sábado, 16 de fevereiro de 2013

AO QUE CHEGÁMOS !...

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Esta ideia que pretende impor-se de que não existe alternativa a este caminho é típica de regimes totalitários.
 
É aliás daí, do totalitarismo, que vem a inspiração para ideias tão peregrinas como a da criação de milícias populares que denunciem os comerciantes malandros que não passam faturas, ou, pior ainda, a obrigatoriedade de fazer constar dos talões de compra dados pessoais do consumidor.   Estas, como por exemplo a intenção de fiscalizar os fumadores dentro dos carros, são ideias de um Governo que foi eleito com base na premissa de que o Estado é um empecilho e deve fazer-se sentir o menos possível na vida dos cidadãos.   Mas, ironia das ironias, a presença do Estado nunca foi tão percetível, em democracia, e pelas piores razões, como com o atual Governo.
 
Em democracia não há pensamento nem partido único.   E, por definição, há sempre alternativas.   Nem que seja o inevitável alargamento dos prazos de maturidade para pagamento dos empréstimos que contraímos.   É óbvio que, para que elas se manifestem, é necessário que as oposições tenham discurso.   Honra lhes seja feita, o PCP e o BE são claros e coerentes no caminho que propõem:   romper com a troika e rasgar o "Pacto de Agressão".   E o que diz o PS?   O que é que fará de diferente?   Em que é que se vai distinguir da atual maioria?   Que relação terá com o Memorando, com a dívida e com o embuste apelidado de "reforma do Estado"?
 
Pacheco Pereira sugeriu esta semana, por exemplo, que os socialistas deviam ter a coragem de fazer uso da sua capacidade de "veto informal", isto é, que em matérias fundamentais como o corte permanente de 4 mil milhões nas despesas sociais do Estado, no aumento do salário mínimo, nas taxas moderadoras da saúde, ou nas condições de acesso ao subsídio de desemprego o PS anunciasse, de forma solene, que fará exatamente o contrário daquilo que a maioria atual está a pôr em prática e que reporá todas as prestações que agora venham a ser cortadas.   Isso, naturalmente, obrigaria a troika a negociar e a rever a sua receita que tão maus resultados tem dado.   Mas, para isso, é preciso ter argumentário e capacidade de proposta e, sobretudo, coragem para, se necessário for, romper com um memorando que já nada tem a ver com o original, negociado pelo anterior Governo com a bênção de PSD e CDS, então na oposição.
 
Como é óbvio, o País já não aguenta.   E das duas, uma:   ou se trava a espiral recessiva já denunciada pelo Presidente da República - (a propósito, alguém sabe onde está Cavaco Silva?) - enquanto é tempo, ou, chegados ao nosso trágico destino, já nada haverá para salvar.   A escolha é simples.   Porque, como escreveu um dia Victor Hugo, "entre um governo que faz o mal e o povo que o consente, há uma certa cumplicidade vergonhosa".
 
(Nuno Saraiva, In DN - 16/02/2013)  (Os sublinhados são deste blogue)
 
 

 
 

1 comentário:

Milan Kem-Dera disse...

Caro menvp

Não digo "referendo"... mas há maneiras de limitar a actuação do estado nesta matéria. No resto, estou inteiramente de acordo!