quinta-feira, 31 de agosto de 2017

OS "PSICOPATAS DOMÉSTICOS" E A DESTRUIÇÃO DAS RELAÇÕES





Os psicopatas integrados não sentem empatia, compaixão ou remorso.
Sem sentimentos, são mentirosos e manipuladores, até nas relações amorosas.
Os psicopatas integrados parecem pessoas normais até os destruírem. 
(Iñaki Piñuel).
nós e

Iñaki Piñuel é doutorado em Psicologia, é psico-terapeuta e investigador especializado na
avaliação e no tratamento das vítimas de abuso psicológico e de psicopatas integrados.


Nem todos os psicopatas têm um desejo mórbido de tirar vidas, embora haja aqueles que conseguem destruí-las apenas com recurso à violência psicológica e emocional. Iñaki Piñuel chama-lhes “psicopatas integrados” ou “psicopatas domésticos”.  
O psico-terapeuta, professor universitário e investigador espanhol é o autor do novo livro “Amor Zero - Como sobreviver a uma relação com um psicopata emocional” (editora Esfera dos Livros).

Piñuel, que passou os últimos 25 anos a avaliar e a tratar casos de vítimas de psicopatas integrados, quer alertar as pessoas para o facto de estas personagens narcisistas, mentirosas e manipuladoras estarem entre nós:  -segundo o especialista, podem ser os nossos vizinhos, amigos e até mesmo os(as) nossos(as) companheiros(as). 

Através de uma linguagem assertiva e um tanto ou quanto alarmista, o conferencista explica que “o psicopata integrado não tem sentimentos ou remorsos, é frio e eficaz quando a depredar uma vítima, sabendo bem usar a sedução para se aproximar das pessoas que lhe interessam”.

O assunto é, para Iñaki Piñuel, muito sério, tão sério que o especialista defende que a única solução para as vítimas destes predadores é o afastamento total, uma vez que, não sendo doentes mentais, os psicopatas não têm cura: -“A única opção é sair"

Não se trata de uma doença clínica e o problema não tem tratamento; a terapia funciona ao contrário, com o psicopata a aprender muitas coisas novas para manipular mais e melhor as suas vítimas.  

Eles/elas, os psicopatas, não têm moral, não têm consciência.  Extremamente cruéis, não têm a capacidade de sentir compaixão pelas suas vítimas.


1 - Chama-lhes psicopatas integrados ou domésticos. Os psicopatas não estão só nos filmes mas também entre nós. Somos ignorantes quanto à sua existência?

“As pessoas normais não sabem que a maior parte dos psicopatas não são aqueles que estão na prisão, não são os assassinos, são antes os psicopatas a quem chamamos de normalizados ou integrados. 

O psicopata integrado é uma pessoa integrada na sociedade, que faz uma vida aparentemente normal, à excepção de que não tem emoções, não tem sentimentos de culpa e, portanto, é muito frio e eficaz quando se propõe a depredar uma vítima.” 


2 - Escreve que são parasitas progressivos. Em que sentido?

“Progressivos porque a sua forma de entrar numa relação é a pouco e pouco, sem nunca mostrar a sua verdadeira natureza. O problema é que a vítima apaixona-se, fica seduzida - porque é isso o que estes psicopatas fazem, eles seduzem. 

Na segunda fase, que é a fase do desprezo, a pessoa que vive numa relação com um psicopata fica completamente destruída

O problema é que as pessoas não têm informação específica e desconhecem a existência deste tipo de personalidade.  Não têm informação que explique como uma pessoa pode ficar destruída sem se dar conta por causa de uma pessoa encantadora, que não precisa de a maltratar fisicamente porque fá-lo psicologicamente. Isso pode gerar um quadro psicológico de stress pós-traumático, são os quadros mais habituais.”


3 - Quais são as principais características de um psicopata?

“A Ausência de emoções reais, a falta de empatia, a ausência de medo e de ansiedade, uma maior probabilidade de trair os seus parceiros.  Os(as) psicopatas são, sobretudo, pessoas que vivem dos outros, são parasitas. 
Sabem muito bem como posicionarem-se enquanto objecto de desejo de toda a gente. Têm a capacidade de manipular os outros e, se têm um problema, seduzem ou compram as pessoas que necessitam ter a seu lado.”


4 - É fácil identificar um psicopata integrado?

“Não. Não é fácil porque um psicopata não parece um doente mental (porque não o é), ao invés parece uma pessoa normal e encantadora. Se não conhecermos a existência deste problema teremos muita probabilidade de nos convertermos na sua vítima.”


5 - Todas as pessoas com um narcisismo extremo são potenciais psicopatas?

“Não, mas todos os(as) psicopatas são narcisistas extremos ou malignos. Uma pessoa com um grande nível de narcisismo não é um psicopata, mas é certo que todos os psicopatas são narcisistas extremos.”

“Uma das coisas que têm em comum os psicopatas criminosos detidos e estes psicopatas domésticos integrados na sociedade é o facto de ambos os tipos serem megalómanos, e possuírem um profundo egocentrismo e uma predisposição para endeusar-se. Em suma, um narcisismo extremo e maligno.” (pág. 25)


6 - O psicopata tem noção do que é?

“Nem sempre sabem que são psicopatas, mas sabem que são diferentes dos outros.  Sabem que não sentem medo, empatia ou compaixão e, portanto, sabem que têm grandes capacidades de fazer com que os outros façam o que eles querem.  É uma arte, eles(elas) sabem que são capazes de manipular os outros mas nem sempre sabem que a isso se chama “psicopata”.


7 - Sendo ele egoísta por natureza, o psicopata gosta de si próprio?

“Sim.  Ele(ela) tem um narcisismo extremo, precisa de adoração e de seduzir as pessoas, de manipular os outros. Os psicopatas vivem do trabalho dos outros, do dinheiro e da energia dos outros.Consomem a energia das suas vítimas, esvaziam-nas.”


8 - O psicopata manipula o outro porque tem baixa auto-estima?

“Não.  O(A) psicopata tem uma ideia inflacionada de si mesmo, uma grande consideração por si mesmo e um enorme ego que não é real. Precisam constantemente da adoração dos outros.”


9 - Um psicopata pode amar?

“Não.   Ele(ela) não ama ninguém, nem os parceiros nem os filhos. Manipulam-nos e seduzem-nos, mas não os amam. Não podem amar porque amar é dar, e eles querem sempre receber, à procura de conseguir obter mais dinheiro, adoração ou sexo. São parasitas puros.  É preciso dizer às vítimas que ali nunca houve amor.”


10 - As vítimas são sobretudo pessoas com valores e consciência moral. Porquê?

“São pessoas com valores morais, são boas pessoas. Para os(as) psicopatas as boas pessoas estão sempre dispostas a perdoar, a começar de novo, a ver o outro lado das piores atrocidades. Isto ajuda muito um psicopata.”


