domingo, 3 de março de 2013

Não é bom viver no Portugal onde reina o engano e a mentira institucionalizada!

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LIBERDADE, ONDE ESTÁS?   QUEM TE DEMORA?

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Chamar a um novo plano de austeridade, o enésimo de há dois anos para cá, sempre precedido da mentira de que "não vai ser necessária mais austeridade", mais uma vez sobre os funcionários públicos, os pensionistas e os que precisam de serviços públicos de saúde, educação, e outros, essa coisa obscura e neutra de "medidas contingentes", não é também um insulto à nossa inteligência e, pior que tudo, uma ofensa aos que vão ser vítimas daquilo que o Governo chama "desvios na execução orçamental", ou seja erros?   A verdade, nua, bruta, cruel, dura, pétrea, é que cada vez que o Governo erra, há um novo plano de austeridade destinado a garantir que a mesma receita que falhou seja tentada de novo, com mais uns milhares de milhões retirados às pessoas, às famílias, à economia, para pagar uma obstinação, um beco sem saída ideológico, uma tese sem prova, uma abstracção intelectual, no fundo uma enorme vaidade sem perdão.   Sócrates deitou fora milhões e milhões mal gastos e perdulários, Passos Coelho deita fora milhões e milhões para um vazio de arrogância, ignorância e vaidade, sem melhorar o défice, aumentando a dívida, sem se ver qualquer utilidade.   Mas o dinheiro, antes como agora, foi para algum sítio.
 
E como aceitar o supremo insulto fruto de uma displicência que acaba por ser maldosa e arrogante, de se dizer que a recessão para este ano "aumenta de um ponto percentual", como se passasse de 35,4 para 36,4, quando passa de 35,4 para 70,8, usando estes números imaginários para se perceber a enormidade do "ponto percentual" que significa errar por 100%, duplicar por dois uma desgraça, que passa a ser o dobro do que era, ou seja uma pequena coisa, "um pequeno ponto percentual", como se fosse a coisa mais natural do mundo.
 
Os erros agora também se chamam "ajustamentos" e podem ser tidos apenas como a natural consequência da "dificuldade das previsões macroeconómicas", que se tem que ir "ajustando" mês a mês.   Mas os erros antes de serem "ajustados" acaso não foram instrumentos de combate político, fonte de afirmação de legitimidade, atirados contra todos os que suspeitavam da sua verdade e exequibilidade?   Não tem importância, encontra-se uma estatística qualquer que mostra que estamos no "caminho certo", mesmo que tudo esteja errado, e há sempre quem coma esta palha.
 
É tudo "ajustamento" porque os manipuladores das palavras entendem que, lá fora da sua janela do poder, tudo é plástico que se pode moldar, é tudo paisagem em que se pode plantar uma sebe alta para não ver o mais de um milhão de desempregados "em linha com o que estava previsto", e colocar os portugueses numa jaula de ratinhos a correr para fazer experiências.   E que tal cortar metade da comida a ver se eles se "ajustam" à "poupança" de só comer metade?   Trinta morrem, quarenta ficam doentes, vinte ainda têm gordura para aguentar.   Aguentam, aguentam, diz o tratador.   Excelente, ficam dez por cento, a "selecção natural" funcionou e deixou-nos com os mais fortes, os que se "ajustam", os "empreendedores".   Morreram alguns comidos pelos outros?   Não há problema, sempre há ratinhos "empreendedores" e que não são "piegas", e que mostram as virtudes do modelo.
 
No dia em que este Governo for corrido, pelo mesmo tipo de onda de rejeição que varreu o seu antecessor, só que agora do tamanho das ondas do Canhão da Nazaré, vai sair com a atitude daquele que diz:   o último a sair que feche a luz e a porta, porque já não é connosco, "queríamos mudar Portugal e não nos deixaram".   E irão para os seus lugares de acolhimento confortável, já pensados e preparados, sem temor e sem tremor.
 
No entretanto, estragaram Portugal com a mesma sanha do filósofo de Paris, numa situação que vai demorar décadas para ser consertada, se é que tem remédio.   Descaracterizaram o PSD como Sócrates fez ao PS, tornaram pestíferos os políticos em democracia e as instituições da democracia, destruíram a geração actual, a que tratam sobranceiramente como a dos "instalados" e querem desempregar para "ajustar" o preço da mão-de-obra, e hipotecaram a geração seguinte com a mesma antiga maldição da baixa qualificação, do provincianismo, do quotidiano de subsistência onde não há recursos para os bens materiais quanto mais para os "imateriais".
 
Vão deixar-nos na periferia da periferia, como um país eternamente assistido por uma Europa para quem pagar ao seu bom aluno são trocos desde que ele se porte bem.   Irá a troika, ficará o BCE, a Comissão Europeia e o Pacto orçamental.   Ficará um país medíocre e remediado, uma praia razoável para o Verão.   Deles vamos herdar uma enorme colecção de invejas e ressentimentos sociais, que dividirão os portugueses entre si, aumentando ao mesmo tempo a apatia e a violência social.
 
Não é bom viver no Portugal onde reina o engano e a mentira institucionalizada.   E não custa prever o futuro.   Está tudo nas palavras.
 
(Fonte e artigo completo:  José Pacheco Pereira, In ABRUPTO)
 
 

2 comentários:

Anónimo disse...

Está provada a forma como este governo joga. Acabou com o sector da construção em Portugal, sobraram as empresas onde o estado tem mais amigos.. Agora vão "reanimar" a construção atirando notas para cima dos amigos das empresas que sobraram, para construírem coisas desnecessárias e em duplicado, barragens que a EDP vai usar para fazer milhões comprando de borla a energia das ventoinhas e vendendo mais caro aos contribuintes que pagam as suas barragens.
O Estado só atira dinheiro para onde houver um amigo, seja banqueiro ou accionista da mota-engil, ou o Mexia, que fala na tv como se tivesse sido ele que agarrou numa pá e construiu toda a EDP até ser privatizada. Se me dissessem que estes 5000M eram para reabilitar os edifícios do Estado para deixarem de pagar somas astronómicas de rendas aos amigos que constroem CAMPUS de Justiças nos parques das nações deste belo país, eu apoiaria. Em suma, é preciso mudar tudo, para que continue tudo na mesma...

Cumprimentos

Milan Kem-Dera disse...

Infelizmente tudo o que diz é verdade. (Isto e muito mais).
Estou de acordo consigo.

Cumprimentos