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A propósito da discussão no Parlamento (hoje) do relatório da Comissão de Inquérito ao BPN...
Embora escrito em Junho de 2008 por Mário Crespo, este artigo de opinião, grito misto de raiva e de revolta, continua hoje ainda mais actualizado e revoltante do que então. É que não sabia ainda então o Mário Crespo que o roubo não era de (apenas!...) 2 mil milhões mas antes de 7 mil milhões, como é hoje sabido. Só em injecções reais, o estado já lá enterrou 3,4 mil milhões de euros do nosso dinheiro, para vendê-lo depois por uns "trocos" - 40 milhões - ao BIC do Mira Amaral. Grande negócio !!!
Entretanto... tudo continua na mesma: - a SLN mudou o nome para GALILEI e mantém todo o seu património intacto; o seu "patrão" principal continua, tal como antes, o "ex pé-rapado" de Coimbra que dá pelo nome de Dias Loureiro, que foi ministro e conselheiro de estado de Cavaco Silva, que não tem bens em seu nome que possam ser penhorados no âmbito da investigação no caso BPN, que tem nas suas contas bancárias um saldo médio que não ultrapassa os cinco mil euros, mas que se passeia descaradamente entre a sua mansão de luxo no Estoril e o seu Resort-Hotel de luxo na Ilha do Sal em Cabo Verde, e que goza as suas festas de passagem de ano no hotel mais caro do Rio de Janeiro, acompanhado até por um ministro "Relvas" deste governo que, se tivesse um pingo de vergonha na cara, poderia fazer-nos o favor de desaparecer de vez!
E depois... ninguém está preso?! E o País e o povo irão continuar a pagar este colossal roubo em cortes nos ordenados, nas reformas, na saúde, na educação, nos tranportes e em tudo o mais?!
E o único que está sob prisão "soft", com pulseira electrónica, é o ex-patrão do BPN, Oliveira e Costa, que numa jogada de antecipação se divorciou, não sem antes ter passado todo o património para a ex-mulher. Bela jogada... que só surte efeito neste país do 3º mundo!
Um colossal roubo de 7 mil milhões de euros praticado por um Banco que nunca foi de banqueiros, mas apenas de amigos do peito, de longa data e de toda a confiança do actual presidente da república. E que irá ficar, como todos os outros roubos desta gente, impune!...
E ninguém incomoda ninguém!... E ninguém está preso!... E ninguém vai preso!... E nós é que vamos pagar tudo isto!...
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Entretanto... Continuemos a fazer de conta
Façamos de conta que e o que passou no BPN e na SLN não é mesmo uma enorme "roubalheira". Façamos de conta que há outro termo para descrever correctamente o saque de dois mil milhões de dinheiro dos portugueses.
Façamos de conta que a mais-valia de 147 por cento do investimento de Aníbal
Cavaco Silva e família não aparece nos dois mil milhões de prejuízos do BPN
nacionalizado. Façamos de conta que não é o contribuinte português quem está a
pagar esses dois mil milhões. Façamos de conta que é normal conseguir valorizar
um investimento 147,5 por cento em menos de dois anos. Tudo isto fora do
controlo das entidades fiscalizadoras e reguladoras do mercado de capitais.
Façamos de conta que um conglomerado de bancos e offshores que compra coisas por dezenas de milhão, que vende depois por um dólar, e que rende mais do que a Dona Branca, é normal. Façamos de conta que um negócio gerido assim faz algum sentido no mercado. Façamos de conta que é acessível ao cidadão comum um negócio destes. Façamos de conta que sabemos todas as circunstâncias da compra e da recompra das acções de tão prodigiosa mais valia, que a família Silva detinha no projecto de Dias Loureiro e Oliveira e Costa. Façamos de conta que a SLN não tem nada a ver com o BPN. Façamos de conta que o BPN e a SLN não têm um número invulgar de gente do PSD envolvido nas suas actividades.
Façamos de conta que Aníbal Cavaco Silva não é a personalidade de mais influência no PSD. Façamos de conta que os termos SLN, Sociedade Lusa de Negócios ou SLN Valor aparecem no comunicado da Presidência da República de 23 de Novembro de 2008. Façamos de conta que, nesta fase de dúvidas, é aceitável uma declaração como a emitida pelo Palácio de Belém sem referências ao valioso investimento familiar no mais controverso dos projectos financeiros da história de Portugal. Quando é só esse investimento que está causa. Por ser uma aplicação num projecto de licitude duvidosa. Façamos de conta que o Chefe Executivo desse projecto não tinha sido um íntimo colaborador de Aníbal Cavaco Silva responsável por finanças públicas. Façamos de conta que entre 2001 e 2003 os negócios do BPN e da SLN decorriam de forma irrepreensível e no cumprimento integral da lei da República.