11 - A baixa auto-estima é um requisito para ser-se vítima de um psicopata?

“Muitas vezes as vítimas têm baixa auto-estima, mas nem sempre é assim. Há pessoas completamente normais, com uma auto-estima normal, que ficam destruídas devido a uma relação com um(uma) psicopata  - perdem a auto-estima e o respeito por si mesmas. O que acontece é que os psicopatas aproveitam-se da vulnerabilidade humana, seja essa uma vulnerabilidade social ou um momento mau na vida de uma pessoa.”


12 - No final, as vítimas ficam convencidas de que a culpa é sua?

“Claro.  Esse é o problema.  Os psicopatas utilizam uma estratégia que se chama “jogo da piedade” quando se posicionam como vítimas das suas vítimas. Isto significa que são perfeitamente capazes de simular que são eles(elas) as vítimas, pelo que as vítimas [reais] sentem-se culpadas por serem a causa da ruptura.As vítimas sentem-se culpadas por causa do jogo de manipulação, não por serem estúpidas.”


13 - Entre a vítima e um psicopata estabelece-se um vínculo traumático viciante. Porquê é que é tão difícil desatar estes laços emocionais?

“O maltrato é aditivo porque gera um mecanismo de repetição.  A vítima que é maltratada interioriza os maus-tratos e sente-se culpada por isso.  A vítima sente-se responsável pelo problema, acredita que não é bom(boa) companheiro/a, e é absolutamente ignorante do processo de manipulação do psicopata. 

Quanto mais tempo durar a relação, menos provável é a capacidade de a vítima cortar com o(a) psicopata.  É, por isso, um vínculo aditivo. A vítima esquece-se das coisas más e apenas se recorda da fase do namoro e da sedução.  Todo o contacto com um psicopata gera mais sofrimento, mais danos para a vítima e, sobretudo, mais oportunidades para o psicopata.”


14 - Quais as técnicas de manipulação mais usuais de um psicopata?

“A manipulação através da sedução e o bombardeamento amoroso. 
Numa primeira fase bombardeiam as vítimas de amor. Depois usam a culpabilização.  A terceira técnica é a triangulação:  -falam de terceiras ou quartas pessoas - que alegadamente se interessam pelo psicopata - de modo a criar competição com a vítima. Em suma, todo o tipo de estratégias que procurem manipular e criar nas vítimas um mecanismo de adição.”


15 - Como é que se sai deste buraco negro?

“Primeiro é preciso compreender que este não é um problema de casal, não é um divórcio.  Estamos antes perante uma pessoa que é um predador humano, um lobo com pele de cordeiro. É muito importante que a vítima compreenda isso.  E é muito importante reconhecer os danos psicológicos nas vítimas - são danos do tipo stress pós-traumático, que precisam de ser tratados com técnicas específicas.

É um problema muito especial, não é um problema de casal nem de maus-tratos físicos, até porque é rara a vez que os psicopatas maltratam fisicamente as suas vítimas (não precisam de o fazer).  A vítima precisa de saber que não tem culpa - e não digo isto para animá-la, digo porque é verdade.”


16 - A forma como escreveu o livro e fala sobre assunto parece um pouco agressiva…

“Este é um problema muito grave.  Uma das piores situações que o ser humano pode atravessar na sua vida é estar casado ou junto com um/uma psicopata. 

O problema é grave por ser tão desconhecido. As pessoas não identificam o problema, pensam apenas que estão perante um mal entendido, um problema de comunicação ou uma pessoa difícil.
Não! - estamos perante um psicopata e o psicopata é alguém que não tem cura, não há esperança para ele. - A única opção é sair.

Não se trata de uma doença clínica e este problema não tem tratamento:  a terapia funciona ao contrário, com o psicopata a aprender muitas coisas novas para manipular mais e melhor a suas vítimas.

Eles/elas, os psicopatas, não têm moral, não têm consciência. E não têm a capacidade de sentir compaixão, culpa ou remorso pelas suas vítimas.”






terça-feira, 30 de agosto de 2016

VERGONHA NACIONAL - "Finalmente desativada a “débil, pouco atractiva e insustentável” Linha do Tua" !!!






Teremos vergonha de dizer às gerações futuras de que deixámos isto acontecer.  Um dia, teremos muita vergonha mesmo:
  

Supostamente a exploração da Linha é “débil e pouco atrativa” para o Estado.   Segundo a resolução do Conselho de Ministros, publicada esta terça-feira em Diário da República, há “insustentabilidade económica, financeira e ambiental que urge corrigir”. 

Já destruir um dos vales mais bonitos do país, inundar o troço de linha mais espectacular da ferrovia nacional, cortar mais de 14.000 sobreiros e azinheiras, permitir que se enterrem mais de 370 milhões de euros numa obra que vai produzir 0,5% de electricidade é totalmente racional, bom para o ambiente e para a economia.

(Pelos Rios Livres - sem mais barragens)


segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Que complicadas que elas são! Nem mesmo com livrinho de instruções…





O orgasmo feminino pode já ter sido fundamental para a reprodução humana  
- ( ...o que eles  ainda andam  a investigar!!!...)

Os picos hormonais registados no orgasmo feminino são, em algumas espécies, fulcrais para a ovulação. Nos seres humanos já não seria preciso, devido à ovulação espontânea, mas é um "bónus fantástico".   -   Se é!!!   -  quer dizer…  acho que sim.) 

O orgasmo feminino sempre foi muito estudado pela ciência porque, ao contrário dos homens, que necessitam do orgasmo para libertar o esperma, o orgasmo feminino não é necessário para a concepção. 

Agora os resultados de um novo estudo mostram que este fenómeno pode, afinal, ter origem numa necessidade evolutiva. Um estudo, conduzido pelos investigadores Mihaela Pavličev, do hospital infantil de Cincinnati, e Günter Wagner, da Universidade de Yale, revela que os picos hormonais associados ao orgasmo feminino — que actualmente apenas resultam em prazer sexual — foram, em tempos, fundamentais para a reprodução. 

Para compreender a origem do fenómeno, é preciso recuar mais de 75 milhões de anos.   -  75 milhões de anos?!... - mesmo poderosas as mulheres…).    A reprodução dos mamíferos dependia, na altura, de um fenómeno chamado “ovulação induzida pelo macho”. Os picos hormonais registados nas fêmeas durante o sexo eram responsáveis pela ovulação. Esta característica ainda existe, actualmente, em mamíferos como gatos ou coelhos. 

Há cerca de 75 milhões de anos, uma mudança evolutiva num ancestral comum a primatas e roedores fez alterar este paradigma, com o aparecimento da ovulação espontânea. Actualmente, os seres humanos possuem esta característica: - as mulheres não precisam dos picos hormonais registados no orgasmo para poderem ovular, mas continuam a experimentar os picos de euforia a que chamamos “orgasmo”.   -   ( Que bom para elas!  - Sortudas!...) 

