segunda-feira, 8 de abril de 2013

Não vai ser bonito, quando a guerra que está a ser lançada aos portugueses fizer ricochete...

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O Governo lançou uma guerra aos portugueses
 
 
Ao ouvir o discurso de Pedro Passos Coelho ao país, não pude deixar de sentir que estava a assistir ao culminar de uma farsa construída nos gabinetes governamentais durante as últimas semanas.
 
A realidade desmente qualquer mistificação, vulgo spin.    O Governo falhou.    Falhou tanto e tão completamente que a troika ainda está a ponderar se liberta a próxima tranche do resgate.    Falhou todas as previsões, sim, incluindo o défice e a dívida, e por larga margem.    E sobretudo perdeu o país, e vai perdendo mais de dia para dia.    O Governo falhou de forma tão desastrosa que o corte de 4000 milhões no estado social tinha sido adiado sem data prevista de anúncio.    Fracassou em tudo, e apenas teve para apresentar ao país mais fracassos, quando Vítor Gaspar anunciou a revisão das metas orçamentais do défice, da dívida, do desemprego, da recessão.
 
Mas o Governo - e as centenas de assessores que tem contratado durante os últimos dois anos - sabia que ainda tinha uma última tábua de salvação:    a decisão do Tribunal Constitucional sobre as normas ilegais do Orçamento.    Por isso, adiou.    Adiou a apresentação dos cortes - era suposto ter sido em Fevereiro;    e adiou a remodelação - vem aí já a seguir.    Não irei tão longe a ponto de achar que o Governo sabia muito bem que o TC iria decidir como decidiu, embora não seja de excluir que soubesse, desde o primeiro momento.    Provavelmente, começou a perceber desde o início do ano que poderia usar o previsível chumbo a seu favor.    Abril é o mês em que são tornados públicos os números da execução orçamental do primeiro trimestre, é o mês ideal para ensaiar esta desprezível farsa.
 
As notícias vindas dos gabinetes começaram a saltar como pipocas.    Os comentadores televisivos fizeram o seu papel, cumprindo na perfeição o guião decidido à partida.    O papel dos comentadores políticos - os mais mediáticos são do PSD - é validar o rumo que está a ser seguido.    E assim fizeram.    As críticas ao Tribunal Constitucional, indignas de um estado de direito, multiplicaram-se.    O pânico foi lançado na opinião pública:    um chumbo significaria um segundo resgate - como se esse segundo resgate já não estivesse a ser preparado pelo Governo desde a última avaliação da Troika - e os mercados iriam por aí abaixo.    O Governo não só sabia que isto iria acontecer como alimentou o pânico.    E alimentou o pânico também com a história da queda do Governo.    Os comentadores lá papaguearam a narrativa:    a queda do Governo seria desastrosa para o país. 
 
A verdade é que nem só o Governo teve alguma vez intenção de se demitir, como Cavaco Silva, desde o primeiro dia desta coligação, apenas existe para o manter em funções.    Passos Coelho está tão colado ao poder como Miguel Relvas - tanto, que este teve de ser sacrificado para que Coelho pudesse continuar a ser primeiro-ministro.    Para quê?    Para transformar o país, ou, por outras palavras, acabar com a herança de Abril, destruindo o estado social e os valores que o regem, fazendo-nos regredir quarenta anos de uma assentada.    A dramatização serviu um propósito, o chumbo do Orçamento é apenas um pretexto para continuar com o mais selvagem revanchismo da direita a que temos oportunidade de assistir desde o 25 de Abril.
 
Por isso, não surpreende que Passos Coelho e o PSD tenham demonstrado tanto desrespeito pela Constituição.    O programa de destruição da democracia que estão a ensaiar implica, pela sua natureza, o completo desregulamento das instituições democráticas, começando pela lei fundamental do país.    Portugal é, neste momento, um país a saque pela direita dos interesses e pelo capital financeiro que a apoia.    Não vão cair, porque não têm respeito nem pelas leis nem por eles próprios, e têm um inútil da mesma cor política a ocupar a cadeira de presidente da República.   
 
O que falha, nesta narrativa?    Apenas os limites para a paciência do povo.    Porque parece-me que pouca gente acreditará no discurso de um Governo que está a empobrecer-nos para níveis há muito esquecidos.    Um Governo que governa para os credores do país e para os seus interesses é um Governo a prazo.    Não vai ser bonito, quando a guerra que está a ser lançada aos portugueses fizer ricochete.    Estaremos todos cá para ver, de poltrona.

(Por Sérgio Lavos, no Arrastão) (sublinhados deste blogue)


1 comentário:

Anónimo disse...

Bem escrito, bem observado, concordo plenamente, tudo combinado e por agora estão a ganhar por larga margem, mas esperemos que Portugal acorde e comece a reverter esta situação. Temos de acabar com esta gente e sair do Euro, começar a estragar os planos mundiais do "takeover" global dos psicopatas da finança a quem estes vermes, medíocres e traidores obedecem cegamente e vaidosamente. A lavagem ao cérebro e a contra informação que nos impingem é nojenta, mas há que estar atento e não nos esquecermos que o objectivo deles é ricos e escravos, nós seremos os escravos...