Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
a não ser conivente
na farsa do presente
posta em cena!
Não podemos mudar a hora da chegada,
nem talvez a mais certa,
a da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
do que presta
e não presta
nesta vida.
E o que não presta é isto, esta mentira
quotidiana.
Esta comédia desumana
e triste,
que cobre de soturna maldição
a própria indignação
que lhe resiste.
(Miguel Torga)
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