Estas conclusões conduzem à teoria de que a origem do orgasmo feminino é este mecanismo para ovular, que, entretanto, se tornou redundante.  Os investigadores não excluem, porém, que, “depois de ter perdido a sua função na reprodução”, o orgasmo tenha adquirido outras funções, ainda por descobrir.   -   Ainda há mais para descobrir?...    irra, que a mulher é mesmo complicada…)

(In OBERVADOR, 01/08/2016)

Meg Ryan a provar que os homens não conseguem distinguir um orgasmo verdadeiro de um fingido

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

PORTO - Uma cidade única na Europa. Talvez mesmo no mundo!



Uma visão diferente de uma cidade de beleza sem par, com os efeitos elaborados através das lentes de alta definição de Paulo Ferreira, mostram-nos toda a beleza desta cidade do norte de Portugal continental. (Aconselho o visionamento do video em écran total)

Verdadeiro tesouro nacional pelas raras belezas naturais e gozando da natureza privilegiada da região onde se insere - a região do Douro - o PORTO começa agora a ser descoberto pelos inúmeros circuitos do turismo internacional.

Rasgada pelo mais importante rio português - o Douro - e banhada pelo oceano Atlântico, é uma cidade fascinante que fervilha de vida, e onde o antigo histórico monumental se casa perfeita e harmoniosamente com a arquitectura moderna. 

Berço do vinho mais famoso e apreciado de todo o mundo - o Vinho do Porto - o Porto é hoje uma cidade moderna com imensas ofertas turísticas, gastronómicas, comerciais e empresariais, a par de uma movimentada vida nocturna saudavelmente desfrutada pelos jovens e pelos menos jovens. 

Estão todos convidados a visitar o PORTO !






sábado, 7 de novembro de 2015

Não tarda que uma nova troika desembarque em Lisboa...




(Os meus programas preferidos:  os próximos debates quinzenais no Parlamento...)


No meio da conversa metafisica sobre a alegada legitimidade ou ilegitimidade do putativo governo António Costa, as notícias que realmente contam têm passado desapercebidas.  Primeiro, um pequeno perigo que pode deitar abaixo todo o edifício construído por uma esquerda que não consegue medir o efeito da sua inesperada ascensão ao governo.  A agência de ratting canadiana DBRS (a única das quatro grandes que não desceu a divida portuguesa à categoria de “lixo”)  avisou na terça-feira que admite fazer descer um degrau à nossa papelada. 
Se isso vier a acontecer, não será permitido ao BCE comprar dívida portuguesa  (de que em larga escala nós vivemos),  nem aos bancos dar dívida portuguesa como colateral do dinheiro que andam por aí a pedir;  e não tarda que uma nova troika desembarque em Lisboa.
(...)

(Vasco Pulido Valente, PÚBLICO - 7 Nov 2015)


quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Se um mar não trava o desespero, pode um muro alguma vez parar?






Perseguidos, roubados e humilhados:

Na fronteira do desespero


Ficar onde estavam não era opção.  Se a morte não os apanhasse, apanharia certamente um dos seus.  Ou vários dos seus.  Por isso deixaram, deixam e deixarão os países onde nasceram e viveram.   E fazê-lo contra a vontade não é capricho, mas sobrevivência. 
E primeiro era o mar, que se tornou para uns (tantos, tantos) um cemitério, a separá-los do que ansiavam alcançar cá, neste lado onde estamos e onde eles vêem (esperam, sonham) esperança e dignidade. 
E depois do mar, agora há muros entre eles e nós, como este na fronteira entre a Hungria e a Sérvia.   Estivemos lá e é lá que regressamos consigo numa experiência multimédia que é experiência de vida. 

Se um mar não trava o desespero, pode um muro alguma vez parar?

(João Santos Duarte e João Roberto)

Ler a reportagem completa na Hungria em:
(Expresso online - 02/Set/2015)


quinta-feira, 16 de julho de 2015

O Syriza já está destruído, podemos agora salvar a Grécia?





Chegará o momento em que tiraremos as mãos das carteiras e as poremos na consciência.   Chegará o momento em que já não veremos os ricos que roubaram mas os pobres que ficaram.   Em que não quereremos ressarcimento mas reparação.   Em que perceberemos que não se pede sequer solidariedade, mas piedade.   Em que nem os sádicos se divertirão com a espetáculo degradante dos políticos gregos.   A União Europeia foi longe de mais na violência estéril e vingativa.   Para destruir o Syriza está a ceifar-se um povo.   Já não é indignação, é súplica: SOS Grécia.   E se tudo o resto falhar, apele-se à inteligência, que não é de esquerda nem de direita, pois é preciso mudar aquele plano que, além de horrível, é burro, é mau, é pior para todos.

Nos palácios de Bruxelas, nos sofás de Berlim ou mesmo nos bancos de jardim de Lisboa permanece apetecível distribuir culpas e medir ideologicamente o debate.   Mas nas ruas de Atenas já passámos essa fase.   Sobra o desespero de saber que nada vai valer a pena porque pagar ou não pagar parece indiferente, o tudo ou nada resultará sempre no pouco, no de menos, no insuficiente, porque o plano não funciona.   Repito: a Grécia vai ter uma recessão pior do que a que os Estados Unidos viveram na Grande Depressão de 1929.   Repito: o plano económico vai falhar porque foi concebido para falhar.   Repito: desistimos dos gregos e resistimos a ver o desastre encomendado.

O bloco liderado pela Alemanha ficou tão furioso com o desplante do senhor Alexis Tsipras na marcação do referendo que quis devolver-lhe em dobro a lição de superioridade.   Até se percebe a fúria, que segundo os relatos da reunião de domingo do Eurogrupo fez com que o senhor Wolfgang Schäuble berrasse.   Alexis Tsipras foi arrogante, marcou um referendo pérfido e achou-se nimbado de invencibilidade com os resultados, como se fosse dar uma tareia moral aos demais estados membros.   Mas a Alemanha quis tanto destruir o Syriza, por vingança e por dissuasão a que outros países elejam partidos radicais, que perdeu a noção da força.   Mais um pacote recessivo vai destruir mais economia e mais emprego numa economia já exangue.

A vitória sobre Tsipras foi retumbante.   Até o perdão da dívida, que o Syriza sempre reivindicou, é agora formalmente admitida pelo FMI, mas de forma a culpar o partido, que não tem nada para mostrar.   É ridículo ouvir Alexis Tsipras dizer que assinou um acordo em que descrê.   É degradante vê-lo tripudiar o próprio Syriza e ancorar-se nos deputados dos partidos que detesta e que o detestam a ele.   É assustador ouvir a presidente do Parlamento (que pertence ao Syriza e se junta aos 40 deputados que se afastaram de Tsipras) falar em genocídio social.   Mas a humilhação suprema talvez seja ver Tsipras dizer que não há alternativa.   Tsipras, o temível mastim indomável, está amestrado como um caniche.   Dá dó.   A direita rejubila.   Também dá dó.   Porque ninguém pára, escuta e olha para perceber na loucura que estamos a patrocinar.

