segunda-feira, 5 de abril de 2010

José Sócrates, o português assoreado!

Segundo notícia do Expresso, a edição do jornal francês "Liberation" de 18 de Março de 2010, não saíu em Portugal por "motivos de impressão".
( http://www.liberation.fr/monde/0101625174-jose-s-crates-le-portugais-ensable )
Eis aqui a tradução do que tanto amedrontou Sócrates... que até se "avariaram" as rotativas do "Libération":
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José Sócrates, o português assoreado
Nada está trabalhando para o primeiro-ministro socialista, cujo nome está associado a casos de corrupção, num contexto de crise económica grave.
(Por FRANÇOIS MUSSEAU envoyé spécial à Lisbonne)


Sócrates Primeiro-Ministro Português José, 7 de janeiro de 2010 em Paris (Remy AFP de Mauviniere)

A inimizade de boa parte dos média, a crise política que se transforma num impasse institucional, uma situação social explosiva, um desastre económico obrigado a medidas drásticas a curto prazo ... Como se isso não bastasse, o impetuoso José Sócrates (fracamente reeleito nas legislativas de Setembro de 2009) tem agora de enfrentar uma revolta do Parlamento que poderia forçá-lo a demitir-se ou a chamar a família política para encontrar um sucessor socialista como chefe de governo. Começa hoje em Lisboa o trabalho de uma comissão parlamentar de inquérito que, pela primeira vez desde o fim da ditadura de Salazar, envolve diretamente um Primeiro-Ministro. E vai forçá-lo a aparecer fisicamente, ou melhor por escrito. "Portugal é um barco bêbado, onde o capitão é o suspeito maior de toda a tripulação", desferiu um colunista do canal privado SIC.

Segundo os economistas, de todos os países europeus sobre a banca, Portugal é certamente o elo mais fraco. Ainda mais do que a Grécia, o pequeno país ibérico sofre com problemas estruturais, as exportações a meia haste, um registo da dívida externa e um défice de 9,3%. Bruxelas espera de Lisboa as medidas concretas a respeito do “plano de austeridade "ao qual José Sócrates se comprometeu. Mas estas medidas, que prometem ser duríssimas, são esperadas ... Especialmente quando José Sócrates está ainda mais enfraquecido pelos seus problemas político-judiciais.

"Reformador". Isto é muito parecido com um julgamento político supostamente ligado a um caso de intervencionismo. Durante dois meses, um grupo de deputados vai tentar lançar luz sobre o papel desempenhado por José Sócrates na tentativa da gigante Portugal Telecom (PT, controlada pelo governo socialista) para comprar a televisão TVI, hostil ao governo. Trata-se de saber se o líder socialista tem manobrado para colocar a cadeia de TV sob seu jugo. Em junho de 2009, perante o Parlamento, Sócrates tinha solenemente negado o conhecimento de tais negociações. Se este inquérito, que vai ouvir dezenas de testemunhas, provar que o primeiro-ministro mentiu, os dias de quem prometeu "transformar Portugal em Profundidade" estarão contados.

"Embora tenha sido uma parte da solução para o país, Sócrates é agora parte do problema", diz José Manuel Fernandes, ex-editor do diário de referência Público, cuja demissão é devida a relações tensas com o líder socialista. Como muitos outros críticos, Fernandes reconhece que o tonitroante Sócrates foi, no início do seu primeiro mandato - 2005-2007 - um chefe de governo corajoso, que baixou um enorme déficit para 3% (novamente hoje cerca de 10%), reformou o sistema previdenciário (idade e tempo de avaliação aumentada), aumento das receitas fiscais, criou 150 000 postos de trabalho, fez uma limpesa na gestão de topo ... "Um bom equilíbrio entre pró-reforma, que tem mantido uma garantia para a esquerda e direita," disse o analista político Manuel Villaverde Cabral. Ele deslocou um monte de gente em lugares altos, que agora são outros tantos inimigos. "Mas se José Sócrates é tão contestado, é também porque a sua carreira é marcada por sombras e atividades suspeitas”.

