quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

“O tempo tudo cura e faz esquecer” - até mesmo Cavaco Silva!

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(...aposto que não vou falhar o "alvo"...   Belém!)

“O tempo tudo cura e faz esquecer” – diz o ditado popular.  Se na vida prática isto é de certa maneira animador,  já na política este conceito é extremamente perigoso.  Em política, deixar que o tempo faça esquecer é tão perigoso que, por termos esquecido, somos os maiores culpados de toda esta desgraça que nos acontece agora.  Simplesmente porque votámos neles.  Nestes dois: - Cavaco Silva e José Sócrates.  Esquecemos tudo o que de mal ambos já haviam feito antes, aquando das suas passagens pelos governos a que pertenceram ou chefiaram.

Já nessa altura, ambos deixaram bem claro ao que vinham, quanto valiam e do que eram capazes.  Diria melhor, "incapazes".  Mas bastaram alguns anos de afastamento e a maldita memória dos portugueses volatilizou-se.  E borraram tudo com o voto.  Borraram e reincidiram na borrada.  E preparam-se agora para borrar de novo.  Claro que se pode pôr a questão das alternativas.  Pois bem… esse é o nosso maior drama:  - as alternativas não são melhores.  Neste país desgraçado as alternativas políticas nunca são melhores.  Porque o sistema político-partidário aqui instalado tudo controla e manipula.  Porque somos poucos, e os bons, os capazes, os competentes, nada querem ter a ver com a política, de tão desacreditada e de tão recheada que está de crápulas oportunistas e de débeis mentais.

Agora mesmo, já em plena campanha para a eleição do Presidente da República, interessa colocar de novo a questão:  quem é este senhor – Cavaco Silva – que de novo se candidata à Presidência?  E pior, tudo leva a crer irá continuar o seu cargo por mais 5 anos.  Pelo seu mérito e competência? – Não.  Pela sua acção fundamental na regulação dos actos de um governo que, desde o seu início, deu as maiores provas de ineficiência de governação e de descontrole das contas públicas? – Não.  Pelas provas dadas durante os 10 anos (1985-1995), como Primeiro-ministro de 3 governos com maioria? - Não, nunca!  Mas o povo já esqueceu.  O tempo encarregou-se disso.  A memória do povo é curta…

Porque na verdade foi o Primeiro-ministro Cavaco Silva que, durante 10 anos seguidos e com os cofres a abarrotar de dinheiros da Europa, deu início à monstruosidade que agora, apenas 15 anos passados, nos atiram para a ruína e para a bancarrota.  Porque foi Cavaco Silva que governou o país num tempo em que Portugal começou a receber toneladas de dinheiro do Fundo Social Europeu (FSE).  Nunca, em toda a História de Portugal, houve tanto dinheiro como naqueles 10 anos dos 3 governos de Cavaco Silva.

E o que fez o Cavaco Silva Primeiro-ministro com tanto dinheiro?  E o que fez ele a tanto dinheiro?  - Estragou.  Desperdiçou.  Tomou as medidas erradas.  Deu-o a quem não devia.  Em vez de o usar na reconstrução e modernização deste país, limitou-se a fazer obras de fachada e a entregá-lo nas mãos dos crápulas, seus amigos do peito e do partido.  E estes bem trataram de se amanhar com os muitos milhares de milhões do FSE.  Em grande parte para proveito próprio ou em gestões ruinosas.  E foi com ele – Cavaco Silva - que se radicalizou, nas mentalidades e na prática, a “lei da cunha”.  E foi com ele que surgiram e por aqui começaram a proliferar uma nova estirpe de sanguessugas – os BOYS do partido.  Sanguessugas que actualmente atingem o seu apogeu, distribuídos pelo binário partidário PS/PSD, já que a esta festa dos milhões do FSE se juntaram, a partir de 1994, os Fundos de Coesão.  Mas o povo já esqueceu.  O tempo encarregou-se disso.  A memória do povo é curta…

E a factura do desgoverno destes governos de má memória e de péssimas opções políticas, está aí agora.  Traduzida no descalabro de uma ida aos infernos e que vai consumir e empobrecer o país durante as próximas décadas.  Um país que teve na mão todas as possibilidades de desenvolvimento real e sustentado, económica e socialmente, não fora o termos tido no momento certo o gestor errado: - um cidadão chamado Cavaco Silva que, para nossa desgraça, um dia decidiu viajar do Algarve até à Figueira da Foz  fazendo a rodagem ao carro novo… e nem sequer tivemos a sorte de um qualquer acidente naquela viagem. E assim Cavaco Silva se tornou a partir de então no maior acidente deste país!  -  um acidente que se revelou fatal, desde então até aos tempos actuais!...

Foi o tempo em que se investiu mais no betão do que nas pessoas.  Os governos do Cavaquismo, entre 1985 e 1995, ao mesmo tempo que encheram o país de estruturas, umas boas outras péssimas, umas necessárias outras nem por isso, favoreceram sobretudo uma cáfila de canalhas empreiteiros (amigos do partido) que tudo sugavam.  Durante todo aquele período tornaram-se comuns e ficaram célebres as "derrapagens" nos custos das obras públicas, acabando algumas delas por duplicarem ou mesmo triplicarem os custos iniciais das propostas apresentadas.  Infra-estruturas onde, desde então, se gastam milhões para as sustentar.  Milhões que foram, e ainda o são cada vez mais, usados para financiar a grande corrupção em Portugal.  Tudo dinheiros do FSE…

Foi o tempo dos inúmeros apoios com elevadas verbas atribuídas a projectos das mais variadas áreas, onde o principal requisito era provirem de amigos pessoais ou do partido, ainda que tais projectos fossem falsos ou de nenhum valor.  Dizia-se então que, para certas pessoas “especiais”, bastar-lhes-ia que apresentassem uma qualquer proposta, ainda que elaborada em  "duas folhas de papel higiénico", para que ela fosse de imediato aprovada sem restrições.  Tudo dinheiros do FSE…

Foi o tempo em que se encheu a Administração Pública de gente cuja competência era medida pelo tamanho da "cunha" ou pelo cartão de filiação partidária.  Durante todo este período, e apesar de estarem congelados os concursos para entrada na função pública, era comum aparecerem na Comunicação Social notícias sobre contratações (escondidas) de 40-50.000 funcionários por ano.  E todos sabíamos de que “alfobre” provinham todos esses novos contratos: - da clientela partidária.  Claro que todos os governos da alternância PS/PSD que se seguiram mais não fizeram do que continuar esta “habilidosa canalhice”, engordando cada vez mais o Estado com todos os seus amiguinhos e familiares e com a dimensão que hoje se lhe conhece.  Tudo dinheiros do FSE…

Foi o tempo em que se distribuíram, sem qualquer controle, milhões aos “auto-designados” agricultores, deixando que estes gastassem o dinheiro como muito bem entendessem, inclusivé em projectos ruinosos ou cujo alcance tinha em vista unicamente o mero encaixe pessoal das astronómicas verbas concedidas.  E foi assim que centenas de milhares de hectares de terras ficaram ao abandono, com os supostos autores dos projectos a viver à grande.  E continuam ainda hoje:  - as terras sem produção e os donos cheios de dinheiro.  Quantos projectos de produção e de vacarias nunca chegaram a passar do papel, transformados que foram em grandiosas vivendas com garagens recheadas de Mercedes e BMWs, e até de Porches e FerrarisTudo dinheiros do FSE…

Foi o tempo em que, como resultado não só das políticas internas mas também de acordos externos, foram abatidos milhares de barcos de pesca, do litoral e do alto, de uma imensa frota pesqueira nacional sustentada.  A favor de outros países, nomeadamente Espanha, donde hoje e desde então passámos a consumir a maior parte do peixe que nos chega ao prato.  Promovendo-se assim o desemprego e a miséria de largas dezenas de milhar de pescadores e armadores, para quem a pesca era a única forma de subsistência, obrigando-os a viver de subsídios.  Tudo dinheiros do FSE…

Foi o tempo da euforia e de um descalabro tal que muitos milhões do FSE foram concedidos a empresários que, sem qualquer controle, se davam ao luxo de atirarem anualmente para o lixo caríssimos equipamentos quase novos, só para poderem continuar a usufruir dos chorudos apoios comunitários para aquisição de novos equipamentos.  Tudo dinheiros do FSE…

Foi o tempo em que se fomentou a criação de  imensos cursos de formação, a grande maioria esvaziados de qualquer conteúdo e interesse,  muitos deles nem chegando sequer a existir.  Porque naquela "nova ordem" era imperioso gastar, gastar, sempre gastar.  Porque o que importava era arranjar sempre maneiras e expedientes ardilosos de encher o bandulho aos oportunistas com os imensos e aparentemente  "inesgotáveis"  dinheiros do FSE

Por tudo isto, e pelo muito mais que fica ainda por dizer, é no mínimo "caricato" ouvir hoje o candidato Cavaco Silva auto-proclamar-se o "defensor" deste país que, afinal, tanto ajudou a enterrar.  E mais, indicar mesmo algumas linhas de acção para o governo, como aquela de ser  "urgente virarmo-nos para o mar”...  - que lata!...

É no mínimo de muito má memória, este candidato Cavaco Silva!   E não só a dele - a colectiva também…

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4 comentários:

kakauzinha disse...

É pena que a memória seja sempre tão curta e que se continue a cair nos mesmos erros anos a fio, por uma comodidade absurda e imbecil, por preguiça de abrir os olhos à verdadeira realidade e não à que é "vendida".

Mas mais urgente é que todos os que sabem e divulgam todas estas tramóias pensem em constituir um novo Partido político. Cabeças não faltam. Precisamos de gente com verdadeiro sangue nas veias e mente limpa. Precisamos de gente que nos dê uma solução. E existe. Tal como tu. E todos juntos...

(*)

Milan Kem-Dera disse...

Obrigado pelo voto de confiança, kakauzinha. Mas alguém que tem da política a alergia que me dá, nunca poderia, ainda que lho suplicassem, emparceirar com tal espécie de gente.
Também sei que esta minha "doença" é comum a muito mais gente de excelentes capacidades, só que, tal como eu, da política fogem a sete pés. Pelo menos enquanto não houver uma forte "desinfestação" neste nosso aberrante, viciado e corrupto sistema político-partidário.

(*)

Karocha disse...

Eu tenho boa memória Milan!

Milan Kem-Dera disse...

Não duvido, Karocha. Que eu sei que tem boas e fortes razões para exercitar essa memória!
Principalmente quando vai às urnas de voto...