz, de que falava Oliveira Martins.  Este povo cretinizado, obtuso, que se arrasta submisso, sem um lamento, sem um queixume, sem um gesto de insubmissão, tão pouco de indignação e muito menos de revolta.  Um povo que se deixa conduzir passivamente por mentirosos compulsivos como Sócrates ou Passos Coelho ou por inutilidades ignorantes como Cavaco Silva, não merece mais que um gesto de comiseração e de desdém.  É vê-los nas televisões, por exemplo, filas e filas de gente acomodada, cabisbaixa, servil e absurdamente resignada, a pagar as estradas que a charlatanice dos políticos tinha jurado "que se pagavam a si mesmas"!

Sem qualquer tipo de pejo e com indisfarçável escárnio, o Estado obriga-os a longas filas de espera para conseguirem comprar e pagar o aparelho que lhes vai possibilitar a única forma de pagar as portagens que essa corja de aldrabões, agora no poder, se lembrou de inventar!  E eles passam a noite inteira à espera, se preciso for.  E lá vão depois, bovinamente, de chapéu na mão, a mendigar a senha redentora que lhes dará o "privilégio de serem esbulhados electrónica e quotidianamente pelo Estado”. 
Um povo assim não presta, não passa de uma amálgama amorfa de cobardes.  Porque, se esta gentinha "os tivesse no sítio" recusar-se-ia massivamente a pagar as portagens.  E isso seria o suficiente para que os planos governamentais ruíssem como um castelo de cartas.

Mas não.  Esta gente come e cala.  Leva porrada e agradece.  E a escumalha de medíocres que detém o poder, rejubila e escarnece desta populaça amodorrada e crassa que paga o que eles quiserem, quando e como eles o definirem.  Sem um espirro de protesto, sem um acto de revolta violenta, se preciso for. 
Pelo contrário, paga tudo.  Paga para tudo.  Sem rebuço, dóceis, de chapéu na mão, agradecidos e reverentes, como o poder tanto gosta.  E demonstram-no publicamente, disso fazendo gala.  Como eu vi, envergonhado, a imagem de um homenzinho ostentando um sorriso desdentado, exibindo perante as câmaras da TV o aparelhinho que acabara de pagar, como se tivesse ganho uma medalha olímpica.

Esta multidão anestesiada espelha claramente o pais que somos e que, irremediavelmente, continuaremos a ser - um pais estúpido, pequeno e desgraçado.  O "sítio" de que falava Eça, a "piolheira" a que se referia o rei D. Carlos.  "Governado" pelas palavras "sábias" de Alípio Severo, o Conde de Abranhos, essa extraordinariamente actual criação queirosiana, que reflecte bem o segredo das democracias constitucionais. 
Dizia o Conde: "Eu, que sou governo, fraco mas hábil, dou aparentemente a soberania ao povo.  Mas como a falta de educação o mantém na imbecilidade e o adormecimento da consciência o amolece na indiferença, faço-o exercer essa soberania em meu proveito...”

Nem mais.  Eis aqui o segredo da governação.  A ilustração perfeita com que o rei D. Carlos nos definia há mais de um século:  "Um país de bananas governado por sacanas".  Ontem como hoje.  O verdadeiro esplendor de Portugal.


(Luis Manuel Cunha, Professor – in Jornal de Barcelos de 27/10/2010)

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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Momento de raiva - «Meu Galope é em Frente»

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Direis que não é poesia
e a mim que me importa?

Eu canto porque a voz nasce
e tem de libertar-se.
E grito porque respondo
às lanças que me espetam
e aos braços que me chamam.
E porque, dia e noite,
minhas mãos e meus olhos,
por estranhas telegrafias,
dos cantos mais ignotos
e das ilhas perdidas,
e dos campos esquecidos
e dos lagos remotos,
e dos montes,
recebem longas mensagens e comunicações:
para que grite e cante!

O meu grito e meu canto é a voz de milhões!
Por isso que me importa?
Eu canto e cantarei o que tiver a cantar
e grito e gritarei o que tiver a gritar
e falo e falarei o que tiver a falar!

