terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Argentina - novamente debaixo de fogo dos "Bilderberg"...

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Argentina:   os abutres ao ataque

A Argentina é notícia outra vez.   O País tem conseguido a reestruturação da dívida externa após a grave crise financeira de 2001-2002:  como?   Em primeiro lugar com um pontapé nos agentes funerários do FMI (o Fundo Monetário Internacional) e aos programas da austeridade deles.

 
E os resultados não faltam:   uma das economias com o melhor desempenho dos últimos anos.   Enquanto a maioria dos outros Países choram ou estagnam, a Argentina cresce.   Não sem algumas dificuldades, mas cresce e bem.


Todos felizes?   Nem por isso.   Porque a Argentina é uma voz fora do coro, e incomoda.   Incomoda o facto de ter fechado a porta na cara dos "sábios" internacionais, incomoda o facto de ter alcançado resultados positivos sem obedecer aos ditames suicidas da finança mundial.
E, se incomoda, deve ser punida!   O melhor instrumento?   A justiça.   Não a legalidade, mas a justiça com inicial pequena.


 
O fundo-abutre das Cayman...

A Elliot Capital Management, um fundo-abutre baseado no paraíso fiscal das Ilhas Cayman, pertence ao conservador Paul Singer (um dos principais contribuintes da campanha presidencial de Romney nos Estados Unidos):   e o fundo-abutre rejeitou os termos da reestruturação da dívida argentina, os mesmos termos que foram aceites por 92% dos detentores de Títulos em 2005 e 2010.
 
Paul Singer exigiu o pagamento integral e tem prosseguido activamente o caso em diversos tribunais ao redor do mundo.   Alguns meses atrás, a fragata argentina "Libertad" foi apreendida no Ghana, depois de um juiz local ter decidido em favor da Elliot Capital Management.  
E agora, o juiz Thomas Griesa decidiu num tribunal de New York que o governo argentino tem de pagar 1,3 biliões de Dólares ao fundo-abutre, o valor total dos Títulos na sua posse mais os juros acumulados desde 2001.
Se a Argentina incomoda, há algo que incomoda nesta história também.
Elliot e outros fundos-abutres não são investidores convencionais.   Nada aqui de velhote que tenta ganhar uns trocos investindo parte da sua mísera reforma.

Os fundos-abutres compram acções, títulos, obrigações, a preços promocionais durante uma crise, com a intenção explícita de levar os Países em dificuldades para um tribunal sob jurisdição estrangeira, e tentar assim obter o pagamento integral sem renegociações.   A Elliot Capital Management, por exemplo, adquiriu também dívida do Congo e do Peru.

Os fundos-abutres representam o mundo das finanças na versão mais agressiva e exploradora.


A sentença de Griesa também contém uma injunção que proíbe a qualquer terceiro violações neste sentido:   isso significa que a Argentina não pode continuar os pagamentos aos credores que aceitaram a reestruturação da dívida e que agora recebem quanto acordado.
Isto, obviamente, tem enormes implicações porque põe em causa toda a reestruturação da dívida no plano internacional, não apenas no caso da Argentina:   se a sentença do juiz for aceite, qualquer reestruturação da dívida ficará virtualmente impossível, pois será suficiente uma acção por parte dum fundo-abutre qualquer para travar o processo e pôr em discussão toda a reestruturação.

Por exemplo:   porque os detentores dos Títulos de Dívida gregos teriam de aceitar uma reestruturação quando é sabido que um fundo-abutre pode recusa-la e até obter apoio jurídico nos tribunais internacionais?
A decisão também contradiz as leis internas dos EUA, em tema de falência.   As actuais leis forçam a minoria de credores a aceitar um acordo aceite por 70% dos credores.   Segundo o juiz de New York, este princípio já não tem relevância.   Tentamos imaginar as consequências no mercado imobiliário mundial:   as únicas opções serão ou  "tudo" (o pagamento integral) ou "nada" (falência).

...e Fitch, claro

Paralelamente, a agência de rating Fitch (a mesma que tinha entregue um "triplo A" aos títulos subprime dos Estados Unidos...) rebaixou os Títulos da Argentina, que agora aparecem como "lixo".
E muitos analistas financeiros prevêem uma nova bancarrota da Argentina.
Mas não há razão para acreditar que o País esteja perto duma falência:   os dados macro-económicos da Argentina são positivos (46 biliões de Dólares só de reserva internacional), o desemprego tem caído de 22% para 7%.   A economia do País é uma daquelas que mais crescem no planeta.
Então, como explicar o juízo de Fitch, a tentativa de minar os mercados financeiros do País, o ataque contra o plano de reestruturação?


Paradoxalmente, a explicação é mesmo o grande sucesso da economia argentina após a bancarrota de 2002:   um sucesso obtido com a rejeição das medidas de austeridade promovidas pelo FMI, com a nacionalização de sectores-chave da produção (a aviação, as pensões, o petróleo), o aumento da protecção social e transferência de rendimentos para as classes mais desfavorecidas (o que reduziu a pobreza), o aumento (real) dos salários.

Estes são dados que fazem endireitar os cabelos em Wall Street:   é uma história de sucesso, perigosamente de sucesso.   Mostra que há vida após a falência, que a austeridade não é o melhor caminho para sair da crise, que um País pode tranquilamente encontrar o próprio rumo sem as péssimas indicações da finança global.

E se a experiência argentina fosse tomada como exemplo?
Isso assusta.   E muito.   Porque há vários Países em dificuldades, porque a economia mundial está em claro sofrimento, e neste panorama desolador é importante que ninguém tenha dúvidas e que todos sigam as indicações "de quem sabe" e "trabalha para o nosso bem".

É necessário mostrar que esta, afinal, não é uma história de sucesso:   e para obter isso não é difícil encontrar um anónimo juiz que de repente pode ganhar notoriedade internacional e ao mesmo tempo vê aumentar o saldo da própria conta bancária.

Ironicamente, pode ser pior o emenda que o soneto.   Não apenas estas decisões são profundamente injustas e antidemocráticas, como também ameaçam o sistema financeiro.   Conceder aos fundos-abutres a prioridade sobre a maioria de quem possui Títulos e aceita uma reestruturação, mina qualquer possibilidade de renegociação da dívidas e vai muito além disso:   nenhum sistema de crédito pode funcionar desta forma.

Por aqui não podemos não realçar o nível miserável atingido pela assim chamada "justiça", cada vez mais ao serviço do pior poder económico-financeiro.   Nada que possa surpreender, claro, só mais uma triste confirmação.

Mas que esperança de vida pode ter um sistema como este?
 
(Fonte:  Blogue  Informação Incorrecta ) (sublinhados deste blogue)
 
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1 comentário:

Anónimo disse...

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