sexta-feira, 30 de julho de 2010

A Linha do Tua - um acto criminoso no Património Nacional




Rivalizando com o vale do Rio Douro do qual é afluente, o vale do Rio Tua apresenta uma beleza de características únicas e esplendorosas, só equiparáveis a algumas zonas dos Alpes suíços e austríacos. O pequeno rio que corre, lá no fundo agreste e empedrado, caudaloso no inverno feito regato no verão, as encostas abruptas e alcantiladas em maciço e duro granito das empedernidas terras de Trás-os-Montes, a vegetação rasteira e de pequeno porte que permite observar, quase em êxtase, toda esta magestosa paisagem onde o tempo parece ter parado, tal é a beleza do cenário natural por onde, a meia encosta, serpenteia uma das mais belas relíquias nacionais - a Linha do Tua.
E é isto, tudo isto que é 'nosso' por direito, que um bando de criminosos se prapara para destruir, despejando milhões de toneladas de cimento e enclausurando, para todo o sempre transformada em lago de águas paradas, toda esta maravilhosa obra que a natureza levou centenas de milhões de anos a esculpir.

É a propósito deste inqualificável acto de pirataria patrimonial e paisagistica que, hoje, no Aventar, Ricardo Santos Pinto escreve um artigo que aqui reproduzo e que intitula:
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"Em defesa da Linha do Tua contra um Primeiro Ministro ignorante e iletrado"

"O facto de sermos governados por um ignorante e iletrado, de quem nada se espera em termos de defesa do património natural e edificado do nosso país, não dá a ninguém o direito de cruzar os braços perante o atentado criminoso que se prepara para o Vale do Tua e a sua inacreditável linha ferroviária.

Para quem não sabe, a Linha do Tua foi equiparada, pelos mais reputados engenheiros, em termos de dificuldade, às Linhas ferroviárias dos Alpes Franceses ou Suíços. Pela sua beleza e rigor técnico, merecia ser classificada como Património Nacional ou, mesmo, Património Mundial da Humanidade.



Ao invés, querem destruí-la. Para dar lugar a uma Barragem, que representará menos de 4% da produção de energia existente de norte a sul. Uma Barragem! Um monte de betão, tão do agrado dos novos engenheiros de Portugal. Os engenheirozecos que hoje mandam no país, os mesmos que fazem licenciaturas manhosas e que fazem projectos de sarjeta!

Pensarão os mais pessimistas que não adianta lutar. Nada se pode contra o betão! Nada se pode, no fim de contas, contra o dinheiro! Pois se Portugal é líder nas energias alternativas e continuamos a pagar a electricidade cada vez mais cara…
Concedo que é difícil. Lutar contra o betão e o dinheiro é difícil, mas lutar contra a ignorância é ainda mais. Mas não é impossível. Temos as gravuras de Foz Côa como exemplo, apesar de continuarem à espera de uma verdadeira política de exploração cultural e turística.

Infelizmente, quando perguntados, os senhores do poder dirão que se trata de progresso. De desenvolvimento.  Como é óbvio, os senhores do poder não sabem, porque não querem saber e porque são ignorantes e iletrados, que em 1886 a Linha do Tua já chegava até Mirandela e que em 1906 chegou a Bragança.
100 anos depois, a ligação a Bragança já não existe. Há muito que já não existe! 120 anos depois, querem acabar com a ligação a Mirandela, a última ligação ferroviária do Nordeste Transmontano!
O progresso é isto? O desenvolvimento é isto? Acabar com o meio de transporte mais limpo, mais eficiente e menos poluente do mundo é progresso? É desenvolvimento? Abandonar a via tradicional para fazer absurdos TGV’s num país minúsculo, o que é?

Para o fim, o mais importante: as pessoas. Algo que, olhando para a realidade sócio-política do nosso país, não será grande argumento. São poucos aqueles que vivem em Trás-os-Montes, por conseguinte são poucos aqueles que votam. Acabar com a única ligação ferroviária em toda a região não representará mais do que meia dúzia de milhares de votos, tantos quantos são aqueles que utilizam anualmente a Linha. Milhares de pessoas, todos os anos, em aldeias isoladas, sem forma de chegar a Mirandela ou à Régua?  É o progresso! É o desenvolvimento!

Infelizmente, como já se percebeu, não vale a pena contar com o bom senso dos novos engenheiros que governam Portugal. Já sabemos que José Sócrates, o pequeno democrata de Vilar de Maçada, nunca recua. Para essa gente, o património vale muito pouco.
Infelizmente, também não podemos recorrer sequer a Belém, onde vive uma Múmia Petrificada que, à espera do segundo mandato, sorri até mais não poder, calculista até à vergonha. O mesmo que, enquanto Primeiro-Ministro, começou a destruição da via férrea.

Resta-nos, pois, lutar. Sozinhos. Com a força da razão. Em defesa de um vale único que vai desaparecer. Em defesa de uma linha irrepetível, considerada a terceira mais bela do mundo das vias estreitas. Em defesa de Portugal. Em defesa das suas gentes que dependem do comboio."




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4 comentários:

kakauzinha disse...

É deveras assustador! Parece que não há forma de as pessoas acordarem desta letárgica estupidez em que mergulharam, deificando gente que só tem uma calculadora na mente e no espírito. Mas lá está, os erros já foram repetidamente cometidos e as memórias apagam-se estrategicamente. A impunidade já atingiu o inimaginável. Mas é sempre salutar que haja vozes contrárias que não se calam e que lutam pelo património. E é tão lindo o nosso Portugal!

:))****

Milan Kem-Dera disse...

É uma tristeza. Tristeza e revolta. Por constatar que, mais uma vez, querem destruir mais um recanto deste maravilhoso país. Por assistir, impotentes, à tamanha ignorância e estupidez de pseudo-políticos incompetentes que apenas se regem pelos seus próprios interesses e pelos interesses das famílias partidárias. Tristeza e uma imensa revolta, porque este país continua a ser vandalizado por esta corja de malfeitores!

Anónimo disse...

"Do que outrora foi Portugal, ja so resta a lingua e a paisagem"...ja nem a lingua nem a paisagem...infelizmente...nem com o pessoal a votar no Salazar para maior Portugues eles se apercebem...

Anónimo disse...

Concordo em absoluto, mas também me provoca urticária saber que andam por aí uns abutres interessados em acabar com o Gerês.
Estão organizados em associação e protestam contra o governo, por se opor à plantação de palitos eólicos no Parque Nacional.