“E ainda há quem lhe estenda a mão. E ainda há quem duvide que ele não vale nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!” Tudo isto, que dizia, no seu famoso manifesto, um indignado Almada Negreiros acerca de Júlio Dantas, digo eu, com muito menos exagero, de Alberto João Jardim.
Há 30 anos que o país lhe estende a mão. E lhe perdoa as dívidas, se ri das suas alarvices, tontices e má-criações. Há 30 anos que o PSD ou assobia para o lado ou defende a obra, como se a obra de quem não olha a meios como ele fosse sequer considerável por quem tem um mínimo de decência! Há 30 anos que o PS vive entre os arrufos do défice democrático, que é a pura verdade sobre a Madeira, e o perdão da dívida com que o Governo Guterres o brindou. Há 30 anos que sucessivos Presidentes da República fazem de conta que não percebem - e este Presidente em concreto, o sério e ponderado professor Cavaco, indigna-se, e bem, com o Estatuto dos Açores, mas não se indigna, e mal, com o estafermo da Madeira! Há 30 anos que tribunais, juízes e magistrados (parece que o Tribunal de Contas foi excepção) fazem de conta que não sabem que o homem é um caso de polícia. Há 30 anos que o povo deste país acha que a democracia e o voto lavam as vergonhas dos políticos.
Não foi assim com Isaltino Morais, nem com Fátima Felgueiras, nem com Valentim Loureiro. E por bastante menos! Jardim, além de esconder verbas, goza com o país quando o país menos está para brincadeiras.
Se Passos quisesse fazer algo de sério e grandioso por Portugal, pedia a Jardim que se retirasse. Dizia a verdade que todos sabemos que o melhor seria Jardim não voltar a ganhar eleições. O país está acima dos partidos e ter votos não é ter razão, nem coragem, nem virtudes. Passos poderia perder a Madeira ganhando o país. Mas vai fazer como os outros? - Irá?
(Henrique Monteiro, Expresso 24/10/2011)
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