A República celebra o seu centenário. Ontem como hoje, as comemorações ficam-se pela capital, e o resto da pátria continua alheia. O mesmo sucedeu há 100 anos. De facto, a República não se impôs, instalou-se, depois de ter decapitado, com sangue, o regime. A morte de D. Carlos e do Príncipe da Beira, D. Luís Filipe, foram o argumento fáctico para o estertor de 750 anos de Monarquia. Com o decesso do Rei, fenecia o mínimo denominador comum da política oitocentista nacional. Por isso, e por mera coerência, o republicanismo militante deveria assinalar o 01 de Fevereiro de 1908 e não o 5 de Outubro. A Carbonária e o jacobinismo, foram os frios e implacáveis executores de um plano que desembocou na proclamação de José Relvas nos Paços do Concelho de Lisboa.
Instalado o novo regime, iniciaram-se as perseguições aos opositores e as incursões anticlericais, que só cessariam com Sidónio Pais. Quanto à nova esperança, que para alguns trouxe, esfumou-se numa constante sucessão de Governos (45 em 16 anos) e 7 Presidentes da República. As cisões no campo Republicano eram constantes até que culminaram na morte daquele que alguém já chamou de parteira da República, Machado dos Santos. De facto, volvidos 11 anos, os revoltosos eram mortos pelos seus pares na designada “Noite Sangrenta”. Pouco mais duraria a aventura jacobina. Em 1926 o regime soçobraria ante a ascensão de um brilhante estudante de Coimbra, que, dizem, era muito certo em contas. Tão certo que durante 48 anos Portugal mergulhou num regime de cariz autoritário.
A República jovem, laica e progressista que abominava o Liberalismo de uma Monarquia dita serôdia e revelha, caía de podre, com as Finanças colapsadas, e uma insustentável instabilidade política e social.
Ora, compulsando estes 100 anos, constata-se que cerca de metade corresponde a um outro novo Estado, que a República renega; 16 anos de um regime falhado e 36 de uma Democracia que se vê agora a braços com uma crise de carácter estrutural onde, diariamente, se aventa a sua sustentabilidade. Fala-se de definhamento, de deficit, da decadência do regime, do afastamento do sistema político pelos cidadãos, cassandras auguram o fim da Nação…!
Ante tal cenário, cabe perguntar se haverá algo a celebrar ou, pelo contrário, a equacionar? Ao que parece a História e o passado recente demonstram, amplamente, que a forma Republicana de Governo não se conjuga bem com Portugal.
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