Direis que não é poesia.
E a mim que importa?
se eu estou aqui apenas
para escancarar a porta
e derrubar os muros?
E a mim que importa
se vós sois afinal o que hei-de ultrapassar
e esmigalhar
em nome
de todos os futuros?

Eu sigo e seguirei
como um doido ou um anjo,
obstinado e heróico a caminho de nós
em palavras e acções.
Por todos os vendavais
e temporais
e multidões
nos cantos mais ignotos
e nas ilhas perdidas
e nos campos esquecidos
e nos lagos remotos
e nos montes
– por terra, mar e ar.

Direis que não é poesia
e a mim que me importa!

Convosco ou não, meu galope é em frente.
Pertenço a outra raça,
a outro mundo, a outra gente.
É andar, é andar!


(Mário Dionísio 1919/1993)

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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Mensagem de Natal... para os políticos deste país!

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Parábola das tristes décadas

Há trinta e cinco anos que vocês nos manipulam, nos dominam, nos mentem, nos omitem, nos desprezam.
Há trinta e cinco anos que nos roubam, não só os bens imediatos de que carecemos, como a esperança que alimenta as almas e favorece os sonhos.
Há trinta e cinco anos que cometem o pior dos pecados, aquele que consiste na imolação da nossa vida em favor da vossa gordura.
Há trinta e cinco anos que traem a Deus e aos homens, sem que a vossa boca se encha da lama da mentira.
Há trinta e cinco anos que criam legiões e legiões de desempregados, de desesperados, de açoitados pelo azorrague da vossa indignidade.
Há trinta e cinco anos que tripudiam sobre o que de mais sagrado existe em nós.
Há trinta e cinco anos que embalam as dores de duas gerações de jovens, e atiram-nos para as drogas, para o álcool, para uma existência sem rumo, sem direcção e sem sentido.
Há trinta e cinco anos que caminham, altaneiros e desprezíveis, pelo lado oposto ao das coisas justas.
Há trinta e cinco anos que são desonrados, torpes, vergonhosos e impróprios.
Há trinta e cinco anos que, nas vossas luras e covis, se acoitam os mais indecentes dos canalhas.
Há trinta e cinco anos que se alternam no mando, e o mando é a distribuição de benesses, prebendas, privilégios entre vocês.
Há trinta e cinco anos que fazem subir as escarpas da miséria e da fome milhões de pessoas que em vocês melancolicamente continuam a acreditar.
Há trinta e cinco anos que se protegem uns aos outros, que se não incriminam, que se resguardam, que se enriquecem, que não permitem que uns e outros sejam presos por crimes inomináveis.
Há trinta e cinco anos que vocês são sempre os mesmos, embora com rostos diferentes.
Há trinta e cinco anos que os mesmos jornais, sendo outros, e os mesmos jornalistas de outra configuração, sendo a mesma, disfarçam as vossas infâmias, ocultam as vossas ignomínias, dissimulam a dimensão imensa dos vossos crimes.
Há trinta e cinco anos sem vergonha, sem pudor, sem escrúpulo e sem remorso.
Há trinta e cinco anos que não estão dispostos a defender coisa alguma que concilie o respeito mútuo com a dimensão colectiva.
Há trinta e cinco anos que praticam o desacato moral contra a grandeza da justiça e a elevação do humano.
Há trinta e cinco anos que, com minúcia e zelo, construíram um país só para vocês.
Há trinta e cinco anos que moldaram a exclusão social, que esculpiram as várias faces da miséria e, agora, sem recato e sem pejo, um de vocês faz o discurso da indignação.
Há trinta e cinco anos começaram a edificar o medo, e o medo está em todo o lado: nas oficinas, nos escritórios, nos entreolhares, nas frases murmuradas, na cidade, na rua. O medo está vigilante. E está aqui mesmo, ao nosso lado.
Há trinta e cinco anos encenaram e negociaram, conforme a situação, o modo de criar novas submissões e impor o registo das variantes que vos interessavam.
Há trinta e cinco anos engendraram, sobre as nossas esperanças confusas, uma outra história natural da pulhice.
Há trinta e cinco anos que traíram os testamentos legados, que traíram os vossos mortos, que traíram os vossos mártires.
Há trinta e cinco anos que asfixiam o pensamento construtivo; que liquidaram as referências norteadoras; que escarneceram da nossa pessoal identidade; que a vossa ascensão não corresponde ao vosso mérito; que ignoram a conciliação entre semelhança e diferença; que condenam a norma imperativa do equilíbrio social.
Riam-se, riam-se. Vocês são uma gente que não presta para nada; que não vale nada.
Malditos sejam!

