O fundo dos fundos
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Entre erros colossais e previsões catastróficas, temos, hoje, um governo cuja política falhou estrondosamente. Do alto da sua impotência, o primeiro-ministro ensaia uma fuga em frente, ameaça com a sua demissão e responsabiliza politicamente o Tribunal Constitucional pelo delírio de um Orçamento do Estado que o próprio ministro das Finanças se encarregou de atirar para o caixote de lixo.
Na Assembleia da República, o drama ganhou proporções épicas, com uma deputada do PSD a exigir que os juízes cumprissem o Memorando da troika e levassem em conta as exigências dos nossos credores. Aparentemente, para o PSD, o Tribunal Constitucional, antes de decidir seja o que for, devia ter uma conversinha de pé de orelha com o Sr. Selassie ou, quem sabe?, pedir (mesmo que roído de inveja) um esclarecimento ao Sr. Schäuble sobre a melhor forma de subverter o Estado de direito, em Portugal. E depois ainda há quem, num rasgo de patriotismo, apele a um sublime consenso em torno de coisa nenhuma, sem perceber que não é propriamente fácil fazer consensos com defuntos que só estão à espera que lhes seja decretada a respectiva certidão de óbito.
No meio disto tudo, entre nomeações para o governo de jovens imberbes na qualidade de especialistas, surgiu, qual cereja em cima do bolo, o anúncio de que o ex-espião Silva Carvalho, acusado dos mais variados crimes, se vai instalar, com pompa e circunstância, na Presidência do Conselho de Ministros, ao abrigo de um diploma qualquer que ignora a sua feérica passagem por uma empresa privada onde, segundo o Ministério Público, se entreteve a violar segredos de Estado e a aceder ilegitimamente a dados pessoais de jornalistas e empresários. Perante tanta generosidade, o ex-espião diz agora que vai colaborar estreitamente com o governo que o nomeou. E o pior é que se calhar vai. E o país, por via de cumplicidades maçónicas e de negócios obscuros, chega assim ao fundo dos fundos.
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(Por Constança Cunha e Sá, In Jornal "I", 30 Mar 2013)
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