Quem semeia ventos colhe tempestades
Os portugueses não vão esquecer-se, por muito tempo, da manifestação do dia 2
de março, um misto de profunda tristeza e de enorme desespero. Como se Portugal
estivesse para desaparecer do mapa e a Democracia, herdada do 25 de Abril - e do
25 de Novembro - se estivesse a perder definitivamente.
Realmente, o Governo, em silêncio absoluto, escondido, protegido pelos seus
seguranças protetores, cheio de medo, recusa-se a ouvir os seus compatriotas,
sem dizer uma palavra. Como se nada se tivesse passado. O Povo e os milhares de
desempregados empobrecidos e muitos obrigados a emigrar não contam nada para o
Governo, que os ignora como se não existissem.
Ora, não há Democracia sem que o Povo se faça ouvir e o Governo - eleito pelo
Povo - o respeite e oiça. O atual Governo despreza e ignora o Povo, procede sem
ter em conta a sua voz - nem sequer a do Presidente da República - porque só tem
obedecido aos tecnocratas da troika, aos mercados comandados por magnatas mais
ou menos anónimos e - faça-se-lhes essa justiça - à senhora Merkel.
Portugal é, há muitos séculos, um país independente - dos mais velhos da
Europa, com as mesmas fronteiras - e está, com o atual Governo, a perder a
independência, tornando-se um protetorado dos mercados usurários e dos
tecnocratas da troika. Alguém sabe donde vêm? De quem dependem? E quem são? Poderia ser de outra maneira? É claro que podia, se o Governo não fosse um
fiel da austeridade e não ignorasse a recessão e o flagelo do desemprego, ao
contrário do que prometeu na campanha eleitoral.
Resultado: o Governo - sob a tutela do ministro das Finanças - falhou sempre,
enganou-se em tudo e continua a falhar. E Passos Coelho - para não falar do seu
grande amigo, o falso doutor Relvas - não tem qualquer estratégia e continua
todos os dias a empobrecer o País e a vender a retalho - e mal - o nosso
património. Sem que se saiba - diga-se - para onde vai o dinheiro. Porque o
Governo cala-se e não comunica com os portugueses, mesmo os mais abastados.
Sabemos que a crise financeira, económica, ética e política é gravíssima e
muitos Estados da Zona Euro têm vindo a perder o norte. Dou um exemplo: as taxas
de desemprego: 26,2% em Espanha, 25,4% na Grécia e em Portugal já passámos os
17%. Mas, atenção, prevê-se que em Portugal, em fins de 2013 - se o Governo lá
chegar, o que não acredito -, aumente ainda mais.
A verdade é que todas as previsões do Governo não só são, em absoluto, contrárias às promessas eleitorais, como todas têm sempre sido revistas em baixa: PIB, desemprego, consumo, investimento e o mais que se sabe. E ainda vão continuar a falhar em 2013, se o Governo não cair antes, como espero.
A verdade é que todas as previsões do Governo não só são, em absoluto, contrárias às promessas eleitorais, como todas têm sempre sido revistas em baixa: PIB, desemprego, consumo, investimento e o mais que se sabe. E ainda vão continuar a falhar em 2013, se o Governo não cair antes, como espero.
Há hoje 930 mil desempregados e 200 mil chamados inativos, que nem sequer
entram nas estatísticas. Mas não esqueçamos os cem mil emigrantes anuais que nos
estão a abandonar. O investimento político e privado - note-se - está também a
descer, significativamente, bem como as exportações. Tudo vai mal. E o mês de
março não vai ser nada fácil.
Lembremo-nos que o Tribunal Constitucional ainda não se pronunciou. Tem
tardado. Mas não creio que deixe passar imune o "roubo" das pensões e da
sobretaxa, o que, a acontecer, deita abaixo, nesses pontos, o Orçamento.
Ficará o
Governo a gozar do silêncio, como fez em 2 de março? Não creio que a sua
vergonha vá tão longe. Porque se assim for, a indignação pode tornar-se
violenta. Não gostaria nada que tal acontecesse. Mas quem não ouve e não tem
controlo, como o Governo, sujeita-se a tudo. Como diz o Povo, quem semeia
ventos, colhe tempestades...
(Por Mário Soares, In DN de 12/03/2013) (Sublinhados deste blogue)
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