(Baptista Bastos, in "Jornal de Negócios" em 24/12/2010)



 
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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Isto dá que pensar... muito seriamente! - E assusta...

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As civilizações anteriores não desapareceram de um dia para o outro.  Umas foram mais rápidas outras menos no seu desaparecimento, mas todas elas tiveram as mesmas fases:  - o surgimento, o apogeu e o declínio.  A diferença está na duração de cada um destes ciclos;  nuns casos de milénios, noutros de alguns séculos.  Do mesmo modo que do surgimento ao desaparecimento de cada uma delas, só com o distanciamento de alguns séculos ou milénios a História consegue reunir factos que possam explicar os contornos dos ciclos das civilizações desaparecidas. 
Esta civilização ocidental, tal como a conhecemos hoje, estará já, tudo indica, na fase imparável do seu declínio.  A única diferença para as anteriores é que o declínio desta é perceptível e cada vez mais acelerado, e não irão ser necessárias demasiadas gerações nem séculos de distanciamento para definir claramente os seus contornos.  E muito menos para caracterizar o seu declínio.  Apercebemo-nos disso todos os dias, e reconhecemos os seus sintomas.  Somos espectadores intervenientes no processo e assistimos, em tempo real e impotentes, ao seu inexorável fim.  Ao ritmo a que tudo se desenrola actualmente, o intervalo de clivagem entre esta e a próxima será de apenas algumas dezenas de anos, em lugar de centenas ou de milhares!





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sábado, 18 de dezembro de 2010

Momentos de raiva - "No País dos Sacanas"

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Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?
Todos os são, mesmo os melhores, às suas horas,
e todos estão contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo melhor do que uma sacanice
para poder funcionar fraternalmente
a humidade de próstata ou das glândulas lacrimais,
para além das rivalidades, invejas e mesquinharias
em que tanto se dividem e afinal se irmanam.

Dizer-se que é de heróis e santos o país,
a ver se se convencem e puxam para cima as calças?
Para quê, se toda a gente sabe que só asnos,
ingénuos e sacaneados é que foram disso?

Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.
Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice,
porque no país dos sacanas, ninguém pode entender
que a nobreza, a dignidade, a independência, a
justiça, a bondade, etc., etc., sejam
outra coisa que não patifaria de sacanas refinados
a um ponto que os mais não são capazes de atingir.

No país dos sacanas, ser sacana e meio?
Não, que toda a gente já é pelo menos dois.
Como ser-se então nesse país? Não ser-se?
Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia.
Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma.


(Jorge de Sena)


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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O alentejano! - ahhh!... é um girasso! - muito prazer em conhecer!...

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Fiquei estarrecido!  É que não estava nada à espera de conhecer o alentejano!  Então não é que o magano do alentejano é bué de giro...  cheio de estilo e disponível 24 horas, bem apessoado e de bom tamanho, com um traseiro sensual por demais, bem falante e beijoqueiro, homem solteiro e prendado, um operacional com uma quinta e telemóvel, proprietário de 2 belos carrinhos, um Peugeot "400 e tal" e ainda este que faz as delícias de qualquer pretendente ao lugar, levando até a despertar quentes e voluptuosos sonhos eróticos naquelas almofadas de bancos em pele de camurça e caxemira!  Confesso-vos que é nestas alturas assim que lamento ter nascido homem, porque...  se mulher fosse, este alentejano não me escapava!  Por nada deste mundo...  juro!



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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Finalmente (!) o início da implosão “desta” justiça em Portugal ?

