Na semana passada ocorreu um inclassificável golpe terrorista contra o povo português. Não meteu explosivos, nem armas, nem aparatos de rua. Limitou-se a um discurso do chefe do governo difundido antes de um desafio de futebol. Esse discurso anunciava a condenação, por via fiscal, à fome, à doença, ao desespero, ao aviltamento de milhões de pessoas por perversão de governantes sem um pingo de decência. A intervenção, lida de lábios cerrados, não disfarçava ressabiamentos, provocações, vinganças – lembrando as de apaniguados de Sócrates a avisar que quem se metesse com eles, levava.
Ora quem se meteu a sério com o governo não foram as oposições, foi o Tribunal Constitucional e a troika, ao atribuir a situação portuguesa à sua (in)competência. Repreendidos e traídos, os boys de São Bento entraram de congeminar vingança. Se em relação aos patrões (externos) fingiram não perceber a acusação, em relação aos opositores (internos), não – daí a desforra: afrontaram o TC, alfinetaram o PR, enxovalharam os partidos, rapinaram os trabalhadores, declararam lixo os reformados e pensionistas, tratando todos como débeis mentais.
Muito poucas vezes se viu tanta insensibilidade, arrogância, hipocrisia, mentira juntas! “Lavra no país um grande incêndio de ressentimento e ódio”, afirma (em carta aberta ao primeiro-ministro) o escritor Eugénio Lisboa que, dos seus 82 anos, lhe grita: “Todo o vosso comportamento não convida à esperança!” Às 19h20 da última sexta-feira, Passos começou a perder Portugal.
(Por Fernando Dacosta, publicado no "I" em 13 Set 2012)
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1 comentário:
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