Desde os seus primeiros passos municipais na região da Beira Baixa, a leste do país, ele foi envolvido em uma dezena de escândalos. Um diploma de engenharia obtido em circunstâncias suspeitas, licenças de construção concedidas duvidososamente no município de Castelo Branco, o caso "face oculta" (as escutas telefónicas ligam-no a um empresário desonesto, com um quase- monopólio industrial) ... Ou o caso do "Freeport", uma empresa britânica que instalou um centro comercial em Alcochete, um subúrbio de Lisboa, sobre um terreno protegido... com a luz verde de Sócrates, então ministro do Meio Ambiente ! "Na verdade, de todas as vezes, não há nenhuma prova formal", disse José Manuel Fernandes. Mas nada é verdadeiramente claro quanto a ele. "

Jovem lobo. Enérgico e carismático, com uma ousadia que eletrizou uma rígida política, José Sócrates também emerge como um líder intransigente, autoritário e irrascível, cuja ambição ardente irrita muitos. "A sua formação é a de um jovem lobo, sem ideologia, oportunista, um puro produto do “aparelho”, que subiu a escada de cabeça fria, assim o descreve Fernando Rosas, historiador e membro do Bloco de Esquerda. “Ele sempre esteve numa borderline. E os seus acessos de autoritarismo renderam-lhe uma imagem deplorável nos média que não são gentis com ele." Sócrates levou bem deles: vários jornalistas estrelas de TV (Mário Crespo, Manuela Guedes ...) denunciaram a "censura " exercida sobre eles pelo Primeiro-Ministro. Uma Comissão de Ética foi criado em janeiro, para esclarecer a questão. "Um dos grandes problemas de Sócrates é que ele perdeu o apoio das elites, segundo a análise de José Manuel Fernandes, o ex-chefe do Público. “Ninguém mais tem confiança nele, toda a gente tem medo de ser enganado por esta personagem conflituosa e ambígua."

Num harém político dominado por doutores, este socialista sem título prestigioso, irrita e rompe com o status quo. À maneira de um Sarkozy Português, Sócrates é um cavador, um comunicador zeloso que fagocitou o seu partido e personalizou até ao extremo o exercício do poder. Outras semelhanças: ele não tem medo de esculpir no vazio, suporta mal as críticas, perde facilmente o controle dos nervos e cultiva a permeabilidade entre política e negócios - como Jorge Coelho, um dos seus próximos, ex-ministro Socialista que entrou com a sua bênção no conselho de administração da construtora Mota-Engil.

À força de brincar com o fogo, José Sócrates encontra-se em terreno movediço, seis meses após sua difícil reeleição (uma pequena maioria no Parlamento) embora o seu índice de popularidade não pare de cair alegremente? "A priori, todos os elementos o oprimem, diz Ricardo Costa, director do semanário Expresso. Felizmente para ele, as circunstâncias protegem-no." O consenso geral, o Presidente da República, Cavaco Silva, mentor do grande partido de direita (PSD), não está interessado em convocar eleições antecipadas. Por razões de estabilidade institucional, e também porque uma votação de hoje certamente não muda muito a situação. Até janeiro de 2011, data das presidenciais, Sócrates não vai arriscar a sua pele. A menos, claro, que a comissão parlamentar de inquérito, que abre hoje, exija a sua demissão.

Sacrifícios. Mesmo que permaneça no lugar, todos lhe prognosticam um caminho da cruz até o final de 2010. Após ter concedido generosidades sociais, Sócrates irá ter que aplicar desde já o plano de austeridade ditado por Bruxelas por meio de cortes nos gastos sociais (saúde, subsídio de desemprego, os subsídios, o acesso ao RMN ...). "Durante dez anos, o poder exigiu que o Português fizesse sacrifícios", diz Manuel Villaverde Cabral, o politólogo. Eu não acredito que iremos suportar isto por muito mais tempo."

José Sócrates, preso entre a bigorna social e o martelo financeiro? "Ele tem as mãos e pés atados", acrescentou José Manuel Fernandes. O modelo industrial Português, velho de cinquenta anos, está muribundo, e nada o substitui. O país produz entre 30 e 40% do que consome. A margem de manobra de Sócrates é muito baixa."

Será que ele se vai recuperar? Ricardo Costa, do Expresso, e outros observadores estão convencidos: "Este tipo tem mais vidas que um gato. É muito duro, muito resistente, ele sabe encaixar os pregos. Um verdadeiro monstro político que põe as suas garras para fora quando está mais fraco ".
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E pelos vistos o "Liberation" ter-se-á esquecido que os tais 150.000 postos de trabalho foram convertidos em cerca de 600.000 postos de DESEMPREGO...
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