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Pela grande actualidade e pela extrema gravidade que este assunto tem para Portugal; pela importância fundamental que uma Justiça credível deverá representar num estado de direito;  pelo relevante papel que uma Justiça credível deverá ter na sustentação de um estado democrático;  pelos altos padrões de isenção e de competência que uma sociedade democrática deverá exigir da sua Justiça, reproduzo aqui dois postes do “José” no seu blogue “portadaloja” (na impossibilidade de os poder “linkar” isoladamente, em paginação Web: «http://»)

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A crise na Justiça

Os juízes que absolveram 11 dos 12 elementos do Gang do Multibanco, acusados de roubar mais de dois milhões de euros em caixas ATM, fizeram "um errado julgamento de parte significativa" das provas oque "foi gravemente lesivo dos interesses e expectativas das vítimas e corrosivo para a imagem de uma Justiça que tem vivido um dos seus piores momentos" diz o Tribunal da Relação de Lisboa, que ontem mandou repetir todo o julgamento.

No acórdão lê-se que " tomada em Julho por um colectivo de juízes das Varas Criminais de Lisboa, presidido por Nuno Ivo e de que faz parte Ana Teixeira e Silva (a juíza que livrou Paulo Pedroso de ir a julgamento no caso Casa Pia).

"Aquilo que haveria de ter sido dado como comprovado, ante a evidência e a irrefutabilidade de algumas provas" - na investigação da GNR, liderada pelo DIAP -, foi "fonte de dúvidas e conflitos de consciência". Se os juízes não viram as "provas para condenar [pelo menos sete elementos], para que ninguém seja condenado e o País entre em pânico com este tipo de criminalidade violenta, bastam um gorro, um par de luvas e força bruta".

Henrique Machado Correio da Manhã 15.12.2010

Não é muito vulgar este tipo de decisões em que juízes criticam desta forma outros juízes. Os juízes por natureza da função, são entidades independentes. Não respondem pelos actos que praticam na função jurisdicional, senão nos termos apertados do respectivo Estatuto.

Ainda assim, quando um tribunal da Relação, cujos nomes que o compõem não são notícia, ao contrário do que acontece com o dos juízes criticados, escreve que "é com um misto de incompreensão e perplexidade que se tenta entender a decisão", sendo uma das juízas criticadas a mesma que relatou o acórdão que provocou um escândalo nacional, é altura de o cidadão se interrogar como é que alguns juízes... o são. E como é que o CEJ, os formadores e os estágios deixam escapar para a função, pessoas que depois decidem do modo que a própria Relação entende como inaceitável e motivo de grande perplexidade e portanto escândalo.

Os juízes e os tribunais decidem em nome do povo. Se alguns juízes não entendem esta função e a natureza intrínseca da respectiva responsabilidade, haja pelo menos um Conselho Superior que actue, porque em determinado tipo de "erros grosseiros" já actuou.
Pelos vistos, estaremos perante um deles. Este bem notório, segundo a Relação...

- posted by josé @ 15.12.10

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A machadada final
Um inquérito ao estado da Nação hoje divulgado destaca a corrupção, a Justiça e a economia nacional como os indicadores com avaliação mais negativa.

SIC:

O processo “Face Oculta” vai transitar para o Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), em Lisboa, anunciou hoje o juiz presidente da Comarca do Baixo Vouga, Paulo Brandão, que revelou ainda que 10 arguidos pediram a instrução do

O pedido consta do requerimento de abertura da instrução enviado ao Tribunal de Aveiro, como confirmou à agência Lusa Artur Marques, advogado do empresário do ramo das sucatas que se encontra preso preventivamente há mais de um ano.

"Isto tem uma repercussão enorme. Está em causa o processo todo", sublinhou o advogado, afirmando que esta situação "tem como consequência a nulidade de todos os despachos que determinaram que se procedesse a escutas e os atos que determinaram a prisão preventiva do arguido".

Se o processo Face Oculta for arquivado por nulidade que inquina o processado, por motivos exclusivamente processuais e devido às leis que temos, aprovadas em 2007 pela Unidade de Missão do ministro Rui Pereira, justifica-se um levantamento nacional, uma greve de magistrados e um inquérito parlamentar para se apurarem como é que estes escândalos acontecem com a complacência ou porventura instigação do poder político do centro, in totum.