A loucura de ver um povo desesperado que, depois de cinco anos de austeridade duríssima, tem prometida nova dose de austeridade duríssima.   A loucura de tornar o pagamento da dívida mais insustentável do que nunca, pela destruição económica provocada – se a Grécia sai do euro, os credores podem esquecer, vão receber raspas.   A loucura de segregar dentro da União Europeia, cavando um fosso que nos vai apartar sabe-se lá até que lonjuras.

A Grécia só se livra desta sarna se, além do perdão de dívida que de qualquer forma terá, tiver um programa de estímulo económico.   O mundo, aliás, só recuperou da Grande Depressão dessa maneira.   Percebe-se a pulsão de obrigar o país a adotar as reformas estruturais nunca adotadas, incluindo a de ter um Estado que funcione e que cobre impostos.   Mas não é destruindo o espaço político e aniquilando a economia que tal vai ser conseguido.   A violência na Praça Syntagma é desenrolada por grupos anarcas ruidosos as pouco representativos.   A miséria que se alastra, não: é de todos.

É preciso mudar o plano.  Somar à austeridade um programa de investimento que estimule a economia e que apoie casos sociais de pobreza.   Isso é ser inteligente, até porque é a única forma de tentar recuperar parte da dívida.   Talvez a linha dura dos alemães queira apenas humilhar o Syriza e tenha feito um plano para que, depois da capitulação de Tsipras, mude o plano para melhor.   Até seria bom que isso fosse verdade.   Seria maquiavélico mas, ao menos, saberíamos que a loucura iria mudar.   E que, portanto, a Grécia haveria de ter saída da crise em vez de uma saída do euro.   Para já, o que vemos é o que temos, um país inteiro a afundar-se na desgraça.

Os gregos estão desesperados porque a situação é desesperante.   Coloquemo-nos no lugar deles por um minuto: um governo de extrema esquerda ajoelhado depois de cinco anos de tareia, de desemprego e de austeridade, depois de décadas de corrupção e roubo institucionalizado com os governos de centro.   E o que lhes dizem que se segue?   Pobreza.   Talvez a esta hora também estivéssemos na rua.

(Pedro Santos Guerreiro, Expresso online, 16/07/2015)


sábado, 20 de junho de 2015

Isto é BULLYING EUROPEU: - a destruição da Grécia em nome de uma mentira!





O PODER DOS LOUCOS

Parece um debate de loucos.   As instituições europeias pedem à Grécia que se comprometa com metas em que só um doido varrido acredita.   Para conseguir equilibrar as contas públicas, o Estado grego teve de arrasar a economia, deixar o endividamento público chegar a uns inacreditáveis 177% do PIB, pôr mais de um quarto dos gregos no desemprego e uma grande parte deles a viver abaixo do limiar de pobreza.

O que as instituições europeias estão a fazer à Grécia é Bullying.   O resultado pode ser a saída grega do Euro.   Não sei, não sabe ninguém, porque nunca foi experimentado as consequências de tal passo para os gregos e para a Europa.

Tenho lido que a Grécia se tem mostrado irredutível perante os credores.   Que não aceita.   Que é teimosa.   Que é radical.   Não há negociação possível quando um dos lados pede o impossível.   Se o Governo grego aceitasse estas metas estaria a mentir aos europeus.   E, depois disso, a destruir a Grécia em nome de uma mentira.   

As medidas que a Europa quer impor à Grécia  (aumento de impostos ao consumo e mais cortes nas pensões)  teriam um efeito devastador na já devastada economia grega.   Tornando ainda mais improvável o que, na realidade, já é impossível:  - pagar a dívida.

É difícil acreditar que a Comissão, o BCE e o FMI acreditam que a Grécia pode conseguir nos próximos dois anos, no meio da crise em que está, o que metade dos países europeus nunca conseguiu na última década.   E se não estão loucos e não acreditam, desejam uma de três coisas:   - que o Governo lhes minta, para aplicar medidas inúteis que provem que a Grécia vergou, que decida sair do euro ou que sugue o que resta do país para mais tarde sair do euro.

Se se tratar da tentativa de saque, ela representa o fim moral da União:  - um credor não pode acabar com um país para cobrar dívidas, assim como não pode acabar com a vida de alguém para reaver o dinheiro.   Se for uma das outras duas possibilidades, a motivação destes credores é política:  - impedir que mais algum povo pense que o seu voto pode mudar a Europa.   Trata-se de um golpe de Estado.

O que as instituições europeias estão a fazer à Grécia é bullying.   O resultado pode ser a saída grega do euro.   Não sei, não sabe ninguém, porque nunca foi experimentado, as consequências de tal passo para os gregos e para a Europa.   E este é o segundo sinal da loucura:  - há imensos responsáveis políticos por essa Europa fora que têm a certeza de que uma União que está há seis anos enredada numa crise de que os outros já saíram está preparada para os efeitos do “Grexit”. 

Não sei se os gregos resistiriam ou não a esse passo para a sua liberdade.   E não sei se a Europa e nós próprios aguentaríamos a sucessão de acontecimentos imprevisíveis que tal passo desencadearia.   

Sei que as certezas de tantos, que inventam convicção onde só podem ter dúvidas, são um excelente barómetro da irresponsabilidade política que grassa pela Europa.   E ela explica quase tudo sobre esta negociação.

(Daniel Oliveira, in Expresso, 19/06/2015)



TROIKA - A NOVA ORDEM EUROPEIA !!!



OS SEGREDOS DOS RESGATES FINANCEIROS!!!




AS ORIGENS DO CANCRO DA EUROPA!



quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Aqui te deixo, saudosamente, uma rosa branca sobre o teu caixão…





Não podia ter acontecido...  assim!


Dói.  Como há muito não doía...
Nunca contei que partisses antes de mim.
E jamais pensei que me doesses tanto assim,
esta dor que sufoca que se instala e não sei bem 
donde vem.
Sei apenas que vem de dentro,  
das profundezas de mim.

E  lembro com saudade os dias felizes 
de quando menina te conheci.
Depois...  foram longos os anos dos desencontros.
Longos também os anos de lonjura e desinteresse
até quase me esquecer de ti.
Mas eu sabia que tu estavas aí
e isso me bastava.

E agora…  agora que partiste fazes-me falta.
Porque eu queria saber-te sempre viva,  
imortal.  
E agora...  agora que arrefeces assim,
também eu sinto este frio de morte,     
a sensação profunda deste vazio gélido, 
mortal.

