Paulo Morais, ex vice-presidente da Câmara do Porto e vice-presidente da organização não governamental "Transparência e Integridade", aqui em mais uma denúncia da despudorada promiscuidade existente no Parlamento (e fora dele) entre os interesses privados dos deputados e a falsa obrigatoriedade da defesa da coisa pública, chegando mesmo a apelidá-lo de "centro de corrupção", de "central de negócios privados" e de "escritório de advogados em open-space".
Portugal...que futuro?
Os portugueses sentem-se perdidos. Desiludidos com Passos Coelho, não vêem na oposição uma alternativa credível e de Cavaco Silva já não esperam qualquer solução. Ao fim de um ano de mandato, Passos vive dias difíceis. Tem contra si a opinião pública, por causa das promessas não cumpridas. Depois de se ter comprometido a não baixar os salários e a não aumentar os impostos, fez exactamente o contrário e conta agora com o divórcio da maioria dos portugueses.
Ainda por cima, a população não entende a razão de ser destes sacrifícios. Em primeiro lugar, porque eles não são igualmente repartidos. A Banca mantém os seus privilégios, as rendas pagas à EDP ou nas parcerias público-privadas não param de crescer. E, além do mais, nem sequer as contas públicas se reequilibram, pois, apesar do aumento de impostos, a colecta reduz-se, o ministro das Finanças não cessa de errar nas suas previsões. É o descalabro das contas públicas.
Dentro do seu governo, é chamuscado pelo escândalo Relvas. Não conta com a solidariedade do seu parceiro de coligação, o PP (Paulo Portas), cujo principal objectivo é fazer campanha por si e pelos seus ministros. A deslealdade é, aliás, uma marca histórica no PP, vem de longe. Mas até do interior do PSD saltam farpas contra o primeiro-ministro. Os barões conspiram diariamente contra Passos. Esperançados numa escorregadela do governo, cavaquistas, leitistas e barrosistas espreitam a sua oportunidade.
Por outro lado, a oposição socialista descredibiliza-se. O seu líder, Seguro, apresenta um discurso vácuo e inconsequente. Ao fim de longos meses de mandato, ainda ninguém percebe o que pensa Seguro sobre qualquer matéria de relevo.
Num País sem governo e sem oposição, já nem o Presidente tranquiliza os portugueses. Descredibilizado pela gaffe da sua "modesta" reforma, Cavaco arrastar-se-á até ao fim do mandato, vaiado nas ruas. Resta-lhe o papel de comentador da actualidade. Mas essa função Marcelo desempenha melhor. Com o desemprego a atingir uma dimensão perigosa, na ordem dos quinze por cento, as famílias em dificuldades económicas, as empresas descapitalizadas e a classe política completamente descredibilizada – é o futuro que está posto em causa.
(Paulo Morais, In Correio da Manhã)
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4 comentários:
Eu pergunto o mesmo...
"Portugal que futuro?"
Seu blogs :
Muito interessante e bom,
atual e ativo,
corajoso e forte,
verdadeiro e honesto.
Belo texto!
Maria Luísa
p.s.(escrevo poesia nos "7degraus")
Olá Milan,
Isto é uma vergonha para nós portugueses. Sabermos o que nos estão a fazer e que não passa de uma técnica de genocídio anglo-saxónica, com traidores a desgovernarem o País... e não fazemos nada.
O pior é que eles sabem disso e até já deixam passar a mensagem na TV. Que povo alienado e anestesiado!
Um abraço
Olá Fada
Estes pulhas perderam completamente a vergonha sabendo, como sabem, que as leis por eles próprios feitas os protegem completamente de acabarem na prisão.
Existe até uma certa ministra da justiça que tem como missão fazer a revisão do código penal, mas de tal código... nada, até agora.
E quando sair, o que sair não será mais do que uma montanha que pariu um rato - ou não fosse ela parte integrante do sistema actual!
Este texto é uma beleza!
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