O multimilionário e investidor George Soros, numa entrevista
publicada hoje pelo jornal "El País", tece duras críticas ao papel da Alemanha
na gestão das crises europeias e defende a necessidade de se recuperar o
espírito de cooperação e solidariedade entre os países-membros da União.
"A Alemanha deve decidir se quer refazer a Europa da forma em que
originalmente estava destinada a ser, que pressupõe aceitar as responsabilidades
necessárias para avançar nessa direcção, ou deve considerar sair do euro e deixar
o resto dos países que acreditam nos eurobonds e podem combater a crise",
diz George Soros ao "El País".
Segundo o investidor, que está na 30ª posição do ranking
dos bilionários da revista "Forbes", só é possível parar a espiral recessiva na
União Europeia alterando as políticas. "A política actual leva a uma dinâmica que consiste em sofrer uma
crise atrás da outra, porque só quando o quadro se torna muito feio os países
credores liderados pela Alemanha estendem apoio aos devedores", acrescenta
Soros, sublinhando que essa política não funciona porque peca por ser demasiado
tardia.
Saída não significaria fim do euro
Questionado sobre se a saída da Alemanha da zona euro
significaria o fim da moeda única, George Soros diz claramente que não,
apontando para o papel importante do Banco Central Europeu. Na visão do
investidor, os países devedores teriam necessariamente de seguir uma política
comum para manter o euro, caso contrário pagariam um "preço terrível."
George Soros diz também acreditar que se a Alemanha saísse do
euro, os países devedores de transformariam em economias competitivas e as suas
dívidas diminuiriam fortemente face à desvalorização da moeda única. O principal
prejudicado seria o próprio país, defende.
"O preço do ajuste recairia sobre a Alemanha, que teria que lidar
com dificuldades, porque de repente os seus mercados seriam inundados por
importações do resto da Europa", explica Soros.
O investidor húngaro-americano volta ainda a defender a
necessidade de converter a dívida existente em eurobonds para se sair da
crise, frisando que cabe à Alemanha mudar de direção e aceitar os
eurobonds o mais breve possível, a fim de evitar que a situação se
deteriore ainda mais.
Neste sentido, George Soros defende a necessidade de se recuperar
o espírito de "cooperação" na União Europeia, entre países credores e devedores,
salvaguardando o futuro.
"A crise do euro transformou a União Europeia numa
associação voluntária entre Estados iguais numa relação entre credor e devedor. E em situação de crise, os credores ditam o fim da relação, que leva a que os
devedores fiquem sempre numa pior situação. E isso condena a União Europeia a um
futuro muito sombrio", remata.
Alemanha tem de virar 180º
O multimilionário disse ao jornal "El País" que a chanceler Ângela Merkel "tem de fazer marcha atrás". Se o não fizer, o "cenário mais possível" é um regresso da Europa "aos nacionalismos extremistas" de "uns países contra os outros".
A Alemanha comete "um erro básico" e optou por um caminho
distinto do que os Estados Unidos fizeram após a 2ª Guerra Mundial. "A ideia da
Alemanha de que se pode reduzir a dívida contraindo a economia é não perceber
como funciona a economia", afirma George Soros na entrevista. "A Alemanha tem de virar
180º a sua atitude, tem de fazer marcha atrás" face a uma crise múltipla na zona
euro - crise das dívidas soberanas, crise bancária, divergências de
competitividade entre países membros e também crise política.
Se o não fizer, o multimilionário teme o pior na União Europeia,
o que o torna "muito, muito pessimista" sobre o futuro. Nesse "cenário mais
possível", Soros prevê que "as dinâmicas políticas levem ao auge governos
nacionalistas extremistas em boa parte da Europa, o que é terrível, porque isso
provocará reivindicações impossíveis de uns contra os outros e muito
ressentimento e hostilidade".
"Há um sério risco de que aconteça um acidente
[financeiro], do tipo do Lehman Brothers", sublinha, caso a estratégia alemã
prossiga.
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