.
Esta ideia que pretende impor-se de que não existe alternativa a este caminho
é típica de regimes totalitários.
É aliás daí, do totalitarismo, que vem a
inspiração para ideias tão peregrinas como a da criação de milícias populares
que denunciem os comerciantes malandros que não passam faturas, ou, pior ainda,
a obrigatoriedade de fazer constar dos talões de compra dados pessoais do
consumidor. Estas, como por exemplo a intenção de fiscalizar os fumadores dentro
dos carros, são ideias de um Governo que foi eleito com base na premissa de que
o Estado é um empecilho e deve fazer-se sentir o menos possível na vida dos
cidadãos. Mas, ironia das ironias, a presença do Estado nunca foi tão
percetível, em democracia, e pelas piores razões, como com o atual Governo.
Em democracia não há pensamento nem partido único. E, por definição, há
sempre alternativas. Nem que seja o inevitável alargamento dos prazos de
maturidade para pagamento dos empréstimos que contraímos. É óbvio que, para que
elas se manifestem, é necessário que as oposições tenham discurso. Honra lhes
seja feita, o PCP e o BE são claros e coerentes no caminho que propõem: romper
com a troika e rasgar o "Pacto de Agressão". E o que diz o PS? O que é que fará
de diferente? Em que é que se vai distinguir da atual maioria? Que relação terá
com o Memorando, com a dívida e com o embuste apelidado de "reforma do
Estado"?
Pacheco Pereira sugeriu esta semana, por exemplo, que os socialistas deviam
ter a coragem de fazer uso da sua capacidade de "veto informal", isto é, que em
matérias fundamentais como o corte permanente de 4 mil milhões nas despesas
sociais do Estado, no aumento do salário mínimo, nas taxas moderadoras da saúde,
ou nas condições de acesso ao subsídio de desemprego o PS anunciasse, de forma
solene, que fará exatamente o contrário daquilo que a maioria atual está a pôr
em prática e que reporá todas as prestações que agora venham a ser cortadas.
Isso, naturalmente, obrigaria a troika a negociar e a rever a sua receita que
tão maus resultados tem dado. Mas, para isso, é preciso ter argumentário e
capacidade de proposta e, sobretudo, coragem para, se necessário for, romper com
um memorando que já nada tem a ver com o original, negociado pelo anterior
Governo com a bênção de PSD e CDS, então na oposição.
Como é óbvio, o País já não aguenta. E das duas, uma: ou se trava a espiral
recessiva já denunciada pelo Presidente da República - (a propósito, alguém sabe
onde está Cavaco Silva?) - enquanto é tempo, ou, chegados ao nosso trágico
destino, já nada haverá para salvar. A escolha é simples. Porque, como escreveu
um dia Victor Hugo, "entre um governo que faz o mal e o povo que o consente, há
uma certa cumplicidade vergonhosa".
1 comentário:
Caro menvp
Não digo "referendo"... mas há maneiras de limitar a actuação do estado nesta matéria. No resto, estou inteiramente de acordo!
Enviar um comentário