Essa eventual ocorrência representará a machadada final da credibilidade do nosso sistema de justiça e haverá que apurar de quem é a responsabilidade teórica e prática de tal facto.
Cá estaremos, porque esta pouca-vergonha não tem paralelo nos 36 anos de democracia.
Desde já adianto um suspeito: a escola de direito penal de Coimbra e os acólitos de Lisboa.

- posted by josé @ 14.12.10

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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Grécia Hoje: - Uma antevisão do "Portugal Amanhã" ?!... da "Europa Amanhã" ?!...

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Polícia de choque grega contra os manifestantes anti-austeridade
(A oitava greve geral pelo mal-estar dos cortes nos impostos)


Por Renee Maltezou e Behrakis Yannis
ATENAS
qua 15 dez 2010 0:56 pm EST

ATENAS (Reuters) - Manifestantes gregos entraram em confronto com a polícia e incendiaram carros e um hotel no centro de Atenas (quarta-feira), quando dezenas de milhares de pessoas marcharam contra as medidas de austeridade que visam tirar o país de uma crise da dívida.  A polícia de choque respondeu com dezenas de cartuchos de gás lacrimogéneo em confrontos que duraram mais de uma hora na maior e mais violenta marcha desde que três pessoas morreram nos protestos em Maio. A polícia perseguiu os jovens encapuzados que atiraram pedras e paus.  Horas antes, o parlamento aprovou mais reformas e cortes de despesas que são uma condição da UE / FMI para o resgate de 110 mil milhões de euros (US $ 150 bilhões) concedidos em Maio, em troca de fortes medidas de austeridade.
Trabalhadores do sector público e privado cancelaram vôos, fecharam escolas e paralizaram os transportes públicos; cerca de 50 mil marcharam pela capital - Atenas. Alguns gritavam: "Revolta! Reversão nas medidas do governo!"

Quando a marcha chegou ao Parlamento, cerca de 200 esquerdistas conservadores atacaram o ex-ministro dos transportes Kostis Hatzidakis com os punhos, pedras e paus, gritando: "Ladrões! Tenham vergonha!"  O rosto do ex-ministro ficou coberto de sangue, tendo-se abrigado num edifício, disseram testemunhas à Reuters. Segundo a polícia, nove pessoas foram presas e outras 11 detidas temporariamente, enquanto três ficaram feridas.
Três carros na Praça Syntagma estavam em chamas, enquanto um quarto do hotel de luxo estava em chamas depois de coquetéis molotov terem sido lançados. Fumaça e gás lacrimogéneo cobriram a praça e os transeuntes corriam freneticamente em busca de segurança.
"As pessoas dizem basta! A raiva é tão grande que ninguém pode pará-las", disse Ilias Iliopoulos, secretário-geral do sindicato ADEDY, acrescentando que a marcha era maior do que a de Maio, quando 50.000 participaram.  "Hoje é um aviso para o que se seguirá depois das férias", acrescentou.

Os navios permaneceram atracados nos portos, os hospitais trabalharam com o pessoal mínimo e os ministérios fecharam, os funcionários públicos e trabalhadores do sector privado ficaram afastados.
Sem os transportes públicos, as principais ruas do centro de Atenas ficaram atoladas, com os automobilistas esforçando-se para chegar ao trabalho. Não houve notícias na TV ou rádio, os jornalistas estavam em greve.
"Com a crescente raiva pública, o apoio dos sindicatos cada vez menor e o apoio da oposição ausente, o governo tem pela frente alguns meses difíceis", diz uma nota da consultora IHS Global Insight. "Mas a decisão do governo de manter-se num caminho reformista permanece intacta."

"Eu não posso sentar-me no sofá e ver meu país ir ao fundo. Estou aqui para gritar e lutar. Eu sou professora e muitos dos pais dos meus alunos estão desempregados", disse Anastasia Antonopoulou, de 50 anos, que viajou da ilha jónica de Zakynthos para a marcha.



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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Vaginal Music - um novo estilo musical...

