sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Invenção portuguesa - a "Dívida Geracional"...

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Obrigado Aníbal e António pela dívida geracional

 

Existem os calotes, o mal-parado, as dívidas de curto, de médio e de longo prazo. Existe a dívida pública, a estrutural e agora temos também a dívida geracional. Em 2049, ou seja daqui a 39 anos, o meu filho Rodrigo que agora tem quatro anos, ainda vai estar a pagar todas as SCUT, o plano nacional rodoviário e as parcerias público-privadas lançadas até hoje.  Daqui a 39 anos Aníbal Cavaco Silva será mais do que uma nota de rodapé na política portuguesa. Se justiça for feita não será só por ter sido primeiro-ministro e Presidente da República, mas por ter sido com ele que se inaugurou na política portuguesa esta galinha dos ovos de ouro de políticos e para empresas.

Nada como fazer obra hoje e deixar para a próxima fornada de políticos a tarefa de aumentar os impostos para a poder pagar. Nada como impor a quem ainda nem nasceu o trabalho de pagar a obra de quem resolveu fazer um brilharete. Nada como garantir a faturação de empresas privadas durante anos à custa dos nossos impostos.  Hoje, sem contarmos com o TGV, a dívida geracional tem um impacto direto de 48,3 mil milhões de euros, um terço do PIB português. Indiretamente é muito superior, pois estas dívidas castram a economia e comprometem crescimentos futuros. E por muitos avisos que façamos, a estupidez megalómana dos políticos mantém-se.  Qualquer um que se sente na cadeira do poder, principalmente na de primeiro-ministro e na de ministro das Obras Públicas, começa a pensar em deixar o seu nome associado a uma qualquer obra, como se isso o fosse eternizar num estilo 'Duarte Pacheco'. E de facto essas obras eternizam, não o nome deles, mas as dívidas que deixam aos nossos filhos para que uma fita vermelha possa ser cortada e uns votos ganhos.


Muitas destas parcerias foram mal avaliadas, vendidas como se custassem zero ao Estado ou como se dessem mesmo lucro, para que no final se revelassem buracos de centenas de milhões de euros, como o caso da Lusoponte ou da Fertagus. E estas más decisões tomadas por Ferreira do Amaral, democratizadas por João Cravinho com as SCUT, e apoiadas por Cavaco Silva e António Guterres infelizmente nunca foram, nem serão, punidas. Hoje, vistos como grandes políticos e homens sérios da política são, afinal, eles os principais responsáveis por este aumento brutal de impostos que nos espera para os próximos anos.
Se tiver de apontar o dedo a alguém comece por eles.

(por João Vieira Pereira - caderno de economia do Expresso de 16/10/2010)


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