sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Mensagem de Natal... para os políticos deste país!

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Parábola das tristes décadas

Há trinta e cinco anos que vocês nos manipulam, nos dominam, nos mentem, nos omitem, nos desprezam.
Há trinta e cinco anos que nos roubam, não só os bens imediatos de que carecemos, como a esperança que alimenta as almas e favorece os sonhos.
Há trinta e cinco anos que cometem o pior dos pecados, aquele que consiste na imolação da nossa vida em favor da vossa gordura.
Há trinta e cinco anos que traem a Deus e aos homens, sem que a vossa boca se encha da lama da mentira.
Há trinta e cinco anos que criam legiões e legiões de desempregados, de desesperados, de açoitados pelo azorrague da vossa indignidade.
Há trinta e cinco anos que tripudiam sobre o que de mais sagrado existe em nós.
Há trinta e cinco anos que embalam as dores de duas gerações de jovens, e atiram-nos para as drogas, para o álcool, para uma existência sem rumo, sem direcção e sem sentido.
Há trinta e cinco anos que caminham, altaneiros e desprezíveis, pelo lado oposto ao das coisas justas.
Há trinta e cinco anos que são desonrados, torpes, vergonhosos e impróprios.
Há trinta e cinco anos que, nas vossas luras e covis, se acoitam os mais indecentes dos canalhas.
Há trinta e cinco anos que se alternam no mando, e o mando é a distribuição de benesses, prebendas, privilégios entre vocês.
Há trinta e cinco anos que fazem subir as escarpas da miséria e da fome milhões de pessoas que em vocês melancolicamente continuam a acreditar.
Há trinta e cinco anos que se protegem uns aos outros, que se não incriminam, que se resguardam, que se enriquecem, que não permitem que uns e outros sejam presos por crimes inomináveis.
Há trinta e cinco anos que vocês são sempre os mesmos, embora com rostos diferentes.
Há trinta e cinco anos que os mesmos jornais, sendo outros, e os mesmos jornalistas de outra configuração, sendo a mesma, disfarçam as vossas infâmias, ocultam as vossas ignomínias, dissimulam a dimensão imensa dos vossos crimes.
Há trinta e cinco anos sem vergonha, sem pudor, sem escrúpulo e sem remorso.
Há trinta e cinco anos que não estão dispostos a defender coisa alguma que concilie o respeito mútuo com a dimensão colectiva.
Há trinta e cinco anos que praticam o desacato moral contra a grandeza da justiça e a elevação do humano.
Há trinta e cinco anos que, com minúcia e zelo, construíram um país só para vocês.
Há trinta e cinco anos que moldaram a exclusão social, que esculpiram as várias faces da miséria e, agora, sem recato e sem pejo, um de vocês faz o discurso da indignação.
Há trinta e cinco anos começaram a edificar o medo, e o medo está em todo o lado: nas oficinas, nos escritórios, nos entreolhares, nas frases murmuradas, na cidade, na rua. O medo está vigilante. E está aqui mesmo, ao nosso lado.
Há trinta e cinco anos encenaram e negociaram, conforme a situação, o modo de criar novas submissões e impor o registo das variantes que vos interessavam.
Há trinta e cinco anos engendraram, sobre as nossas esperanças confusas, uma outra história natural da pulhice.
Há trinta e cinco anos que traíram os testamentos legados, que traíram os vossos mortos, que traíram os vossos mártires.
Há trinta e cinco anos que asfixiam o pensamento construtivo; que liquidaram as referências norteadoras; que escarneceram da nossa pessoal identidade; que a vossa ascensão não corresponde ao vosso mérito; que ignoram a conciliação entre semelhança e diferença; que condenam a norma imperativa do equilíbrio social.
Riam-se, riam-se. Vocês são uma gente que não presta para nada; que não vale nada.
Malditos sejam!

(Baptista Bastos, in "Jornal de Negócios" em 24/12/2010)



 
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5 comentários:

kakauzinha disse...

É impressionante como o nosso país sofre de diarreia há tantos anos!
Acho que é urgente inventar uma vacina anti-ladrões. E aos ladrões devia-se receitar um supositório de ácido sulfúrico e um clister de aguarrás 3 vezes ao dia, além das chicotadas no lombo, ali bem amarrados ao tronco.