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Que a vagina estimula os sentidos não é novidade -  isso já nós sabemos há muito.  Homens e mulheres.  Começando pelo da visão,  com todas aquelas libidinosas fantasias de apetecidos paraísos, sempre envoltos em enigmas por tão fabulosos tesouros escondidos.  O gosto,  tão apurado e sempre tão desejoso de adquirir mais e mais conhecimentos no contacto com todos aqueles apreciados sabores que a terra e o mar, tão pródigos em aromas, têm para oferecer.  O olfacto,  onde as feromonas actuam intensamente, excitando e despertando as narinas até nos fazer recuar aos tempos em que os humanos andavam de quatro (e quantas vezes não gostamos ainda de reproduzir esta antropológica posição...).  E que o tacto,  de todos o mais previlegiado dos sentidos, é aquele que melhor se aproveita dos outros e acaba sempre por levar o prémio maior, ao mesmo tempo que publicita bem alto a sua festa fazendo soar, estridentes e celestiais, todos os sinos e campaínhas em redor  -  tudo isso já nós sabíamos.  A audição,  porém, ficou de fora neste quente e húmido palco de múltiplas e divertidas variedades.  Nada sobrou para este sentido!  Até agora...

Que ela - a vagina - tantas e quantas vezes nos dá música para adormecermos... e até, travestida de cegonha, de vez em quando lá traz mais um para que o ciclo se não interrompa -  tudo isso já nós sabíamos.  Agora que ela também seria capaz de nos presentear com uma sinfonia vaginal...  isso já são coisas de fazer levantar o mais encolhido dos cidadãos! 
Farta de tanto canalizar para a vizinha boca os anúncios e os pregões de tantos e tais prazeres que a invadem, ela - a vagina - inventou finalmente um modo original de se expressar.  Como se ela precisasse de mais esta habilidade!    Pessoalmente, não gosto de pífaros.  Estou mais na gaita de foles.  Gostos...

Ainda assim...  será que alguém aqui quererá experimentar?  Que tal gravar uma pequena demonstração?  Prometo que a postarei aqui!  JURO!...



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Momentos de raiva - "Um agradecimento à corja"

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Obrigado, excelências.
Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade
de vivermos felizes e em paz.
Obrigado pelo exemplo que se esforçam em nos dar
de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem dignidade.

Obrigado por nos roubarem.
Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar
as coisas por que lutámos e às quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.

Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.
Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias
um dia menos interessante que o anterior.

Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade
e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.

Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer,
o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente
quem temos de rejeitar.


(Joaquim Pessoa)

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domingo, 12 de dezembro de 2010

Ele não deve; ele nunca deveu; ele nunca se atreve a dever! - Para que serve?

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Sim, para que serve um presidente que ocupa o cargo e não é capaz de assumir os seus poderes?  Para que serve um presidente que nunca deve falar, nunca deve comentar,  nunca deve pronunciar-se, nunca deve intervir, nunca deve demitir, nunca deve dissolver?   Afinal, o que deve então o presidente?  - viver dos rendimentos e receber mordomias, habitar um palácio na zona mais bonita da cidade, deslocar-se refasteladamente nos carros da presidência, cortar umas fitas aqui outras acolá, despejar um micro-discurso num qualquer microfone só para dizer que "já disse"...  Só isso? 

Não. Também para nos dizer o que é a "boa e a má moeda" política - sendo que a "boa" é a dele.  Também para nos dizer aquilo que toda a gente está farta de saber - que há fome neste país - como se ele não tivesse nada a ver com isso!  Que "os portugueses devem sentir-se envergonhados por haver gente com fome"...  como se ele próprio não tivesse concorrido para isso!  Primeiro, com 10 anos de governo despesista e amiguista, desbaratando toneladas de dinheiro que deveriam ter sido aplicadas na melhoria sustentada da geração actual e na preparação das gerações futuras.  Depois, com 5 anos de presidência sem que nada tivesse feito, sem que nada tivesse contribuído para evitar a hecatombe previsível da parte de um governo que nunca soube sê-lo,  que nunca, em nenhum momento, demonstrou capacidades para tirar o país da crise!  É preciso ter muita lata, sr. presidente!...  E muita falta de vergonha, sr. re-candidato a presidente!...




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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Porque hoje é sexta - "A Geografia da Mulher"

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A Geografia da Mulher:



Entre 18 e 25 anos,
a mulher é como o Continente Africano:
uma metade já foi descoberta e a outra metade
esconde a beleza ainda selvagem e deltas férteis.