Nós errámos a vida.  Fizemos tudo mal. 
E agora…  agora só me resta esta amargura,
esta certeza de jamais poder voltar atrás.
O nosso tempo acabou.  
Definitivamente! 
Não mais te verei para todo o sempre, 
na eternidade da tua sepultura.

Afinal...  sei-o agora, 
nunca chegaste a sair de todo cá de dentro.
Descansa em paz.

(13/Janeiro/2015)




terça-feira, 13 de janeiro de 2015

PARIS - A monumental demonstração da HIPOCRISIA europeia!!!






Europa terrorista 
A quadrilha que vai liderar a manifestação de Paris prostituiu a Europa, matou os projetos de Vida



Os massacres de Paris não vão ter alguns dos principais autores no banco dos réus.   Foram abatidos durante a refrega que pôs termo à chacina gratuita de inocentes.   Mas lá se sentarão, mesmo que só a História os julgue, os poderes fundamentalistas gerados no Yémen e o conjunto de personalidades que hoje encabeça a manifestação de Paris. 

A explosão afetiva e solidária ‘Je Suis Charlie’ é património de poucos.   Não é, de certeza, pertença desta Europa cínica, protetora de ladrões e especuladores financeiros, que há muito se borrifou para os sonhos da Igualdade, da Liberdade e da Fraternidade, gerados no ventre francês e que emigraram por esse mundo fora.   Pois o problema é político.   Nunca foi religioso. 

Os presidentes, os primeiros-ministros e outros acólitos que hoje desfilam em França em defesa da liberdade de expressão são os seus carrascos.   Nunca leram o ‘Charlie Hebdo’.   Apenas bebem as palavras de Merkel.   São como os assassinos, que nunca viram o Corão, muito menos o estudaram, e matam em nome do Profeta.   A quadrilha que vai liderar a manifestação de Paris prostituiu a Europa, mentiu nos sonhos, matou os projetos de Vida. 

Esta quadrilha quis emigrantes para a mão de obra escrava e desprezou o valor do trabalho.  Desprezou o emprego.   Desprezou a escola e a educação.   Atirou para a fome e para a ruína milhões de desgraçados.   Mas pior do que isto, a Europa cínica que hoje habitamos matou a Europa de Monet.   Fez da União Europeia uma pantomima, aceitou de joelhos os ditames da Alemanha que fala por nós, contra nós, imperialismo da especulação que matou sonhos.   Quem mata sonhos não pode esperar outra coisa a não ser a multiplicação da raiva, da indignação e, finalmente, do ódio. 

Estes grupos em desvario são europeus.   Nasceram aqui e matam por ódio.   E as maiores vítimas até são muçulmanos.   Ódio, porque lhes prometeram sonhos e lhes entregaram um imenso vazio.   Um vazio onde habitam milhões de outros jovens a quem mataram os sonhos, que não assassinam, mas se desinteressam da política, desprezam os figurões que vão marchar à cabeça da manifestação em Paris, servos e serventuários de especuladores, de offshores, de roubos, não de joias mas de países.   Reprodutores de desigualdades, semeadores de injustiças, párias da fraternidade, amigos da liberdade de saque. 

É esta a Europa cínica, e canalha, que aceitou o apelo de Hollande e vai fazer de conta que é amiga da liberdade de expressão.

(Francisco Moita Flores CM, 11/01/2015)



sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

«Eles não têm coragem para me prender»





Depois de sucessivos escândalos a escapar por entre os pingos da chuva, as pessoas foram-se habituando à impunidade de Sócrates


Uma frase proferida por José Sócrates em conversa telefónica com o seu amigo Carlos Santos Silva, pouco antes de ser detido - «Eles não têm coragem para me prender», é duplamente reveladora.   Em primeiro lugar, parece ser uma admissão de culpa:   Sócrates não diz que está inocente, diz é que os juízes não serão suficientemente corajosos para o meter na cadeia.   Uma pessoa que se sinta inocente não faz, em princípio, uma afirmação destas.   Por outro lado, Sócrates mostra-se possuído por um sentimento de 'impunidade'.   Acha-se colocado num tal pedestal, detentor de um tal estatuto, que ninguém ousará deté-lo.   Mas donde virá esta  sensação de impunidade?

Julgo que não apenas Sócrates a interiorizou, mas muitos portugueses.   Depois de sucessivos escândalos que terminaram sempre da mesma maneira, com o ex-primeiro ministro a escapar por entre os pingos da chuva, as pessoas foram-se habituando.   «É mais um escândalo de que ele se vai safar» - pensavam.

Depois das dúvidas, suspeições, trapalhadas e coisas mal explicadas existentes nos casos da Cova da Beira, dos mamarrachos, do diploma, do Freeport, do Face Oculta, do Taguspask, etc. - nos quais o nome de Sócrates aparecia sempre envolvido e que acabavam sempre em águas de bacalhau, a suspeição relativamente ao ex-primeiro ministro banalizou-se.   Perante cada novo caso, os amigos encolhiam os ombros e os inimigos já não acreditavam que Sócrates viesse a ser criminalizado.   Era como na fábula de Pedro e o Lobo.   E quando a detenção chegou, foi uma surpresa para quase todos.

Escrevi por diversas vezes que Sócrates é «o Vale e Azevedo da política» e sempre admiti que, tal como o ex-presidente do Benfica, havia fortes hipóteses de ele vir a ser detido depois de deixar o cargo.   Porquê?  Porque eu tinha a quase certeza que a corrupção estava lá – só faltava descobri-la.

Assim, quando José Sócrates saísse cle S. Bento e os responsáveis da Justiça, Pinto Monteiro e Noronha do Nascimento, fossem substituídos, era muito provável que a verdade viesse ao de cima.   E assim aconteceu.

(José António Saraiva - extracto de artigo publicado no SOL – 02/01/2015)


sexta-feira, 28 de novembro de 2014

UM FINGIDOR






Nunca gostei da personagem política “José Sócrates”, desde a campanha para secretário-geral do PS (em que ele prometeu não aumentar impostos que, de facto, aumentou) até à sua ascensão a primeiro-ministro, muito ajudado por Pedro Santana Lopes e pela reputação de autoritário que entretanto adquirira.

Não tranquiliza particularmente ser governado por um indivíduo que se descreve a si mesmo como um “animal feroz”, nem por um indivíduo que prefere a força política e legal à persuasão e ao compromisso. Se o tratam mal a ele agora, seria bom pensar na gente que ele tratou mal quando podia: adversários, serventes, jornalistas, toda a gente que tinha de o aturar por necessidade ou convicção. Sócrates florescia no meio do que foi a sufocação do seu mandato.

