quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O meu último corte de cabelo!



Ontem fui, pela primeira vez, ao “Unissexo”. Ao barbeiro. Ao barbeiro não, ao cabeleireiro... cabeleireiro?! ...bem, aqueles sitios onde a gente se “mistura” para cortar os cabelos. Nunca tinha experimentado, mas... tal como noutras, também nestas coisas eu não gosto de morrer estúpido...
A semana passada tinha-me encontrado no elevador com o João Vitor, um amigo de longos anos, que, a propósito não sei já de quê, me havia falado, com um bem humorado entusiasmo, do tal local “Unissexo” e de uma tal “Lili” que o havia servido (no corte do cabelo, entenda-se...).
Bem, eu devo dizer que sou muito conservador em certas coisas e não sou muito dado a experiências novas (excepto algumas...), pelo menos naquelas que “mexem” com a minha integridade capilar.
Todavia, e depois de todo aquele entusiasmo do João, deixei os pergaminhos de lado e lá fui procurar o tal tão “entusiasmante” Unissexo. Dei com ele facilmente, pois claro, numa loja do “Shopping”. Espreitei pela porta envidraçada e, um pouco inibido, lá entrei por fim, arrojada e decididamente. Um pouco encavacado, como quem está em local “proibido”, lancei de relance, primeiro um olhar à clientela que, por acaso, eram só duas meninas, e sentei-me num dos lugares livres.

Puxei duma revista como se estivesse perfeitamente à vontade, e comecei uma leitura sem nada ler, que o que eu queria mesmo era saber onde estava a tal Lili. Assim que consegui soltar-me um pouco e levantar os olhos da revista, muito disfarçadamente varri com os olhos as três artistas da tesoura. Uma delas, nem falar… com aqueles cabelos multicolores à freak, não poderia ser a Lili. Das outras duas, uma era bastante p’ro gordinho, de braços curtos e um pouco baixinha, o que a tornava ainda mais gorda e com nenhumas possibilidades de ser candidata a Lili. Além disso, com um par de seios a atirar p’ro grande e que, só com grande ginástica e perícia a sua dona conseguia manter, parte deles, dentro duma Tshirt de tamanho “S”, quando a sua medida deveria ser, certamente, o “XXL”... deixando, assim, desnudadas e tremelicantes, aquelas duas grandes massas arredondadas.

A outra artista... Oh! alvorada do amanhecer!… -Bem a outra era um belo exemplar daquilo que o Criador, só quando está bem disposto, consegue fazer. Para regalo dos nossos olhos. E não só! -morena, bonita, dengosa, bem pintada, de olhos alegres e bem falante, aí pelos 27-28... enfim, era esta, concluí definitivamente, a tal Lili, sem dúvida.
Caramba, aquele João Vitor também não perde uma, pensei. -Bolas... aquele gajo é tramado!
A certa altura aproxima-se um puto que me pergunta: -tem preferência? Primeiro não entendi, mas logo me recompuz e respondi-lhe, de imediato e com toda a convicção: - Sim, sim, a Lili. Claro, quem mais quereria o puto que fosse? Ele apontou qualquer coisa num bloco e afastou-se.
Cerca de uma hora e de uma meia dúzia de revistas depois, profundamente embrenhado e sonhando já com as sensações por que iria passar, ali sentado naquela cadeira rotativa, bem juntinho e cheirando o perfume daquela deusa da tesoura, sentindo já cada tesourada como se de uma carícia de Afrodite se tratasse, volta-me novamente o puto, chamando-me para me sentar na cadeira. -Qual cadeira? perguntei, -Eu disse que queria a Lili, pá, e essa ainda está ocupada!
Torna ele -Mas a Lili é esta, apontando-me a cadeira vazia da “gordinha”. -Então a Lili... não é... -Não, respondeu ele, aquela ali é a Mafalda.


Oh! Crepúsculo do anoitecer! -Isto não podia estar a acontecer-me a mim... mas que mal fiz eu a Deus?
Contrariado e com uma vontade danada de sair porta fora, lá me sentei na maldita cadeira, com aquela mesma vontade e disposição com que me sento na do dentista. E, já que tinha que ser, entreguei-me… e ainda eu não sabia o que me esperava!
Enquanto a Mafalda, ao lado, toda ela se mexia, e falava, e ria, esta, a tal Lili perguntava apenas:
-Então como vai ser? -Oh! minha filha, olhe, normal! disse eu. Acho que ela entendeu porque não perguntou mais nada, atirando-se a mim à tesourada. A certa altura, pergunta-me:
-Também quer por cima? (!?!) -Claro, respondi, já agora de todos os lados... não há nada como experimentar tudo... pensei!
E é então aqui que as coisas começam a aquecer... é então que ela, a Lili, me vira para ela, pela esquerda e quase de frente, me agarra na cabeça como se agarrasse um vaso de plantas e me encosta a minha cara ao peito dela.


Baixinha como a artista era, a minha visão estava agora confinada apenas a duas grandes bombocas, que tremelicavam a cada movimento da tesoura. -Oh! diabo, pensei, o que é isto? Então e agora o que é que eu faço? O que é que é suposto fazer agora? continuei a pensar. E a pensar também como é que havia de respirar... porque, à medida que ela ia progredindo no corte por cima, mais me empurrava a cara contra aqueles grandes seios semi-desnudados, até que, em dado momento e já com o nariz enterrado naquelas massas moles, mexi um pouco a cabeça para libertar uma das narinas, e logo: -Quietinho com a cabeça! disse ela. -Mas eu tenho que respirar, querida, respondi. Ela nem me ouviu, ou fez de conta, não sei, e continuou. E eu continuei com o nariz enfiado... bem no meio.

Oh! meus amigos! vocês sabem como é... que ninguém é de ferro, e a minha “impaciência” já se não continha e estava a ficar demasiado... volumosa! Tanto que comecei a ficar preocupado, envergonhado até, pois que tanta “impaciência” começara já a tornar-se demasiado... visível!
Tentei, lá como poude e sem me mexer, encaminhar as mãos, muito devagarinho como se nada fosse e sem despertar as atenções, para o local onde pudesse, dissimuladamente, esconder toda aquela minha “impaciência” que me atrapalhava ainda mais, mas... uma vez mais a voz seca dela (que não condizia nada com o toque “soft” dos seus atributos) me despertou dos meus intentos: -Não mexa a cabeça, por favor! Confesso que, já meio irritado, me apeteceu perguntar-lhe a qual delas se referia ela, mas serenei.


Francamento vos digo, eu já não sabia de que cor estava. Acho que já tinha passado por todas elas... e o meu nariz continuava ainda onde não deveria estar. E continuava, agora ainda mais, a precisar de respirar. E como se isto não bastasse já, oh! minha Nossa Senhora... sinto ainda neste momento alguém pegar-me na mão direita, que se encontrava sobre a esquerda e no local onde, estrategicamente, as tinha podido colocar, no intuito de esconder a tal “impaciência”. Era agora a “manicure” - a Arlete - que me perguntava: -Vamos arranjar estas unhas? -Que nada, respondi, estou com pressa, vamos deixar para a próxima! E tornei a por a mão no mesmo sítio...

Bem, já não me lembro muito bem quanto tempo a Lili demorou a acertar-me o cabelo por cima. Só sei que foi muito... demais, e eu transpirei por todos os poros. Só uma coisa vos garanto: -nunca mais volto ao “Unissexo”. A este ou outro qualquer. E quando tornar a encontrar o João Vitor, prego-lhe com duas cervejas na tromba. Que isto não se faz a um amigo!

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