sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Imagine(m) - como isto continua actual !...

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(Mário Crespo - in JN, 2009)


Imaginem que todos os gestores públicos das setenta e sete empresas do Estado decidiam voluntariamente baixar os seus vencimentos e prémios em dez por cento. Imaginem que decidiam fazer isso independentemente dos resultados. Se os resultados fossem bons as reduções contribuíam para a produtividade. Se fossem maus ajudavam em muito na recuperação.

Imaginem que os gestores públicos optavam por carros dez por cento mais baratos e que reduziam as suas dotações de combustível em dez por cento. Imaginem que as suas despesas de representação diminuíam dez por cento também. Que retiravam dez por cento ao que debitam regularmente nos cartões de crédito das empresas. Imaginem ainda que os carros pagos pelo Estado para funções do Estado tinham «ESTADO» escrito na porta. Imaginem que só eram usados em funções do Estado.

Imaginem que dispensavam dez por cento dos assessores e consultores e passavam a utilizar a prata da casa para o serviço público. Imaginem que gastavam dez por cento menos em pacotes de rescisão para quem trabalha e não se quer reformar. Imaginem que os gestores públicos do passado, que são os pensionistas milionários do presente, se inspiravam nisto e aceitavam uma redução de dez por cento nas suas pensões. Em todas as suas pensões. Eles acumulam várias. Não era nada de muito dramático. Ainda ficavam, todos, muito acima dos mil contos por mês.

Imaginem que o faziam, por ética ou por vergonha. Imaginem que o faziam por consciência. Imaginem o efeito que isto teria no défice das contas públicas. Imaginem os postos de trabalho que se mantinham e os que se criavam. Imaginem os lugares a aumentar nas faculdades, nas escolas, nas creches e nos lares. Imaginem este dinheiro a ser usado em tribunais para reduzir dez por cento o tempo de espera por uma sentença. Ou no posto de saúde para esperarmos menos dez por cento do tempo por uma consulta ou por uma operação às cataratas.

Imaginem remédios dez por cento mais baratos. Imaginem dentistas incluídos no serviço nacional de saúde. Imaginem a segurança que os municípios podiam comprar com esses dinheiros. Imaginem uma Polícia dez por cento mais bem paga, dez por cento mais bem equipada e mais motivada. Imaginem as pensões que se podiam actualizar. Imaginem todo esse dinheiro bem gerido. Imaginem IRC, IRS e IVA a descerem dez por cento também e a economia a soltar-se à velocidade de mais dez por cento em fábricas, lojas, ateliers, teatros, cinemas, estúdios, cafés, restaurantes e jardins.

Imaginem que o inédito acto de gestão de Fernando Pinto, de baixar dez por cento as remunerações do seu Conselho de Administração nesta altura de crise na TAP, no país e no Mundo é seguido pelas outras setenta e sete empresas públicas em Portugal. Imaginem que a histórica decisão de Fernando Pinto de reduzir em dez por cento os prémios de gestão, independentemente dos resultados serem bons ou maus, é seguida pelas outras empresas públicas. Imaginem que é seguida por aquelas que distribuem prémios quando dão prejuízo.

Imaginem que país podíamos ser se o fizéssemos.
Imaginem que país seremos se não o fizermos...


 O Abismo!...  ele aí está!
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4 comentários:

Karocha disse...

É como dizia o outro, quando estou ao pé do abismo,dou um passo em frente!

Milan Kem-Dera disse...

Agora damos todos, Karocha. Aliás, este governo não tem feito outra coisa desdo o início: -dar todos os dias um passo em frente... na direcção do abismo!

kakauzinha disse...

Já mergulhámos no abismo há muito. Porque a mentira é um poço sem fundo e vivemos todos os dias na maior mentira de sempre deste país.

:))****

Milan Kem-Dera disse...

E o abismo é bem mais profundo do que aquilo que parece. Os dinheiros do FSE foram o presente envenenado nas mão do Cavaco. Esbanjou-se tudo em políticas do betão, das terras em pousio e do abate dos barcos de pesca (fora aqueles que foram directinhos para as mãos dos amigos do partido).
E após este período actual da "mendicidade internacional", seguir-se-ão mais PECs, mais desemprego, mais miséria, fome, emigração, tudo isto à mistura com tumultos de vária ordem.
Mas parece que este povo ainda continua a viver no reino da fantasia! Ainda se não deu conta das reais profundezas do abismo para onde, em escassos 6 anos, estes miseráveis energúmenos nos atiraram!