A propósito de eleições presidenciais...
Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura.
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado, de ter horas de ócio.
Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante.
Afinal o que importa é não ter medo:
fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício.
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema, madame blanche e parola.
Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque, assim como assim, ainda há muita gente que come.
Que afinal o que importa é não ter medo de chamar o gerente
e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora
– ah, lá fora! – rir de tudo
no riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados, e muitos, dentes brancos à mostra
(Mário Cesariny)
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