Façamos de conta que não foi por escolha pessoal do Presidente da República que Dias Loureiro foi nomeado Conselheiro de Estado. Façamos de conta que, como o Presidente disse, estar Dias Loureiro no Conselho de Estado era a mesma coisa que estar António Ramalho Eanes ou Mário Soares ou Jorge Sampaio. Façamos de conta que o Presidente relatou tudo o que devia ter relatado ao País sobre os seus activos passados nos projectos de Oliveira e Costa e Dias Loureiro. Façamos de conta que não há gente presa por causa do BPN. Façamos de conta que não vai haver mais gente presa.
Façamos de conta que o que se passou no BPN e na SLN não é mesmo uma enorme "roubalheira". Façamos de conta que há outro termo para descrever correctamente um saque de dois mil milhões de dinheiro dos portugueses. Façamos de conta que não conseguimos imaginar quantas escolas, quantos hospitais, quantas contas de farmácia, quantas pensões mínimas, quantas refeições decentes se podem comprar com esse dinheiro. Façamos de conta que basta, apenas, cumprir rigorosamente a Lei e ignorar o que a Lei não diz, para se ser inquestionavelmente impoluto.
Façamos de conta que não sabemos o que se está a passar à nossa volta. Até onde aguenta o País continuarmos a fazer de conta que não vemos?
Façamos de conta que um conglomerado de bancos e offshores que compra coisas por dezenas de milhão, que vende depois por um dólar, e que rende mais do que a Dona Branca, é normal. Façamos de conta que um negócio gerido assim faz algum sentido no mercado. Façamos de conta que é acessível ao cidadão comum um negócio destes. Façamos de conta que sabemos todas as circunstâncias da compra e da recompra das acções de tão prodigiosa mais valia, que a família Silva detinha no projecto de Dias Loureiro e Oliveira e Costa. Façamos de conta que a SLN não tem nada a ver com o BPN. Façamos de conta que o BPN e a SLN não têm um número invulgar de gente do PSD envolvido nas suas actividades.
Façamos de conta que Aníbal Cavaco Silva não é a personalidade de mais influência no PSD. Façamos de conta que os termos SLN, Sociedade Lusa de Negócios ou SLN Valor aparecem no comunicado da Presidência da República de 23 de Novembro de 2008. Façamos de conta que, nesta fase de dúvidas, é aceitável uma declaração como a emitida pelo Palácio de Belém sem referências ao valioso investimento familiar no mais controverso dos projectos financeiros da história de Portugal. Quando é só esse investimento que está causa. Por ser uma aplicação num projecto de licitude duvidosa. Façamos de conta que o Chefe Executivo desse projecto não tinha sido um íntimo colaborador de Aníbal Cavaco Silva responsável por finanças públicas. Façamos de conta que entre 2001 e 2003 os negócios do BPN e da SLN decorriam de forma irrepreensível e no cumprimento integral da lei da República.
Façamos de conta que não foi por escolha pessoal do Presidente da República que Dias Loureiro foi nomeado Conselheiro de Estado. Façamos de conta que, como o Presidente disse, estar Dias Loureiro no Conselho de Estado era a mesma coisa que estar António Ramalho Eanes ou Mário Soares ou Jorge Sampaio. Façamos de conta que o Presidente relatou tudo o que devia ter relatado ao País sobre os seus activos passados nos projectos de Oliveira e Costa e Dias Loureiro. Façamos de conta que não há gente presa por causa do BPN. Façamos de conta que não vai haver mais gente presa.
Façamos de conta que o que se passou no BPN e na SLN não é mesmo uma enorme "roubalheira". Façamos de conta que há outro termo para descrever correctamente um saque de dois mil milhões de dinheiro dos portugueses. Façamos de conta que não conseguimos imaginar quantas escolas, quantos hospitais, quantas contas de farmácia, quantas pensões mínimas, quantas refeições decentes se podem comprar com esse dinheiro. Façamos de conta que basta, apenas, cumprir rigorosamente a Lei e ignorar o que a Lei não diz, para se ser inquestionavelmente impoluto.
Façamos de conta que não sabemos o que se está a passar à nossa volta. Até onde aguenta o País continuarmos a fazer de conta que não vemos?
(Mário Crespo, In JN, 08/06/2008)
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