terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Este povo não presta!...

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Esta "raça abjecta", congenitamente incapaz, de que falava Oliveira Martins.  Este povo cretinizado, obtuso, que se arrasta submisso, sem um lamento, sem um queixume, sem um gesto de insubmissão, tão pouco de indignação e muito menos de revolta.  Um povo que se deixa conduzir passivamente por mentirosos compulsivos como Sócrates ou Passos Coelho ou por inutilidades ignorantes como Cavaco Silva, não merece mais que um gesto de comiseração e de desdém.  É vê-los nas televisões, por exemplo, filas e filas de gente acomodada, cabisbaixa, servil e absurdamente resignada, a pagar as estradas que a charlatanice dos políticos tinha jurado "que se pagavam a si mesmas"!

Sem qualquer tipo de pejo e com indisfarçável escárnio, o Estado obriga-os a longas filas de espera para conseguirem comprar e pagar o aparelho que lhes vai possibilitar a única forma de pagar as portagens que essa corja de aldrabões, agora no poder, se lembrou de inventar!  E eles passam a noite inteira à espera, se preciso for.  E lá vão depois, bovinamente, de chapéu na mão, a mendigar a senha redentora que lhes dará o "privilégio de serem esbulhados electrónica e quotidianamente pelo Estado”. 
Um povo assim não presta, não passa de uma amálgama amorfa de cobardes.  Porque, se esta gentinha "os tivesse no sítio" recusar-se-ia massivamente a pagar as portagens.  E isso seria o suficiente para que os planos governamentais ruíssem como um castelo de cartas.

Mas não.  Esta gente come e cala.  Leva porrada e agradece.  E a escumalha de medíocres que detém o poder, rejubila e escarnece desta populaça amodorrada e crassa que paga o que eles quiserem, quando e como eles o definirem.  Sem um espirro de protesto, sem um acto de revolta violenta, se preciso for. 
Pelo contrário, paga tudo.  Paga para tudo.  Sem rebuço, dóceis, de chapéu na mão, agradecidos e reverentes, como o poder tanto gosta.  E demonstram-no publicamente, disso fazendo gala.  Como eu vi, envergonhado, a imagem de um homenzinho ostentando um sorriso desdentado, exibindo perante as câmaras da TV o aparelhinho que acabara de pagar, como se tivesse ganho uma medalha olímpica.

Esta multidão anestesiada espelha claramente o pais que somos e que, irremediavelmente, continuaremos a ser - um pais estúpido, pequeno e desgraçado.  O "sítio" de que falava Eça, a "piolheira" a que se referia o rei D. Carlos.  "Governado" pelas palavras "sábias" de Alípio Severo, o Conde de Abranhos, essa extraordinariamente actual criação queirosiana, que reflecte bem o segredo das democracias constitucionais. 
Dizia o Conde: "Eu, que sou governo, fraco mas hábil, dou aparentemente a soberania ao povo.  Mas como a falta de educação o mantém na imbecilidade e o adormecimento da consciência o amolece na indiferença, faço-o exercer essa soberania em meu proveito...”

Nem mais.  Eis aqui o segredo da governação.  A ilustração perfeita com que o rei D. Carlos nos definia há mais de um século:  "Um país de bananas governado por sacanas".  Ontem como hoje.  O verdadeiro esplendor de Portugal.


(Luis Manuel Cunha, Professor – in Jornal de Barcelos de 27/10/2010)

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