Entre 26 e 35,
a mulher é como a América do Norte:
moderna, desenvolvida, civilizada
e aberta a negociações.

Entre 36 e 40,
é como a Índia:
muito quente, relaxada
e consciente da sua própria beleza.

Entre 41 e 50,
a mulher é como a França:
suavemente envelhecida,
mas ainda desejável de se visitar.

Entre 51 e 60,
é como a Jugoslávia:
perdeu a guerra,
é atormentada por fantasmas do passado,
mas empenha-se na reconstrução.

Entre 61 e 70,
ela é como a Rússia:
espaçosa, com fronteiras sem patrulha.
A camada de neve oculta grandes tesouros.

Entre 71 e 80,
a mulher é como a Mongólia:
com um passado glorioso de conquistas,
mas com poucas esperanças no futuro.

Depois dos 81,
ela é como o Afeganistão:
quase todos sabem onde está,
mas ninguém quer ir até lá.



Geografia do Homem:




Entre os 15 e os 80 anos,
o homem é como CUBA:
governado por um só membro.


(Urtiga arrancada deste jardim)

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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Os ricos que espoliam o Estado ignoram estas existências. Nada lhes tira o sono!

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(...)
Um velho pobre é uma abominação. É uma condenação à solidão, à doença, à miséria e à injustiça. Um velho pobre é invisível aos olhos ingratos da sociedade. Certa gente abandona os seus velhos à porta dos hospitais e parte para nunca mais voltar. Outra gente abandona-os num lar imundo e paga uma mensalidade para nunca mais os visitar. Conheci uma velha que há mais de 30 anos não via os filhos e os netos. Ninguém se ocupava dela e apesar disso conseguia gracejar sobre o seu estado e destituição. Temos crueldades para com os velhos impensáveis em sociedades como a chinesa, onde se honram os antepassados; ou a árabe, onde os pais são cuidados pela família alargada. Portugal é um país cruel com os seus velhos, desleixa-os, abandona-os e esquece-os. O Estado tem, a seu modo, cumprido essa função de velar pelos cidadãos que não podem velar por si.

Este Orçamento do Estado é cruel para com os velhos e reformados, os das esqueléticas pensões, os destituídos. Os velhos com direito a um Complemento Solidário do Idoso, os que têm rendimentos até 5 mil euros por ano (como é que alguém vive com este dinheiro?) ou rendimentos conjugais de cerca de 8 mil euros, não têm direito a sigilo bancário e são inspecionados e fiscalizados. Os filhos são inspecionados. Os velhos pobres, que não têm conforto nem dignidade assegurados, há muito que prescindiram de muita coisa nas suas vidas. O seu cabaz de compras há muito foi diminuído.

Prescindiram de ter dentes ou tratamentos dentários. O cheque-dentista é impossível de obter e a maioria nem sabe que existe. Prescindiram de ver televisão por cabo, viveram quase a vida toda num mundo a preto e branco. Prescindiram de caminhar nas ruas da cidade porque nos socalcos e empedrados as quedas podem ser fatais. Prescindiram de comer fruta fresca, aguentando-se com a fruta sovada da mercearia ou com uma peça de fruta por semana. Prescindiram de comer peixe porque não têm dinheiro para a iguaria. O carapau e a cavala nem sempre aparecem ou têm distribuição nos bairros. Prescindiram do hipermercado porque não têm carro e fica longe.

Prescindiram de tratar o reumatismo, a osteoporose, a hipertensão, a gota, o colesterol, a tiroide. Não têm dinheiro para a farmácia. Prescindiram do sono. Prescindiram de ir ao cinema porque é caro. Prescindiram de ir ao teatro porque é ainda mais caro. Prescindiram de fazer exercício físico porque o ginásio é um luxo de ricos, incluindo velhos ricos. Prescindiram da fisioterapia. Prescindiram das análises clínicas. Prescindiram do bife trocado pela carne de cozer. Prescindiram do cabeleireiro porque é um luxo. Prescindiram de ter um animal doméstico porque não têm dinheiro para o alimentar e vacinar. Prescindiram do café porque é uma despesa. Prescindiram de comer em restaurantes porque o gesto lhes consumiria a pensão. Prescindiram de visitar os amigos e parentes que estão longe porque não têm dinheiro para o transporte. Prescindiram de comprar óculos. Prescindiram de ler o jornal, tricotar, fazer croché. Prescindiram de viajar porque a única viagem que esperam será no caixão para o cemitério. Prescindiram de quase tudo o que traz um rasto de alegria e um módico de felicidade. Conversam uns com os outros num país de velhos.