O dr. António Costa quer hoje separar os sarilhos de um alegado caso criminal do seu antigo mentor da política do Partido Socialista e do seu plano para salvar a Pátria. O que seria razoável, se José Sócrates não encarnasse em toda a sua pessoa o pior do PS: o ressentimento social, o narcisismo, a mediocridade, o prazer de mandar. Claro que, como qualquer arrivista, Sócrates se enganou sempre. Começou pelos brilhantíssimos fatos que ostentava em público, sem jamais lhe ocorrer se as pessoas que se vestiam “bem” se vestiam assim. Veio a seguir a “licenciatura” da Universidade Independente, como se aquele papel valesse alguma coisa para alguém. E a casa da Rua Braamcamp, que é o exacto contrário da discrição e do conforto e último sítio em que um político transitoriamente reformado se iria meter.

Depois de sair do Governo e do partido, Sócrates mostrava a cada passo a sua falsidade, não a dos negócios, que não interessam aqui, mas da notabilidade pública, por que desejava que o tomassem. Resolveu estudar em Paris, para se vingar da humilhação do Instituto de Engenharia e da Universidade Independente, e resolveu fazer um mestrado em “Sciences Po”, sem perceber que o mestrado é uma prova escolar de um estatuto irrisório. Em Paris, viveu no “seizième”, o bairro “fino”, como ele achava que lhe competia, e, de volta a Lisboa, correu para a RTP, onde perorava semanalmente para não o esquecerem: duas decisões ridículas que só serviram para o prejudicar, embora estivessem no seu carácter. Como o resto do país, não sei nem me cabe saber se o prenderam justa e justificadamente. Sei – e, para mim, chega – que o homem é um fingidor.

(Vasco Pulido Valente, PÚBLICO - 28/11/2014)


quinta-feira, 27 de novembro de 2014

La chute d’un «opportuniste sans idéologie»






FRANÇOIS MUSSEAU MADRID, 26 NOVEMBRE 2014



L’ex-leader socialiste est incarcéré depuis mardi dans une prison qu’il avait inaugurée lorsqu’il était Premier ministre du Portugal.

«L’incomparable José Sócrates», ironise l’éditorialiste du quotidien Publico José Miguel Tavares. «The Special One», s’amusent plusieurs commentateurs, appliquant à celui qui dirigea le Portugal entre 2005 et 2011 le surnom d’ordinaire attribué au sulfureux entraîneur de foot José Mourinho. Après avoir été longtemps prudents, voire trop respectueux avec Sócrates, Sol ou Correio Da Manha exceptés, les médias portugais se livrent désormais au grand déballage contre celui qui a créé la sensation, lorsqu’il fut interpellé à l’aéroport de Lisbonne, vendredi.

Motif de cette détention inédite : «fraude fiscale» et surtout «corruption» et«blanchiment de capitaux». Le montant des sommes qu’aurait détournées Socrates n’est pas connu, mais la presse nationale parle de dizaines de millions. Depuis environ un an, la brigade financière portugaise, la DCIAP s’était étonnée de son train de vie à Paris, où il réside : un appartement de 2,8 millions d’euros, la fréquentation de restaurants de luxe… Des écoutes téléphoniques auraient fait le reste.

«UN DEGRÉ SUPPLÉMENTAIRE D’IMMORALITÉ DANS LA VIE PUBLIQUE»

L’ancien leader socialiste, qui en mai 2011 avait démissionné alors que son pays était au bord de la faillite financière, a été placé mardi en prison préventive à Evora, dans un de ces établissements modèles qu’il avait lui-même inauguré alors qu’il était le fringuant Premier ministre ! Chaque jour, déjà écœurés par une série de scandales en cours (tous liés à la «décennie heureuse» de l’argent facile, 1995-2005), les Portugais découvrent le détail des forts soupçons qui pèsent sur José Sócrates – et ce, même si le secret de l’instruction a été déclaré par les magistrats.

«Son incarcération, c’est la cerise sur le gâteau d’un système corrompu, souligne un présentateur de la RTP, la télé publique. L’affaire Sócrates correspond à un degré supplémentaire d’immoralité dans la vie publique. Une sorte d’électron libre.» Avec, comme alter ego dans le monde financier, son ex-compère Ricardo Salgado, l’ancien président de la banque Espírito Santo, lui aussi interpellé, en juillet, pour blanchiment de capitaux.

HOMME DE PAILLE

Officiellement, lorsqu’il déménage à Paris au printemps 2011, José Sócrates prend une retraite politique «bien méritée», celle d’un honnête citoyen qui a servi son pays«le mieux possible». Désireux de «réfléchir et de prendre le temps», il s’inscrit à Sciences-Po pour faire une thèse doctorale. Et, tel un observateur assagi au-dessus de la mêlée, participe à des émissions de la RTP pour commenter la vie politique portugaise. Il dit alors n’avoir qu’un seul compte bancaire et, pour louer un appartement dans la capitale française, affirme recourir à un prêt. Un politicien modèle, en somme, qui a su s’arrêter à temps et que la cupidité n’aurait pas rongé.

Sauf que, de source judiciaire, ce qui a motivé son arrestation raconte une tout autre histoire. Son chauffeur João Perna, lui aussi interpellé, faisait souvent le trajet Lisbonne-Paris en voiture pour lui remettre de grosses quantités d’argent en liquide. A partir de janvier 2013, José Sócrates est consultant pour la multinationale pharmaceutique Octapharma AG, pour laquelle il touche 12 000 euros par mois. Mais, selon le quotidien Sol, la multinationale lui versait 12 000 euros supplémentaires correspondant en réalité à son propre argent issu d’une société offshore mise au nom de son ami d’enfance, l’entrepreneur Carlos Santos Silva. Ce dernier, tout comme son épouse, aurait servi d’homme de paille dans le cadre d’un réseau sophistiqué de sociétés-écrans contrôlés par Sócrates.

LEADER LOUCHE, «TOUJOURS BORDERLINE»

Lorsqu’il était en fonction, l’ancien chef du gouvernement a révolutionné la vie politique portugaise. Sanguin, autoritaire, des manières un peu bling-bling à la Sarkozy, il a su dépoussiérer une administration ankylosée, voire inefficace, et obtenir, lors de son premier mandat, des résultats probants. Mais, en parallèle, José Sócrates fut ce leader louche, ce «produit médiatique» ou «politicien Armani» (dixitle Publico pour fustiger son côté gauche caviar), impliqué dans maints scandales et parvenant à chaque fois à se sortir des griffes de la justice. «Depuis les origines, il a été ce jeune loup, opportuniste, sans idéologie, obsédé par l’escalade des échelons vers le pouvoir suprême, toujours borderline», dit l’historien Fernando Rosas. Ancien militant du parti de droite, le PSD, passé chez les socialistes en 1981, cet admirateur de Tony Blair a connu un parcours peu limpide. Il y a d’ailleurs de fortes chances que son diplôme d’ingénieur civil, obtenu en 1980, soit un faux.



quarta-feira, 22 de outubro de 2014

PORTUGAL ESTÁ À VENDA !






O caso PT é o epílogo de uma longa história de privatizações, gestão deficiente, ganância e alienações ao desbarato. A crise e a falta de liquidez do País fazem o resto. Ninguém está inocente, nem o Estado nem os privados. Veja um filme do qual não conseguirá sair:


A vida da PT (Portugal Telecom) dava um filme.   Em 1999, data de entrada do "gestor modelo" Zeinal Bava na empresa, ela valia 11 380 milhões de euros.   No ano seguinte, processa-se a privatização e o Estado fica com 500 ações douradas (de que abriria mão, com a vinda da troika, em 2011).   Essa golden share viria a ser importante para travar a OPA do Grupo Sonae em 2007, com o argumento do risco de posterior venda a estrangeiros...   Começa a aposta no Brasil e, em 2004, a empresa atinge o seu zénite, com um valor em bolsa de cerca de 11 400 milhões de euros.   Foi há dez anos.   Hoje, valerá menos de 10 mil milhões.   Desvalorizou-se, numa década, o equivalente a uma verba superior ao que o Estado paga, por ano, em juros da dívida pública.   Ou, se quisermos estabelecer outra comparação, a perda de valor da PT ultrapassa o custo, por ano, do Serviço Nacional de Saúde.   Mais, enfim, do que o total do défice das contas públicas previsto para 2014.   Como foi possível?

O pesadelo aconteceu devido ao facto de Portugal estar a ser vendido a retalho e a preço de saldo.   A história da PT é o epílogo de um longo período de depauperamento da economia nacional.   A PT era uma empresa de vanguarda, um exemplo de inovação, agressividade comercial e internacionalização, que a ganância de alguns acionistas e um acto de gestão terceiro-mundista - a inexplicável exposição ao Grupo GES - deitou abaixo.   Atónitos, os portugueses constatam que, afinal, a empresa terá sido gerida, nos últimos anos, de lápis na orelha.   Mesmo assim, Zeinal Bava, depois de ter "entregue" a PT à Oi, sai do grupo brasileiro com uma indemnização de (valores não desmentidos) 5,4 milhões de euros.

Engarrafar e vender o ar

Porque deixámos que quase todos os sectores ditos estratégicos (o que quer que isso seja) caíssem em mãos estrangeiras?  A responsabilidade deve ser assacada ao Estado - e aos governos PS, PSD e CDS - ou, também, aos privados?   Quem não se lembra da venda do Banco Totta & Açores ao Grupo Champalimaud e do seu desaparecimento nas goelas do gigante espanhol Santander?   Onde param as boas intenções do grupo de empresários que, patrioticamente, produziram documentos a jurar velar pela manutenção dos centros de decisão em Portugal?   Pois não foram eles os primeiros a vender tudo e mais alguma coisa, pela melhor oferta?

Para João Cravinho, antes de haver sectores estratégicos "teria de haver estratégia", coisa que, na opinião do ex-ministro socialista dos governos Guterres, "não existe, nem no sector público nem no sector privado".   Mais, o alheamento das autoridades deve-se à teoria de que "não faz sentido ter uma estratégia", quando tudo se resume a questões "que se resolvem no e pelo mercado, deixando que as leis da concorrência funcionem".
E, no entanto, a lei dos sectores estratégicos, publicada a 15 de Setembro, até parece salvaguardar o essencial, talvez tarde de mais:   assegurar os "activos estratégicos essenciais para garantir a defesa e segurança nacionais e segurança do aprovisionamento do País em serviços fundamentais para o interesse nacional, nas áreas da energias, dos transportes e comunicações, enquanto interesses fundamentais de segurança pública".   

Mas basta pensar na privatização, ou, para sermos mais justos, na concessão a privados da exploração das Águas de Portugal, para concluir que só o ar que se respira não está privatizado porque ainda não é possível ser consumido engarrafado.

Cimentos, banca, estaleiros navais, siderurgia ou até empresas que nos habituámos a ver exportadoras, como a Sorefame, ou desapareceram, ou perderam importância ou caíram em mãos estrangeiras.   Algumas, como a CIMPOR, mantêm o centro de decisão em Portugal (apesar de ser detida, em 100%, por capitais brasileiros).   Outras nem isso.   Opções ideológicas à parte, o Estado não pode ser culpado de tudo nem tem de ser empresário.   O raquitismo das empresas nacionais e a necessidade de liquidez do País, quer no sector público quer no privado, é que representam as verdadeiras causas da "venda de Portugal" ao desbarato.   A tudo isto não foi alheio o aliciamento de governos incautos e sedentos de votos pelo dinheiro fácil do crédito internacional, aliado à estratégia norte-europeia de desmantelamento do sector produtivo dos países com economias menos pujantes.   O endividamento subsequente levaria à venda baratinha do que era apetecível nesses países (um cenário que também vimos na Grécia) a grandes grupos internacionais.   Parece um plano...

O que é curioso é que os compradores nem sempre vêm de onde se espera.   Por exemplo, os 4,7 mil milhões de euros das privatizações de EDP (2 690 milhões), da REN (387 milhões) e da Caixa Seguros (1 632 milhões) provêm de grupos chineses, respectivamente a Three Gorges, a State Grid (agora também interessada na EFACEC) e a Fosun, que se tornaram, assim, os principais animadores das privatizações portuguesas.   Por ironia, estas empresas são todas imensas golden-shares do Estado chinês, que também aprecia o funcionamento do mercado - mas à sua maneira...

Mas voltemos ao velho argumento:   deixar que o mercado e a concorrência funcionem.   De acordo.   Mas, para o economista Ricardo Cabral, professor da Universidade da Madeira "a perspectiva de um governo não deve ser a de um mero accionista".   Dado o seu peso, o Estado tem de agir em prol do "interesse público".   E de acordo com o investigador, os governos devem ter em conta também os outros impactos na globalidade da economia.
Mas não tem sido isso que tem acontecido, já que as avaliações são feitas a olhar para o "valor accionista" das empresas, destaca Cabral, criticando alguns aspectos dos programas de privatização dos últimos anos.   "Não parece que tenha sido um grande sucesso", afirma.  "Privatizámos quase tudo, nas últimas décadas e não ganhámos muito com as privatizações no seu todo.   As receitas das privatizações não têm contribuído para reduzir a dívida pública, que aumentou.  E a agravar isso, temos, neste momento, menos instrumentos para a gestão económica do País", com a maior parte das empresas privatizadas a terem ficado nas mãos de não residentes.

