segunda-feira, 14 de junho de 2010

O triunfo da corrupção!







O triunfo da corrupção
(Vasco Pulido Valente, 12 de Março de 2010, in “Público”)

Um estudo de Luís de Sousa, sociólogo do ICS, mostra que 63% dos portugueses toleram (ou, mais precisamente, aprovam) a corrupção, desde que ela produza “efeitos benéficos” para a generalidade da população.

Isto não é um sentimento transitório, provocado por trapalhadas recentes; é uma cultura. A cultura dessa grande guerra que, desde que nasceu, qualquer de nós tem com um Estado opressor e remoto e com Governos que nunca respondem pelo que fazem ou deixam de fazer. O português médio execra a autoridade, seja sob que forma for, e vive no seu país como se vivesse sob ocupação estrangeira. O servilismo e a falta de carácter, que tanta gente pelos tempos fora lamentou, escondem a vontade de salvar a pele e a aspiração, muito natural, de enganar quem manda.

Não há regras para ninguém, porque ninguém cumpre as que há. Quem pode levar a sério uma escola em que o próprio ministério fabrica os resultados, proíbe legalmente a reprovação e aceita a violência? Quem pode levar a sério um regime que se diz democrático e selecciona o funcionalismo pela fidelidade partidária? Quem pode considerar um ponto de honra pagar impostos, quando a fraude e a injustiça fiscal são socialmente sinais de privilégio e esperteza? Quem vai pedir um recibo ao canalizador ou ao electricista ou a factura no restaurante, quando sabe o que paga e aquilo que o Estado gasta sem utilidade e sem sentido? E quem vai obedecer às determinações da Câmara do seu sítio, quando a Câmara é uma agência de negócios de favor e uma bolsa de favores sem explicação e sem desculpa?


Não admira que o “povo dos pequenos” conspire constantemente contra a lei, e até contra a decência. Que falte ao trabalho ao menor pretexto; que trabalhe mal, pois se trabalhar bem lhe custa; que peça aqui ou empurre ali, para se beneficiar ou aliviar; que torne as ruas uma lixeira pública; que guie na cidade ou na estrada como se estivesse sozinho; que minta a torto e a direito sobre o que lhe apetece e lhe convém; que não passe, enfim, de um miserável cidadão, indiferente à política e ao país.

Não lhe ensinaram outra coisa. Os chefes são como ele. Os políticos são como ele. O Estado é como ele. Como exigir que ele se porte como Portugal inteiro não se porta? Claro que ele aprova a corrupção e consegue ver nela virtudes redentoras. Não é agora altura de mudar os costumes.

Sem comentários: