Que leva a política portuguesa, num momento de tão grande aperto financeiro, a estar tão crispada? Que razão está na origem de ninguém confiar em ninguém? O primeiro-ministro gere o país ou gera problemas?
Aqui há um mês e meio, o Governo acusava o PSD de querer acabar com o Estado Social. Ontem*, apresentou um Orçamento do Estado que o destrói. As coisas têm de ser vistas no real e não nos discursos - a retórica, a habilidade, a falsa promessa, a demagogia, o ataque soez (e lamento não me lembrar de mais palavras dizíveis) que então campearam, eram injustificados.
Em Portugal, quando o líder da oposição afirma publicamente que se recusa a falar com o primeiro-ministro sem ser na presença de testemunhas, ninguém parece incomodar-se. Pois eu dou razão a Passos Coelho. Falar sem testemunhas na presença de alguém que hoje diz uma coisa e no dia seguinte outra, sempre com a mesma cara, torna-se perigoso.
O primeiro-ministro andou a celebrar as grandes obras - desde os funestos estádios do euro que andou a fazê-lo - prometeu cheques-bebé, apoios a pontapé, subsídios a torto e a direito e gabou-se do seu espírito social. Sabe-se hoje que o fez ou por ignorância total do que se estava a passar na Economia, ou - e não sei o que será pior - com o único fito de ganhar eleições. A esta última atitude chamava-se, nos tempos até hoje mais desprestigiados da política portuguesa, o 'bacalhau a pataco'.
Seja por ignorância cega (do que pessoalmente duvido) seja por eleitoralismo puro (que creio ter sido o motivo), viu-se que Sócrates não é de confiança. A sua fiabilidade, que já era quase nula, torna-se agora o maior entrave a qualquer acordo de regime que possa, de forma sensata, colocar o país numa rota de desenvolvimento.
Por tudo isto, é quase desumano exigir a Passos Coelho que deixe passar o OE. Mas é o que o PSD tem de fazer. Deve deixar Sócrates sofrer o mal que fez e não lhe permitir recorrer àquilo em que é especialista (e talvez prefira): armar-se em vítima.
Infelizmente, num país onde tanta gente e tanta empresa depende das benesses de um Estado comandado por um homem que não conhece limites à sua ação e poder, o medo de o dizer abunda: o chefe do Governo, José Sócrates, é hoje uma parte importante do problema político e económico do país. O Presidente da República sabe-o há muito, a oposição também não o desconhece e o próprio PS já o pressente. Mas ele é incapaz de o enxergar porque, da sua pequena perspetiva, ele vale mais do que o partido, do que o Governo e do que o futuro do país.
A questão, porém, tem de ser colocada do ponto de vista racional e não emocional: o país precisa de um Orçamento aprovado e Sócrates vai tê-lo.
Não o merece e se houver justiça há de pagar pelo que fez.
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