Também se tem falado, com preocupação, de eventuais aumentos pós-privatização dos preçários dessas empresas.   Sobretudo daquelas que possam ter impactos importantes na competitividade de sectores estratégicos da Economia, como o turismo e os exportadores.  Disso é emblemático o caso da ANA - Aeroportos de Portugal, cuja operação foi concessionada, há dois anos, aos franceses da Vinci, e cujos aumentos sucessivos das taxas aeroportuárias têm suscitado polémica.   Desde que foi privatizada, a ANA já aumentou quatro vezes as suas taxas e tenciona continuar a fazê-lo:   até 2022 as taxas deverão sofrer incrementos de mais de 20 por cento.   O presidente da Ryan Air, Michael O'Leary, já afirmou que o modelo de taxação praticado pela operadora é caraterístico de "regimes comunistas".   Os responsáveis da ANA deverão ir esta quinta-feira, 15, ao Parlamento prestar esclarecimentos sobre os polémicos aumentos.

Para Francisco Louçã, "Portugal está transformado em sucata", mas, mesmo assim, e recordando que o crédito às empresas caiu 40% em agosto, "o Estado devia ter poder de regulação, mesmo depois do 'assucatamento'".   A concessão de crédito depende da banca mas não tem sido possível usar esta ferramenta para bombear sangue para a economia nacional.   Até mesmo o banco público, a Caixa Geral de Depósitos, por ter o menino do BPN nos braços, perdeu, em parte, essa capacidade.

Quanto vale a TAP ?

João Cravinho, que foi ministro do Equipamento, adverte:   "Quando a Mota Engil 'soltar' a Martifer, esta vai cair nos braços de alguém..."   E volta a defender a dama do malogrado novo aeroporto:   "A TAP vale o que quiserem dar. Mataram a TAP no dia em que descartaram a hipótese de construir um aeroporto capaz de receber mais 20 ou 30 voos."
 Se um novo aeroporto era um preço um bocado elevado a pagar pela valorização da companhia aérea nacional, esta bem pode ser, no entanto, o exemplo de uma empresa com um preço impossível de medir em euros.   A TAP é, mal comparado, como o hino ou a bandeira, um símbolo nacional, junto das comunidades e da lusofonia.   A ponte aérea dos retornados, em 1975, nunca teria sido possível se o Estado não tivesse à sua disposição este instrumento.   Essa componente de defesa nacional mantém-se:   quem valeria aos 200 mil nacionais em Angola, se houvesse necessidade de uma evacuação rápida?

Mas o factor psicológico, simbólico ou de soberania não é o único a contabilizar, nestas contas imensuráveis.   Nas contas de Ricardo Cabral, a TAP gera um valor de entrada anual de divisas em torno dos 27,5 mil milhões de euros - 13% da dívida externa líquida.   Cerca de três quartos da operação é vendida no estrangeiro.   Com o País ainda à beira da bancarrota, com um grave défice da balança de pagamentos e ainda sem a ameaça de saída do euro dissipada, "as divisas geradas direta e indiretamente pela TAP são preciosas".   À luz destes argumentos, a serem pertinentes, a TAP já não seria uma joia da coroa ou um anel:   seria o próprio dedo indicador.

Com quatro interessados (um consórcio entre o português Miguel Pais do Amaral, Frank Lorenzo, ex-proprietário da Continental Airlines, e o grupo Barraqueiro, os espanhóis da Globalia, os brasileiros da Azul e Gérman Efromovich), o processo não avança.   Uma das razões será a falta de consenso no seio do próprio Governo, quanto à participação a vender e em relação ao timing da respectiva alienação.   E esta história, a acabar como a da PT, também dava um filme.

Tirem-nos dele.


segunda-feira, 4 de agosto de 2014

NOVO BANCO... FRAUDE VELHA !






Portugal assistiu ontem a um evento raro.   O Banco de Portugal tentou convencer o país, — e o mundo financeiro —, da suficiência de um programa de resolução para o Banco Espírito Santo.   Uso a expressão “tentar convencer” sem segundas intenções:  sendo a confiança o elemento essencial na relação entre os clientes e o sistema bancário, o trabalho de um banqueiro central é sempre um trabalho de persuasão.

Como tal, só o tempo poderá dizer se o esforço de persuasão de hoje funcionou ou não.   Se nos próximos dias os depositantes do antigo Banco Espírito Santo, agora crismado de Novo Banco, não forem alarmados por novos esqueletos no armário, pode ser que o banco central consiga superar a primeira prova deste exercício de alto risco.   O resto é bem mais complicado e compete ao governo;   cá estaremos para ver se poderá cumprir-se a promessa de o caso BES não contaminar a dívida pública e não prejudicar os contribuintes portugueses.   A divisão do BES entre “banco mau” e “banco bom”, com todas as complexidades e incertezas que ela oculta, torna tudo isto muito duvidoso.

O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, foi forçado a admitir que a gestão do Banco Espírito Santo foi muito pouco católica:  nos últimos tempos, e provavelmente bem antes disso, a administração do banco, e do grupo familiar em que ele se inseria, incorreram numa série de fraudes e ocultações.  Depreende-se claramente do que disse Carlos Costa que haverá responsabilidades criminais a apurar.  (podemos acreditar nisso???...)

Apesar do nome do “banco bom”, Novo Banco, ser uma ingénua tentativa propagandística para fazer crer às pessoas de que estamos a entrar num tempo de fazer tábua rasa, as fraudes do Banco Espírito Santo não têm nada de novo.

E é aí que houve algo de ainda mais extraordinário naquele momento extraordinário.  Carlos Costa confessou a inoperância das entidades reguladores perante o capitalismo financeiro conforme ele funciona hoje.   As fraudes do Banco Espírito Santo não têm nada de novo:  basicamente, dependem da utilização de jurisdições ocultas, empresas-veículo em paraísos fiscais, e um carrossel de operações entre todas elas. 

O sistema continua tão opaco quanto sempre.  Nada mudou.  E o governador do banco central confirmou que só quando o banco estoura é que se consegue levantar a ponta do véu.   A podridão do império BES ainda está por descobrir.

Posto desta forma, Carlos Costa não disse mais do que dizem todos os grandes críticos do capitalismo actual.  Só o disse de forma menos clara.  Os velhos vícios continuam intactos por debaixo dos “novos bancos”.

Há maneira de acabar finalmente com isto.  Separar bancos de investimento de bancos tradicionais.  Obrigar os bancos europeus a revelarem tudo o que fazem as suas subsidiárias.  Legislar, ao nível da União Europeia, no mesmo sentido dos EUA com a sua lei FATCA, que obriga todas entidades fiscais, coletivas ou individuais, a declararem os activos que detêm fora da sua jurisdição de origem.  E, finalmente, criar uma unidade especial de investigação ao crime financeiro e económico, sediada no Banco Central Europeu ou na Europol.


Tudo isto pode ser conseguido, mas não pelos governos que temos hoje.

(RUI TAVARES - Público - 04/08/2014)