terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O actual conceito de integridade moral… ou, a imoralidade política integral !...

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 Embora já nada me espante nestes políticos de faz-de-conta, a verdade é que, em algumas ocasiões, eu ainda fico pasmado com o desplante e a desvergonha destas figuras. Refiro-me ao facto de o sr. Jorge Sampaio se ter prestado a depor, recentemente, a favor de um dos arguidos do caso Face Oculta, desfazendo-se depois em desbragadas declarações para a Comunicação Social, tentando aligeirar o fardo da acusação que impende sobre o seu “amigo” Penedos e as “prendas” que este terá recebido do sucateiro de Ovar, alegando mesmo,  pasme-se,  tratar-se de uma postura tão usual e inocente que ele próprio, enquanto presidente da República, havia tido duas salas cheias de prendas.

Isto dá que pensar e faz-me reflectir sobre os deturpados e muito “sui generis” conceitos de seriedade e de integridade moral que integram a personalidade desta gente que governa este país até ao seu mais alto cargo – o da presidência da República.  Aquilo a que o sr. Jorge Sampaio considera usual e inocente, chamo eu de falta-de-vergonha e de abuso-do-poder, e, vindo de um ex-presidente da República, torna-se ainda mais grave.  Muito mais grave!  É que toda a gente sabe que ninguém dá almoços grátis a ninguém!  Duma maneira ou doutra, eles irão ser pagos um dia, mais cedo ou mais tarde...

 E recordo a propósito a atitude de um seu antecessor na presidência – o General Ramalho Eanes – que ao ser-lhe oferecido em Mangualde, aquando de uma visita à fábrica Renault, uma viatura topo de gama (Renault-25), agradeceu reconhecido o gesto mas mandou entregar o carro a uma instituição de solidariedade social. Recordo também que, na altura, o seu carro particular era um pequeno e vulgar utilitário, e que certamente lhe faria bastante jeito arrecadá-lo, não nas salas do sr. Jorge Sampaio mas na garagem da sua própria casa.  Mas a integridade moral de Ramalho Eanes, aliados a um “outro” conceito de seriedade diferente daquele que integra a moral do sr. Jorge Sampaio, impediu-o de aceitar a “prenda”, que lhe sujaria as mãos no volante e lhe provocaria insónias na hora de dormir!

Quão diferentes e despresíveis são os valores éticos e morais desta gentinha dos partidos políticos para quem, desde há muito,  já se banalizou e tornou aceite e válida a completa inversão destes valores!

E, ainda a propósito desta mesma crise de valores pós-abrilada por parte desta gente que só consegue provocar o vómito nas pessoas verdadeiramente íntegras, bem como das notícias recentes da existência de mais duas cópias das escutas do caso “Face Oculta (a salvo, felizmente!)  nas mãos do juiz Carlos Alexandre e de tudo aquilo que rodeou a destruição das primeiras e das actuações de todos os envolvidos na decisão, recordo também aqui um artigo do Mário Crespo - «Os Intocáveis», ainda como jornalista do JN antes de ser “despachado” pelas “amplas liberdades” do PS-Sócrates:

(…)
A brilhante investigação do Ministério Público e da Polícia Judiciária de Aveiro revela um universo de roubalheira demasiado gritante para ser encoberto por segredos de justiça.  O país tem de saber de tudo porque, por cada sucateiro que dá um Mercedes topo de gama a um agente do Estado, há 50 famílias desempregadas.  É dinheiro público que paga concursos viciados, subornos e sinecuras.  Com a lentidão da Justiça e a panóplia de artifícios dilatórios à disposição dos advogados, os silêncios dão aos criminosos tempo.  Tempo para que os delitos caiam no esquecimento e a prática de crimes na habituação.  Foi para isso que o primeiro-ministro contribuiu quando, questionado sobre a Face Oculta, respondeu: "O Senhor jornalista devia saber que eu não comento processos judiciais em curso (…)".

O "Senhor jornalista" provavelmente já sabia, mas se calhar julgava que Sócrates tinha mudado neste mandato.  Armando Vara é seu camarada de partido, seu amigo, foi seu colega de governo e seu companheiro de carteira nessa "escola de saber" que era a Universidade Independente.  Licenciaram-se os dois nas ciências lá disponíveis quase na mesma altura.  Mas sobretudo, Vara geria (de facto ainda gere) milhões em dinheiros públicos.  Por esses, Sócrates tem de responder.  Tal como tem de responder pelos valores do património nacional que lhe foram e ainda estão confiados e que à força de milhões de libras esterlinas podem ter sido lesados no Freeport.

Face ao que (felizmente) já se sabe sobre as redes de corrupção em Portugal, um chefe de Governo não se pode refugiar no "no comment" a que a Justiça supostamente o obriga, porque a Justiça não o obriga a nada disso.  Pelo contrário.  Exige-lhe que fale.  Que diga que estas práticas não podem ser toleradas e que dê conta do que está a fazer para lhes pôr um fim.  Declarações idênticas de não-comentário têm sido produzidas pelo presidente Cavaco Silva sobre o Freeport, sobre Lopes da Mota, sobre o BPN, sobre a SLN, sobre Dias Loureiro, sobre Oliveira Costa e tudo o mais que tem lançado dúvidas sobre a lisura da nossa vida pública.
Estes silêncios que variam entre o ameaçador, o irónico e o cínico, estão a dar ao país uma mensagem clara: - os agentes do Estado protegem-se uns aos outros com silêncios cúmplices sempre que um deles é apanhado com as calças na mão (ou sem elas) violando crianças da Casa Pia, roubando carris para vender na sucata, viabilizando centros comerciais em cima de reservas naturais, comprando habilitações para preencher os vazios humanísticos que a aculturação deixou em aberto ou aceitando acções não cotadas de uma qualquer obscuridade empresarial que rendem 147,5% ao ano.

Lida cá fora a mensagem traduz-se na simplicidade brutal do mais interiorizado conceito em Portugal: - nos grandes ninguém toca.

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