Na solidão das casas e dos quartos, aguardam a chegada do inverno e do frio que lhes rói os ossos porque não têm dinheiro para as faturas da eletricidade. Alguns morrerão gelados ou da gripe. Prescindiram do banho quente. Quem não conhece estes velhos não conhece o pobre país que temos. Obrigá-los a pagar uma fatia, mínima que seja, do orçamento, é uma obscenidade. Fiscalizá-los também. Lá em cima, no assento etéreo, os ricos que espoliam o Estado ignoram estas existências. Nada lhes tira o sono.

(Clara Ferreira Alves - publicado na revista Única – Expresso, de 6 de Novembro de 2010)

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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Reformas e Acumulações dos Intocáveis - mas... alguém já acredita nisto?

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«Obrigatório optar entre pensão de reforma ou ordenado»
"O governo decidiu proibir a acumulação de salários com pensões. A partir de Janeiro, deputados, médicos, magistrados e até o Presidente da República vão ter de optar: ou recebem a pensão ou o salário. Termina assim a regra do terço para os aposentados que continuam na função pública e que lhes permitia acumular um terço do salário com a totalidade da reforma ou vice-versa. O governo justifica a medida como uma forma de moralizar a despesa pública". (04/11/2010)



Mas... alguém ainda acredita nisto?
Se algumas dúvidas houvesse, bastaria olhar para os vários regimes de excepção que já foram introduzidos, desde a isenção dos cortes salariais nos quadros da CGD (e por arrasto de todas as outras empresas do Estado) até à antecipação para 2010 das entregas dos dividendos aos accionistas da Portugal Telecom (fugindo assim aos impostos em 2011), desde a isenção dos cortes salariais nos diplomatas (embaixadores) até às compensações dos funcionários públicos dos Açores (anulando o efeito dos cortes obrigatórios no continente).  Haverá ainda alguém que acredite que este governo vá tocar, ainda que ao de leve, nas mordomias dos "intocáveis"?  Estaremos cá todos para ver o que vai acontecer a partir de 1 de Janeiro...

Todavia, se algumas dúvidas ainda houvesse, bastaria esta notícia para confirmar que nada, NADA vai mudar nas REFORMAS DE LUXO a partir de 1 de Janeiro, como já é hábito com este governo:

«Finanças perdoam acumulação ilegal»
"Ilegalidades detectadas por auditoria da inspecção-geral. Ministério das Finanças não pediu a devolução do pagamento ilegal de 1,6 milhões de euros a pessoas que acumularam salário e pensão no Estado". (CORREIO DA MANHÃ - 29/11/2010)

Segundo a redacção final do artigo 173º do OE, introduzido pelo PS e aprovado pela AR, "o regime de acumulação de funções introduzido pelo artigo 172º aplica-se aos pedidos de autorização de exercício de funções públicas que sejam apresentados a partir da entrada em vigor da lei do OE". - Grandioso!!!...
José Abraão, do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (SINTAP), é categórico: "É permitida a acumulação de ordenados e pensões, ao contrário do que o Governo andou a dizer". E remata: "Isto é uma vergonha, é mais uma excepção, e, de excepção em excepção, ficam só os funcionários públicos a pagar a crise".  Também Betencourt Picanço, líder do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE), é peremptório: "Não há dúvida nenhuma de que esta medida é só para o futuro". E conclui, dizendo: "Quem está a receber o salário e a pensão, continua a receber; são dois pesos e duas medidas".


Já agora... bem poderemos comparar toda esta canalhice das desigualdades e das promiscuidades entre reformas múltiplas e salários, praticadas neste país à beira da miséria e da bancarrota, com aquilo que se passa no país mais rico da Europa: - a Suíça!



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