Vivíamos na ditadura? Pois era, tadinhos de nós, ui ca medooo! Mas éramos independentes e tínhamos o Escudo na carteira. Agora vivemos na escravatura da Europa e andamos a toque de caixa da Alemanha, principalmente, e dos "cozinhados" da UE. E com o aério não nos governamos, está mais que visto. Porque dantes com 200 paus comprávamos muita coisa. Já 1 aério não dá nem para um lanchinho. Que progresso!

E faltam nas fotos outros "grandes artífices" da pilhagem: Cunhal, Vasco Gonçalves, Costa Gomes, Rosa Coutinho...

Não me lembro de mais "cérebros", mas há mais, a perder de vista.

E depois o boliqueimeiro e o pinóquio ainda têm a lata de nos desejar um Feliz Natal, como se tivessem distribuído a árvore das patacas. Só visto!

(*)

Milan Kem-Dera disse...

Durante toda a década de 80 tudo isto era tão doloroso e difícil... e eu, crédulo e ingénuo, ainda acreditava que isto iria melhorar, que não poderia ser sempre assim, que melhores dias haveriam de vir, que muito brevemente iríamos sair da fossa, que isto era um pesadelo de que logo, logo, nos iríamos libertar. Quanta ingenuidade!...

Não adivinhava eu que uma corja de crápulas malfeitores haveria de tomar de assalto o meu país e saqueá-lo de tudo o que ele de bom tinha.
E muito menos poderia adivinhar que, decorridos 36 anos, esta corja por cá se haveria de manter, revesando-se os mesmos nos mesmos lugares, e sempre dispostos a comerem tudo.
E tanto comeram que, já nada restando de nosso para lhes encher o bandulho, hipotecam agora o país, passeando o mundo de mão estendida e pedindo toneladas de dinheiro nos mercados internacionais, assim nos deixando cada vez mais pobres e endividados até ao fim das vidas dos nossos bisnetos!

O estrago e o saque que estes bandidos já fizeram, nem em três gerações irá ser recuperado.
E lembrar-me eu que não foram mais do que algumas dezenas os responsáveis por tamanha sacanice e roubalheira perpetrada sobre um país e um povo!

Tudo gente sem escrúpulos e sem vergonha. Verdadeiros traidores desta nação, em quem o povo (estúpido povo!) um dia neles acreditou e neles votou.
Traidores que, como tal, deveriam ser julgados e condenados!
Ainda e sempre, este "povo que lava no rio, que talha com o seu machado as tábuas do seu caixão"... para que estes pulhas vivam à grande, habitando em palácios e rodeados de mordomias, com chorudos ordenados e reformas, com bem recheadas contas bancárias na Suiça e em paraísos fiscais!

Estúpido povo este, que ainda lhes estende a passadeira quando esta corja se passeia pelo país a mendigar o seu voto!...

fatima disse...

Tudo isto é surreal. Destruiram as pescas, a agricultura, a metalurgia, a construção naval, a indústria química e vidreira. Destruiram os caminhos de ferro, as escolinhas, os centros de saúde, a educação, as aldeias, a História. Esta "gente" não é humana. Não pode ser humana. Estes filhos da puta (sorry, mas de momento não me ocorre outro nome), rebentam tudo, tudo seca à sua passagem. Malditos sejam!!!
Mas, acreditem, hão-de ter o que merecem. E não há-de faltar muito.

Desejo-vos um Bom Ano, que poderá bem ser o ano do "despertar", e acreditem que custou muito, mas já muito boa gente acordou. Gente que nunca pensei que viesse a acordar. O resto vai acordar a mal, nem que seja à biqueirada!

Um grande abraço a todos.
Fátima

Milan Kem-Dera disse...

" Esta "gente" não é humana. Não pode ser humana."

Fátima,
Pior, muito pior do que não serem humanos, esta gente é DESUMANA! No pior e mais repelente sentido que a palavra pode ter!
Gente que nunca deveria ter saído da sua condição de maltrapilhos e de vermes - a condição que detinham antes de terem assaltado o poder e de, com ele, terem comido toda a carne e bebido todo o sangue deste desgraçado país!

Agora, por fim, ainda andam a tentar enganar alguns, vendendo os ossos...

Karocha disse...

Milan

O Baptista Bastos já mudou de casa???